Combate ao Aedes aegypti conta com armadilhas e monitoramento em tempo real em Porto Alegre

Combate ao Aedes aegypti conta com armadilhas e monitoramento em tempo real em Porto Alegre

A Capital teve um aumento expressivo de novos casos de dengue nos últimos dez dias, segundo a SMS

Felipe Faleiro

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Emerson Baracy chega em uma bicicleta elétrica a uma empresa no bairro Mario Quintana, zona leste de Porto Alegre. Sua missão é coletar fêmeas do mosquito Aedes aegypti, causador da dengue, zika e chikungunya. Morador da área, Emerson a percorre atrás das armadilhas previamente instaladas – são 910 em 45 bairros da Capital, além de mais seis agentes de monitoramento como ele. O trabalho é realizado há dez anos pela empresa Ecovec, de Minas Gerais, dona da tecnologia de estruturas plásticas, projetadas para que o mosquito seja atraído a elas, e lá fique preso, quando então é coletado e analisado em um laboratório.

A prevalência do inseto identifica se há uma tendência de um surto das doenças na região específica. “A gente sabe exatamente onde estão os focos”, aponta Saulo Campo, supervisor de serviço da Ecovec. De segunda a sexta-feira, os trabalhos são feitos das 8 às 17 horas, e, caso necessário, aos sábados, até o meio-dia. Em uma indústria de chapas metálicas próxima, o encarregado de produção Felipe Martinelli dos Santos disse que a presença da armadilha no local ajudou a empresa a rever alguns conceitos preventivos. “A gente tirou algumas floreiras e outros objetos que poderiam ser criadouros”, conta ele.

Porto Alegre teve um aumento expressivo de novos casos de dengue nos últimos dez dias, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Até a 10ª semana epidemiológica deste ano, 98 casos da doença foram confirmados na Capital. Em 2021, no mesmo período, eram apenas cinco. 95 confirmações em 2022 são de casos autóctones, ou seja, contraídos no município, contra dois no ano passado. Jardim Carvalho e Monte Cristo são os bairros mais afetados neste ano, e, por isso, a Saúde afirma que está intensificando visitas a estas regiões.

A Prefeitura lançou, em fevereiro, um novo site com informações atualizadas em tempo real sobre a infestação do Aedes aegypti. A página funciona em um esquema de cores, dependendo do número de fêmeas capturadas nas armadilhas. “Antes, fazíamos o Levantamento de Índices do Aedes aegypti (LIRAa), apenas de duas a três vezes por ano. Há bastante tempo, monitoramos semanalmente”, observa o diretor da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter. Conforme ele, onde o índice de detecções é alto (cor vermelha no site), os agentes de combate à endemia vão de casa em casa abordando os moradores e identificando possíveis focos.

“Março é um mês em que tendem a aumentar os casos de dengue, zika e chikungunya. Aumenta a circulação de pessoas, há o Carnaval e cresce também a chance de contaminação. Nos preocupa também que, a cada três anos, há um padrão de grande aumento de casos. Foi assim em 2010, 2013, 2016 e 2019. Não deve ser diferente em 2022”, diz o diretor. Outro fator de preocupação, este inédito, segundo ele, é a diminuição das restrições causadas pela pandemia da Covid-19, inclusive porque, durante o isolamento social, a população cuidava mais de seus pátios, eliminando novos focos. Os sintomas clínicos da Covid e da dengue são também parecidos.

“A população se preocupa com os grandes recipientes, mas o grande problema está nos pequenos: pneus, garrafas, entulhos, potinhos de água para animais. Pedimos a colaboração do público para que possamos ingressar nas residências e verificar o local”, afirma Ritter. Ele argumenta que a maior dificuldade de entrada dos agentes é nas regiões nobres ou em edifícios, ou em áreas do Centro onde há prédios residenciais. “São lugares importantes. Às vezes, há imóveis desocupados ou abandonados, e fica muito tempo sem alguém olhar. Temos contato direto também com os administradores dos cemitérios, onde nossa atenção é ainda mais concentrada”.


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