Após quatro meses do 1º caso de Covid-19, Porto Alegre entra em nova fase de restrições

Após quatro meses do 1º caso de Covid-19, Porto Alegre entra em nova fase de restrições

Novas medidas, conforme reforçou o prefeito Nelson Marchezan Júnior, são necessárias para tentar frear a velocidade de contágio do novo coronavírus

Jessica Hübler

Porto Alegre já soma 140 mortes pela Covid-19

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Quatro meses se passaram desde o registro oficial do primeiro caso da Covid-19 em Porto Alegre, em 8 de março. Durante esse período, muitas ações de isolamento foram implantadas. A primeira morte ocorreu em 24 de março. Entre os dias 1º e 8 de julho, foram registradas 43 mortes por conta do novo coronavírus na Capital. Até o final da tarde desta quarta-feira, a Capital contabilizava 140 óbitos em decorrência da doença, além de 4.140 casos confirmados, 7.384 casos em análise e 2.381 recuperados. 

Com a rápida implantação das medidas de distanciamento ainda em março, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ressaltou que a Capital teve tempo de ampliar o número de leitos e preparar o sistema de saúde para o combate à pandemia. Porém, a partir das liberações de algumas atividades econômicas e consequente aumento da circulação de pessoas na cidade, desde o final de maio, o cenário mudou consideravelmente.

Por conta disso, Porto Alegre vive agora uma nova fase de restrições. Um novo decreto da Prefeitura de Porto Alegre determinou o fechamento de diversos estabelecimentos, novamente, e inclusive o bloqueio de estacionamento da Área Azul, além de suspensão no uso dos cartões de vale-transporte para trabalhadores de serviços não essenciais.

Restrições 

As novas medidas, conforme reforçou o prefeito Nelson Marchezan Júnior, são necessárias para tentar frear a velocidade de contágio do novo coronavírus. O doutor de Epidemiologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Paulo Petry, disse que enxerga as novas restrições como positivas, mas acredita que elas poderão seguir por mais tempo.

“Acho que será necessário analisar o resultado disso, mas imagino que ela deve ser renovada por pelo menos mais 15 dias. Devemos enfrentar pelo menos julho e meados de agosto com restrições para tentar evitar a proliferação do vírus”, afirmou. No entendimento de Petry, 15 dias vai ser pouco. “Acho que vai se renovar, infelizmente”, declarou.

O crescimento no número de óbitos no último mês foi de 204,44%, passando de 45 para 140. Já com relação ao número de casos confirmados, o aumento registrado no mesmo período foi de 141,82%, passando de 1.712 para 4.140.

“São reflexos que começamos a observar quando começou o relaxamento do distanciamento, há um mal comportamento de boa parcela da população, a gente vê festas até clandestinas, com pessoas sem cuidados, vemos orla do Guaíba lotada, o prefeito tentou não fechar, foi até criticado por isso e se viu obrigado a tomar medidas mais restritivas, porque por uma parcela da população não há colaboração”, descreveu Petry.

Liberações   

O aumento significativo do último mês está relacionado às liberações que começaram a ocorrer no final de maio. “Existe uma correlação cristalina entre o relaxamento e o aumento nos números de casos, internações e óbitos, e ela demora em torno de duas semanas para fazer efeito. Se pegarmos o decreto que relaxou, vai aparecer. E foi o que aconteceu. Isso é internacional: fechou, diminui. Abriu, aumenta”, assinalou. O processo de liberação, de acordo com Petry, foi precipitado e ocorreu em função de muitas pressões, em um momento inadequado. 

Ao longo dos últimos quatro meses algumas fases foram vividas na Capital. Num primeiro momento, segundo Petry, a ideia e o alerta maior era a realização de um programa de distanciamento no sentido de dar tempo para que o sistema de saúde se preparasse, então se falava muito em termos como “achatar a curva” para que não houvesse um colapso ou uma sobrecarga importante, como aconteceu em outros países.

“Mas as coisas começaram a se estender e acredito que houve um cansaço da população, houve uma negação de outras tantas em relação ao vírus, houve também a pressão econômica, dos setores produtivos afetados como um todo, e aí se fizeram alguns processos de liberação”, lembrou.

Circulação do vírus 

Todos esses fatores, de acordo com Petry, se somaram e o vírus voltou a circular com força. “Aquela falsa sensação de controle que tivemos na verdade era falsa, porque voltou e aí começou a aumentar. Esse vírus ele é altamente transmissível, ninguém esperava isso, nós não conhecíamos esse tipo de vírus, nunca tínhamos vivido uma situação como essa e acho que perdemos o bonde lá no primeiro momento quando as pessoas voltavam de viagens no exterior”, comentou. 

Como não eram feitos testes nas pessoas que chegavam de viagem, não foi possível seguir a máxima da Epidemiologia que é “testar e rastrear os contactantes do caso positivado”. “Não fizemos isso no começo, não tínhamos testes e nem sabíamos direito, mas não se fez, então o vírus se alastrou. Depois que ele se tornou comunitário, ficou impossível dizer de onde as pessoas pegavam, então ali foi o nosso grande erro, naquele momento”, definiu. 

Apesar de os números estarem em uma crescente e a situação está preocupante, o cenário poderia ser pior. “Fizemos um bom controle no começo, conseguimos dar o tempo que o sistema precisava, há de se reconhecer que houve aumento de leitos, agora estamos enfrentando problemas de insumos, de medicamentos, toda essa logística começa a ser perigosa, falta anestésico para entubação, os EPIs, estamos enfrentando um problema dessa logística de material”, comentou.


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