Arquiteto ressalta importância da acessibilidade no transporte

Arquiteto ressalta importância da acessibilidade no transporte

Segundo IBGE, Brasil tem 12,7 milhões de pessoas com alguma deficiência e 55 milhões de idosos

Cíntia Marchi

Arquiteto ressalta importância da acessibilidade no transporte

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O arquiteto Mario Cezar da Silveira, especialista em acessibilidade e desenho universal, diz que mobilidade têm a ver com acessibilidade. Para ele, é preciso que o Brasil pense urgentemente nisso uma vez que possui 12,7 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência (auditiva, visual, física e intelectual) e que, em 2040, o IBGE estima população de 55 milhões de idosos. “Não tem lógica discutir só agora a acessibilidade, já que a diversidade humana é infinita desde sempre. Infelizmente, as cidades se construíram em cima de paradigmas”, avalia o profissional que mora em Joinville, Santa Catarina, e integrou a revisão e a elaboração de várias normas de acessibilidade da ABNT. 

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Mesmo existindo leis federais que dão conta da acessibilidade, o especialista diz que até o momento elas não evoluíram para a prática. Para ele, isso vai acontecer quando os políticos entenderem que proporcionar acessibilidade aos cidadãos renderá votos. Mas Silveira também cobra mais atitude das pessoas. “O poder público tem que receber críticas da sociedade. Temos que cobrar a nossa sobrevivência”.

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Para o especialista, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, de julho de 2015, deverá forçar uma melhora. O gestor público poderá responder por improbidade administrativa se não elaborar planos de rotas acessíveis e seguras para as pessoas se locomoverem com segurança nos espaços públicos, bem como em locais de prestação de serviços públicos e privados de saúde, educação, cultura, correios e bancos. “Se o gestor vai fazer isso em parceria com os proprietários, com as empresas, não interessa, mas ele é o responsável por fazer isso. É um processo novo que vai se instalar”, acrescenta. “A acessibilidade tem que ser entendida como um valor para a nossa vida. Acessibilidade é enxergar as pessoas e todas as suas possibilidades”, complementa o arquiteto.

Atleta da paracanoagem, o paulista Fernando Fernandes teve que reaprender a se locomover pelas cidades depois de ter se acidentado aos 29 anos. “O meu plano A era voltar a andar, mas tive que traçar o plano B que passou a ser a reabilitação por meio do esporte.” Na opinião de Fernandes, os brasileiros encaram a cadeira de rodas como um símbolo de incapacidade. “Por existir esse preconceito, achei que eu tinha que mudar essa mentalidade e comecei a fazer o que eu fazia antes da deficiência, como saltar de paraquedas, andar de motocross. Eu queria deixar impacto visual na sociedade”, conta. De modo geral, o atleta avalia que a acessibilidade nas cidades é subdesenvolvida, citando o Rio de Janeiro como uma das mais precárias, apesar de ser a sede das Paralimpíadas em 2016. “Minha cabeça é livre, mas meu caminho não é livre. Acessibilidade é questão de planejamento e organização”, diz.

Biomob

A tecnologia tem ajudado os cidadãos a pressionar por uma mudança positiva em mobilidade e acessibilidade. Um aplicativo criado em São Paulo, chamado Biomob, reúne informações sobre locais públicos e estabelecimentos comerciais acessíveis. O aplicativo detecta a localização do usuário e sugere lugares próximos que atendam as necessidades específicas dele. O download do Biomob é gratuito e qualquer pessoa pode avaliar os lugares que frequenta.

Segundo o fundador do aplicativo, Rodrigo Credidio, o Biomob, cuja criação tem apoio do medicamento Advil, se baseia em normas técnicas para avaliar os locais. A ideia é que, quanto mais colaboradores o aplicativo engajar, mais locais, em todo o país, poderão ser avaliados. “O mais bacana é que nosso projeto é interativo e colaborativo. O próprio usuário pode fazer e compartilhar sua própria avaliação ou um empresário pode solicitar orientações de como melhorar a acessibilidade no seu estabelecimento”, explica Credidio. O usuário pode analisar dando notas por exemplo, para a qualidade da calçada, as condições do acesso ao local, vagas reservadas a idosos e pessoas com deficiência, área de circulação, sinalizações e adaptações de banheiros.


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