Após protesto, direção do Anchieta irá estudar proposta do uso de shortinho

Após protesto, direção do Anchieta irá estudar proposta do uso de shortinho

Meninas realizaram uma manifestação nesta tarde

Louisiane Cardoso

Estudantes foram ao colégio nesta quarta-feira com shortinhos e mensagens de protesto

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Um abaixo-assinado, criado por alunas do Colégio Anchieta de Porto Alegre, traz um protesto contra a proibição do uso de shorts na instituição. O texto “Vai Ter Shortinho Sim” pede que a direção da escola deixe para trás o “machismo e a sexualização”, e ensine aos demais alunos a respeitar as partes normais do corpo feminino.

O documento cita o caso envolvendo uma menina que teria sido obrigada a trocar de roupa ou voltar para casa por causa do shorts ser “muito curto”. Até o final da tarde desta quarta-feira, o abaixo-assinado tinha mais de 7 mil assinaturas.

“Nós, alunas dos ensinos Fundamental e Médio do Colégio Anchieta de Porto Alegre, fazemos uma exigência urgente à direção. Exigimos que a instituição deixe no passado o machismo, a objetificação e sexualização dos corpos das alunas; exigimos que deixe no passado a mentalidade de que cabe às mulheres a prevenção de assédios, abusos e estupros; exigimos que, ao invés de ditar o que as meninas podem vestir, ditem o respeito”, diz a nota.

Para as jovens, regras de vestuário reforçam a ideia de que meninas têm que “se cobrir” porque garotos serão garotos; reforçam a ideia de que assediar é da natureza do homem e que é responsabilidade das mulheres evitar esse tipo de humilhação.

“Ao invés de humilhar meninas por usar shorts em climas quentes, ensine estudantes e professores homens a não sexualizar partes normais do corpo feminino. Nós somos adolescentes de 13 a 17 anos. Se você está sexualizando o nosso corpo, você é o problema”, continua o texto.

As alunas salientam que a educação social e política não podem ser deixadas de lado. “É por meio dela que construiremos uma geração melhor que a anterior; é por meio dela que criaremos um mundo onde mulheres não serão julgadas e humilhadas pelas roupas que escolhem vestir”, escrevem. Nós, alunas dos ensinos Fundamental e Médio do Colégio Anchieta, nos recusamos a obedecer a regras que reforçam e perpetuam o machismo, a cultura do estupro e slut shaming”, conclui o texto do “Vai Ter Shortinho Sim”.

Após recolherem mais de 7 mil assinaturas no abaixo-assinado “Vai Ter Shortinho Sim”, o movimento não obteve resposta da direção depois da reunião que ocorreu na tarde de ontem. Segundo a nota compartilhada na página do Facebook da campanha, uma das meninas que esteve presente no encontro, “o diálogo foi bem produtivo”, mas que não houve prazo ainda para respostas. “Nós garantimos que permaneceremos protestando até conseguirmos um resultado positivo”, prometeu Bianca Finamor. Conforme ela, as meninas não pretendem envolver os pais na discussão, pois é uma luta delas particularmente. Durante a tarde, as estudantes se reuniram para uma manifestação pacífica com placas como “Machismo não decide a minha roupa”, e claro, usando shortinho.

Escola quer dialogar

O Colégio Anchieta divulgou nota oficial sobre a manifestação: “A assessoria de comunicação esclarece que o Colégio Anchieta está acompanhando a reivindicação dos alunos de trazerem para discussão temas da atualidade presentes no contexto educativo e social. Por isso, reitera que está dialogando com a comunidade anchietana (alunos, pais, professores, funcionários) sobre as questões em pauta, de acordo com seus princípios e valores bem como seu modo de ser e proceder”.

O manifesto on-line foi criado por duas alunas do Ensino Fundamental. Uma das participantes do movimento, Bianca Finamor, de 16 anos, disse que inicialmente 12 estudantes se uniram para levar adiante o protesto. “Os meninos teriam permissão de usar bermuda de surfe, mas shorts feminino é considerado pela direção roupa de praia, não de escola”, destacou Bianca. Durante a tarde, um grupo de estudantes vestiu shorts para manifestar apoio ao grupo.

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