Antes de nascer, bebê de Canoas passa por cirurgia em São Paulo para corrigir malformação

Antes de nascer, bebê de Canoas passa por cirurgia em São Paulo para corrigir malformação

Rede de solidariedade foi criada para auxiliar os pais nas despesas com a viagem

Raphaela Suzin

Gilberto Bica e Taís Pérola aguardam o nascimento do pequeno Kayron

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Ainda na barriga da mãe, o pequeno Kayron, de Canoas, na região Metropolitana, já luta pela vida. Ele foi diagnosticado com Mielomeningocele, quando a medula espinhal do bebê fica exposta, e precisou passar por uma cirurgia. Contudo, a malformação foi diagnosticada na 24ª semana de gestação, e o procedimento intrauterino só pode ser feito até a 26ª e em São Paulo. Começou então uma rede de solidariedade e uma corrida contra o tempo.

Da confirmação do diagnóstico – que atinge uma a cada 1 mil gestações - até a primeira consulta no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), os pais de Kayron, Gilberto Bica e Taís Kiana, tiveram apenas dez dias para se organizar. E só conseguiram ir até a cidade paulista com a ajuda dos amigos e familiares. Para isso, uma campanha na internet foi criada para arrecadar dinheiro para que eles pudessem permanecer em São Paulo durante o tratamento do bebê. O valor total ainda não foi arrecadado, mas o casal segue confiante.

“Se hoje estamos em São Paulo e o meu bebê está tendo a oportunidade deste tratamento, é por causa da ajuda e apoio que recebemos. De outra forma, não teríamos como estar aqui”, ressaltou Gilberto. Ele está ficando em uma pensão, enquanto Taís está internada.

No dia 21 de junho, eles tiveram a primeira consulta no Hospital da USP e, no dia 26, Kayron passou pela cirurgia que foi realizada por obstetras especialistas em medicina fetal e por um neurocirurgião pediátrico. A cirurgia e as consultas estão sendo feitas através do Sistema Único de Saúde (SUS). “Segundo os médicos a cirurgia foi bem-sucedida”, comemorou Gilberto.

A médica que acompanha Taís desde o início do pré-natal, Mariana Barth, de Canoas, explica que em procedimentos intrauterinos um corte é feito no mesmo local da cirurgia cesariana e o útero é exposto, para que a cirurgia seja então realizada. “Somente 20% das crianças que são tratadas cirurgicamente após o nascimento conseguem caminhar sem ajuda de aparelhos, como muleta. Esse número dobra, chegando a 40%, quando esse tratamento é realizado antes do nascimento”, explicou.

A previsão é que Taís receba alta do hospital nesta terça-feira. Contudo, ela precisa permanecer em São Paulo, para acompanhamento até que o pequeno Kayron nasça. O parto está previsto para acontecer em setembro. Depois disso, o bebê precisa ter liberação médica para viajar até Canoas. Durante esse tempo, eles devem permanecer na pensão que Gilberto está. “É um local de fácil acesso ao hospital, conforme os médicos nos orientaram”, explicou o pai de Kayron.

Amor que nasceu na escola de samba

O casal está junto há quatro anos e moram no bairro Mathias Velho, em Canoas. Eles se conheceram na quadra de ensaios da Imperadores do Samba, onde pretendem voltar a frequentar, após toda essa luta. Porém, querem ir em trio, acompanhados com o pequeno Kayron. A paixão pela escola de samba foi demonstrada no chá de fraldas, que teve a decoração com as cores e símbolo da Imperadores.

A doença

A Mielomeningocele é uma malformação que surge no período embrionário. Quando o bebê está começando a se formar, não ocorre o fechamento completo da medula espinhal pelas vértebras e pele, ou seja, a medula fica exposta. De acordo Mariana Barth, a doença expõe a medula e as raízes nervosas ao líquido amniótico que banha o bebê. “A malformação na coluna provoca aumento do líquido cefalorraquidiano dentro da cabeça do bebê, causando a hidrocefalia (acúmulo de líquidos nas cavidades internas do cérebro)”.

Diagnóstico

O diagnóstico da mielomeningocele pode ser feito durante a ecografia morfológica do 1º trimestre, entre a 11ª e 14ª semanas de gestação e pode ser confirmado na ecografia morfológica do 2º trimestre, entre 20 e 24 semanas de idade gestacional. Foi neste período que Taís e Gilberto descobriram a doença no pequeno Kayron.

Tratamento

O tratamento é sempre cirúrgico. Atualmente, a preferência é fazer o procedimento antes do nascimento, ainda durante a gestação. Assim, diminui o tempo de exposição da medula e das raízes nervosas ao líquido amniótico. “Após estudos, ficou comprovado que fetos que são submetidos à cirurgia para correção da mielomeningocele apresentam menos sequelas neurológicas do que aqueles submetidos a essa correção após o parto”, explicou Marina.

A maioria dos casos de Mielomeningoceles ocorre de forma aleatória. Entretanto, a médica ressalta a importância de orientar a todas as mulheres em idade reprodutiva que programem a gestação e realizem uma consulta pré-concepcional com seu ginecologista. “Isso porque o uso de ácido fólico preventivamente, iniciado 3 meses antes da concepção e mantido por pelo menos 3 meses durante a gestação, contribui para reduzir a ocorrência e a recorrência da mielomeningocele”, ressaltou.

Para ajudar

Quem quiser ajudar o Kayron a vencer essa luta pode colaborar financeiramente através da campanha na internet, realizada através do site Vakinha


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