Cidade chamada Santa Casa

Cidade chamada Santa Casa

Complexo hospitalar completa 214 anos em uma fase de crescimento e expansão

Mauren Xavier

Complexo hospitalar completa 214 anos em uma fase de crescimento e expansão

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Quem passa próximo ao conjunto de hospitais que integram o Complexo da Santa Casa de Porto Alegre, no coração da cidade, pode desconhecer as histórias de superação e luta que ali foram e são vividas diariamente. Uma trajetória que completa 214 anos na próxima quinta-feira e está diretamente ligada à capital gaúcha. É como uma cidade dentro da cidade. Construída há mais de dois séculos no então ponto mais distante de Porto Alegre, a Santa Casa acabou por ser abraçada pelos tentáculos da metrópole, com suas ruas e edificações. Se Porto Alegre evoluiu, a Santa Casa também. Novos prédios, novas tecnologias, novos procedimentos de excelência, sendo muitos inéditos e inovadores, novas vidas e mais esperança, mesmo que nem todas as batalhas sejam vencidas.

Nem as graves crises financeiras da década de 80 e, mais recentemente, de 2014, que quase fizeram tombar a instituição, interromperam os trabalhos de assistência aos mais desprovidos. Ao contrário, os episódios fortaleceram os alicerces e a tornaram mais forte, com o reconhecimento do poder público e da comunidade, permitindo assim projetar investimentos e projetos, como resume o diretor-geral e de Relações Institucionais, Júlio Flávio Dornelles de Matos.

Comparar o complexo hospitalar com uma cidade não é uma mera metáfora. Bastam algumas horas para o comentário fazer todo o sentido. São milhares de pessoas que circulam diariamente pelos corredores e áreas comuns. O fluxo de vai e vem mantém um ritmo pulsante, como um coração. Esse movimento se perde entre os corredores que se mostram um verdadeiro labirinto para alguém que entra distraído, apesar de toda a sinalização. Outros dados dão dimensão da potência do complexo. São sete unidades, onde estão distribuídos 1,1 mil leitos, 280 consultórios, 53 salas cirúrgicas e 10 Unidades de Terapia Intensiva.

Mesmo para quem ali trabalha, se perder não é difícil. E como seria diferente? Só de profissionais que atuam no Complexo são quase 7 mil, sendo a junta formada por 516 médicos contratados e 920 autônomos e mais 3 mil enfermeiros e técnicos de enfermagem. E, como uma cidade, os pacientes são maioria locais, porém, a representação externa é relevante. No ano passado, dos mais de 1 milhão de pacientes atendidos, cerca de 48% vieram do interior do Estado, além dos 2.722 vindos de outros estados.

Cada prédio e ala tem alma própria, que pode ser mais identificada pelos variados sons. Sair do elevador no sexto andar do Hospital da Criança Santo Antônio é ser surpreendida pela risada de uma criança brincando, mesmo tendo presa ao seu rosto um cateter duplo lúmen, por onde recebe o tratamento de um problema renal. O panorama é totalmente diverso no terceiro andar do Dom Vicente Scherer, onde o silêncio impera e as portas ficam trancadas, para proteger os pacientes que passaram pela cirurgia de transplante e que estão na UTI se recuperando. Enquanto isso, nos ambulatórios do Santa Clara, os barulhos são diversos e simultâneos. São pacientes, muitos vindos do Interior, que acabam vencidos pelo sono nas cadeiras de espera, outros que precisam de auxílio para se locomoverem. O barulho alto da campainha gera alerta geral, para saber se chegou o seu momento para o atendimento, enquanto que mais um paciente chega para pedir orientações junto ao balcão de informações. E assim se vai apenas mais uma manhã rotineira nesta cidade que não dorme. Mesmo na madrugada, quando, do lado externo, o silêncio praticamente predomina, nas alas e unidades, o movimento de profissionais e pacientes segue constante.

O “chefe da Casa Civil”

Manter tudo isso funcionando é o desafio do diretor-geral, que há 40 anos vive o dia a dia da instituição. Dando suporte ao provedor Alfredo Guilherme Englert, Júlio Flávio Dornelles de Matos se considera o “chefe da Casa Civil”, comparação ao cargo do braço direito do governador do Estado. Isso porque sua missão é menos mandar e mais gerenciar. Ele explica que, diferente do que se possa imaginar, a Santa Casa não é uma empresa, mas um conjunto de empresas que funcionam simultaneamente. O desafio maior recai sobre as finanças, especialmente quando se trata do SUS. O cálculo é simples. Para cada R$ 100,00 gastos em atendimento, apenas R$ 60,00 são pagos ao hospital. O déficit em 2016, segundo o Fundo Nacional de Saúde, foi de R$ 124,21 milhões relacionado ao SUS. Assim, o diretor diz que é preciso encontrar outras maneiras para suprir essa diferença e garantir a manutenção dos serviços. Entre as alternativas está o apoio da bancada federal, que repassou nos útlimos anos três emendas integrais, doações de empresas e o projeto Pacote Social, que oferece uma série de procedimentos com base no custo efetivo.

Complexo

Complexo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre é formado por sete hospitais, que ocupam o “quarteirão da saúde”, contornado pelas avenidas João Pessoa e Independência e pelas ruas Sarmento Leite e Prof. Annes Dias. Das sete unidades, duas são gerais (adulto e pediátrica) e as outras cinco por especialidades (cardiologia, neurocirurgia, pneumologia, oncologia e transplantes).

Atendimento

Na estrutura, diariamente milhares de pacientes à espera de atendimento. São pessoas vindas da Capital, do Interior e de outros estados, especialmente em busca de atendimento de alta complexidade. Parte dos serviços é realizada dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), como consultas ambulatoriais, que movimentam os consultórios no prédio principal.

Hospital-escola

Um dos eixos da atuação da Santa Casa é a Educação. A instituição é conhecida, desde 1961, como “hospital-escola”, recebendo estudantes da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Em parceria entre a Santa Casa e a Universidade foi inaugurado o Centro de Simulação Realística, focado no treinamento de acadêmicos, residentes, médicos e demais profissionais da Saúde.

Recreação

A decoração e os espaços de recreação são alguns dos elementos que colaboram no tratamento dos pequenos pacientes, que ocupam alas do Hospital da Criança Santo Antônio.

Transplantes

A Santa Casa, por meio do Hospital Dom Vicente Scherer, é a única instituição do país a realizar todos os tipos de transplantes de órgãos e é referência em procedimentos de alta complexidade. A unidade completou 15 anos em 2017 e mantém uma média anual de 400 procedimentos.

Expansão

O Complexo conta com quase 1,1 mil leitos, sendo destes 60% do SUS e 40% particulares e convênios, atendendo um milhão de pessoas por ano. Para dar conta desse volume de serviço, a Santa Casa está em processo de expansão e de qualificação de sua estrutura. Atualmente, entre as obras, está a do hospital São José, especializado em neurologia, com a construção de um novo bloco cirúrgico e uma UTI neurológica. Para 2018, está previsto o início da construção de um novo prédio, em que será erguida uma nova emergência do SUS, passando de 12 para 30 leitos, além de espaço de diálise, bloco cirúrgico, ala de internação com 140 leitos e três centros (homem, idoso e mulher).

Centro cultural

Quem quiser conhecer mais sobre a história da Santa Casa pode visitar o Centro Histórico Cultural. Há uma exposição permanente que reconta a trajetória da instituição, além de arquivo e biblioteca, abertos à comunidade. Informações pelo site www.centrohistoricosantacasa.com.br.

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