Casos de Covid-19 em Porto Alegre aumentam 153% em um mês

Casos de Covid-19 em Porto Alegre aumentam 153% em um mês

Doença avançou de 488, no dia 30 de abril, para 1.236 casos confirmados, no dia 31 de maio

Jessica Hübler

A ampliação expressiva dos dois indicadores coincide com a sequência de flexibilizações feitas pela Prefeitura

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O número de casos confirmados da Covid-19 em Porto Alegre registrou um aumento de 153,27% no último mês, entre os dias 30 de abril e 31 de maio, os dados dispararam de 488 para 1.236 e o número de óbitos aumentou 140%, de 15 saltou para 36, no mesmo período. A ampliação expressiva dos dois indicadores coincide com a sequência de flexibilizações feitas pela Prefeitura, que tiveram início no dia 23 de abril com a liberação das atividades da indústria e da construção civil. A liberação das atividades influencia diretamente no fluxo de pessoas na cidade.

A partir de 5 de maio, foi ampliado o número de atividades que voltaram a funcionar na Capital. Além de autônomos, profissionais liberais, microempreendedores individuais e microempresas, também foram permitidas atividades físicas em academias, de forma individual. Foi permitida também a reabertura de serviços de advocacia, consultoria e contabilidade e conselhos de fiscalização profissionais. Na prática, isso significou que cerca de 147 mil pessoas estavam aptas a voltar aos postos de trabalho.

Duas semanas depois, no dia 19 de maio, a Prefeitura publicou um decreto autorizando a retomada de atividades em bares, restaurantes, shopping centers, museus e bibliotecas, a partir de 20 de maio. Os estabelecimentos, conforme prevê o documento, podem receber até 50% da capacidade de ocupação segundo o PPCI de cada lugar e deverão cumprir normas de higienização. No decreto municipal ainda consta que deverá ser respeitado o distanciamento de dois metros entre as pessoas nos locais e a empresa deve fornecer máscaras para que funcionários utilizem transporte coletivo.

Com relação ao aumento expressivo no número de casos e óbitos, o secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Natan Katz, informou que é natural que isso esteja acontecendo. “Não se espera nada de diferente, temos um aumento da transmissão do vírus ainda na cidade, é normal que ele tenha uma taxa de transmissão elevada, que cada vez a gente tenha mais casos no mês seguinte em relação ao mês anterior, se não fosse assim a gente ia ficar anos convivendo com o novo coronavírus, se tivéssemos uma taxa muito baixa de transmissão”, afirmou.

Conforme Katz, em Porto Alegre a curva de casos e de óbitos está subindo, mas ela foi achatada. “É esperado que o número de casos e óbitos aumentem, não esperamos nesse momento zerar a quantidade de casos aqui em Porto Alegre. Não é o esperado para essa epidemia, não achamos que é factível fazermos um controle total da infecção, porque isso significaria cessar o movimento entre as cidades e as pessoas”, reiterou.

Todas as ações da Secretaria Municipal de Saúde e da Prefeitura, de acordo com Katz, são feitas seguindo a ideia de que as pessoas não podem ficar sem assistência quando pegarem a Covid-19. “A maior parte das pessoas terá casos leves, poderão resolver toda a situação em casa, não vão precisar internar. Uma parte será de casos moderados a graves e uma parcela terá que internar e outra parte terá problemas críticos e precisará de leito de UTI e até pode vir a óbito. A ideia é que essas pessoas não fiquem sem atendimento adequado”, enfatizou.

O aumento de casos, segundo Katz, além de ser um comportamento natural de uma doença infecciosa respiratória, também está diretamente ligado ao fato de que desde o final do mês de abril a Prefeitura ampliou a testagem. “Então se não tivéssemos um número maior de casos, seria um problema, alguma coisa estaria errada”, afirmou. No dia 6 de maio a Prefeitura começou a realizar teste em todos os pacientes que têm sintomas semelhantes aos do novo coronavírus.

“Todo mundo que tem sintomas compatíveis com o novo coronavírus é testado. O teste realizado depende do tempo e do início dos sintomas. Até 7 dias farão o RT-PCR, com a coleta da secreção respiratória ou nas tendas ou nos laboratórios contratados para isso. Se for mais de 7 dias, aí vão coletar o teste rápido, é na nossa rede de laboratórios, temos mais de 20 pontos de coleta que fazem esse processamento do teste rápido”, declarou, reforçando que a intenção é ampliar ainda mais a testagem.

Sobre as flexibilizações, Katz afirmou que as liberações estão sendo feitas gradualmente para que as equipes da saúde consigam avaliar os impactos de cada reabertura, principalmente sobre as UTIs. “São duas coisas combinadas e planejadas, a flexibilização e a ampliação da testagem. Temos monitorado a UTI, esse é o nosso grande indicador, e estamos observando que o crescimento no número de internações está super estável”, declarou. Ainda segundo Katz, o efeito de qualquer flexibilização demora 14 dias, em média, para começar. “Então as reaberturas do dia 20, vamos esperar que agora, a partir do dia 3, esse reflexo possa aparecer nas nossas UTIs”, disse.

Até o momento, segundo Katuz, os reflexos das flexibilizações estão dentro do esperado. “Nossa impressão é de que a política tem sido acertada”, definiu, reforçando que em nenhum momento a SMS viu um risco aumentado de ter um colapso do sistema de saúde. “É isso que a gente tem tentado evitar. Esperamos que aumente o número de casos, achamos que isso faz parte, as pessoas vão tendo contato e vão pegando imunidade, mas não aceitamos ficar sem condições para dar suporte adequado para quem precisar”, ressaltou.


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