Chile celebra contenção da pandemia e projeta próximos passos com cautela

Chile celebra contenção da pandemia e projeta próximos passos com cautela

Covid-19 no país chileno atingiu, até o momento, mais de 16.000 casos e 230 mortos

AFP

Números são animadores, mas especialistas alertam que ainda é cedo para declarar vitória

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O Chile celebra com cautela ao atingir o "platô" de contágios por coronavírus no período que previa um pico da pandemia. O surto foi contido com quarentenas "seletivas" e um grande número de testes que colocou o país entre as maiores taxas de detecção da América Latina.

Iniciando a nona semana desde que o primeiro caso foi registrado, o Chile registra mais de 16.000 casos e 230 mortos, abaixo das previsões que indicavam milhares de infectados na data que coincide com o início do outono.

"Estamos em um novo estágio. Houve um período crescente (de infecções), hoje estamos em um platô com altos e baixos e esperamos que na próxima fase o número de pacientes ativos comece a diminuir", disse o presidente Sebastián Piñera nesta semana.

Os números são animadores, mas especialistas alertam que ainda é cedo para declarar vitória, especialmente porque o vírus está se disseminando nas regiões mais pobres e mais populosas de Santiago. O sistema de saúde local tende a entrar em colapso no inverno (principalmente junho e julho)por doenças respiratórias.

A estratégia do Chile

O Chile foi um dos primeiros países da América Latina a decretar emergência sanitária pelo novo coronavírus em 7 de fevereiro. A medida possibilitou a compra de insumos como testes, respiradores e leitos de terapia intensiva, além de centralizar o sistema de saúde.

Em uma decisão inicialmente rejeitada pela população, foram decretadas quarentenas seletivas por municípios e ou províncias.

Entre as medidas tomadas na segunda quinzena de março, quando havia menos de 100 casos e nenhuma morte, estão: fechamento de fronteiras , toque de recolher noturno, suspensão das aulas, distanciamento social, shopping centers fechados e eventos públicos cancelados.

Quando as imagens e números da Itália e da Espanha chocaram o mundo em meados de março, o Chile aumentou sua capacidade de testes, que hoje o coloca como um dos países que mais realiza exames por milhão de habitantes na América Latina, com mais de 180.500 testes PCR no total até esta quinta-feira. O número, no entanto, ainda está longe da média da OCDE: 8,1 por 1.000 habitantes em 27 de abril.

Se em fevereiro somente um laboratório processava amostras, hoje são 65, entre públicos e privados. Laboratórios universitários foram convertidos em centros de diagnóstico para aumentar a capacidade. No total, há 21 centros certificados em todo o país, com capacidade máxima para até 3.000 exames por dia.

Porém, para a retomada segura das atividades, o número de exames deve ser ainda maior, uma média de cerca de 5.000 exames por dia. O ministro da Saúde, Jaime Máñalich, anunciou nesta quinta-feira uma mudança no protocolo de contagem de casos que passa a incluir pacientes assintomáticos, o que deve aumentar o número de amostras.

Até agora, apenas pacientes com sintomas foram testados pelo PCR. "Qualquer pessoa que precise de testes será testada", diz o ministro das Ciências, Andrés Couve, garantindo também o fornecimento de reagentes por vários meses após a chegada de uma remessa de 200.000 kits doados por particulares.

Com números controlados, autoridades começam a sinalizar uma retomada às atividades econômicas com a abertura de alguns shoppings e o retorno de funcionários públicos, mas não há previsão de volta às aulas.

"Uma estratégia de retorno seguro é inviável sem aumentar consistentemente o número de exames e até mesmo em pacientes com poucos ou nenhum sintoma, além de incorporar testes nos locais de trabalho ou de risco", disse Juan Carlos Said, médico intensivista e Mestre em Saúde Pública pelo Imperial College London.

Propagação entre as regiões mais pobres

Nas últimas semanas, as infecções diminuíram nas comunidades ricas de Santiago, onde foram registrados os primeiros surtos - após o retorno das férias na Europa -, mas aumentaram em bairros pobres e mais populosos, com quase sete milhões de habitantes.

Para Said, não é o mesmo que administrar um surto em regiões onde vivem as classes mais altas, com acesso a clínicas particulares e uma menor incidência de doenças crônicas que agravam a COVID-19.

"O verdadeiro teste para o Executivo é como a letalidade vai evoluir à medida que a doença se dissemina em regiões de baixa renda e com densidade populacional muito maior", disse o especialista.


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