Combate ao coronavírus promove encontro de irmãs que não se conheciam

Combate ao coronavírus promove encontro de irmãs que não se conheciam

Técnicas em Enfermagem eram colegas e trabalhavam no mesmo prédio, no Hospital Cristo Redento

Christian Bueller

Irmãs se conheceram durante treinamento profissional na UTI do GHC

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A pandemia da Covid-19 tem separado incontáveis famílias. Seja de forma momentânea, por conta das restrições impostas pelo distanciamento social, ou definitivamente, devido à força que a doença, que já matou mais de 90 mil brasileiros. No caso de duas profissionais de saúde gaúchas, no entanto, foi o inverso: o combate ao novo coronavírus promoveu o encontro de irmãs que não se conheciam.

Uma série de coincidências uniu as técnicas em Enfermagem Pâmela Rosa Metz, moradora de Porto Alegre, e Priscila Menezes da Rosa, de São Leopoldo, filhas do mesmo pai, mas que não se conheciam. Sem saber, elas eram colegas e trabalhavam no mesmo prédio, no Hospital Cristo Redentor, desde o início da pandemia. Para que não houvesse colapso no atendimento a pacientes em Porto Alegre, o setor de UTI, onde Priscila trabalha, iniciou um treinamento a profissionais de outros andares sobre os procedimentos específicos a pessoas infectados com o vírus. Pâmela, do quarto andar, seria instruída pela irmã, no primeiro. “Ela era espontânea, simpática, me acolheu super bem. Conversamos sobre muitas coisas e entramos no quesito cotas raciais”, lembra a mais nova. “Higienizando o leito de um box, falei que minha mãe é negra e o pai bem branco. O mesmo acontecia na família dela. Conversa vai, conversa vem, novas semelhanças vinham”, disse Priscila.

Tanto o pai de uma quanto da outra era natural do município de Encantado. “Uma cidade tão pequena, vai ver tua é filha do meu pai”, brincou Pâmela. Priscila entrou em estado de choque quando soube que o nome era o mesmo, Ivan da Rosa. “A última vez que eu o vi, eu tinha sete anos. Ele foi embora de casa, nunca mais voltou. Mas, 29 anos, depois, pudemos nos conhecer”, diz a irmã instrutora. Criada pela mãe e pela avó, Priscila teve nos quatro tios a figura paterna que a ajudou na sua caminhada, de vida simples, mas que a levou à recente conclusão do curso de Enfermagem.

Para Pâmela, 14 de abril é o “dia do nascimento das irmãs GHC (Grupo Hospitalar Conceição, que abrange o Hospital Cristo Redentor)”. “Há alguns anos, a nossa família sabia que meu pai tinha uma filha de outro casamento e que o nome era Priscila. Ele nunca contou muito bem a história, por ser um erro do passado. Quando aconteceu a conversa com ela, me caiu a ficha”, relata Pâmela. Para ela, o futuro é o que mais vale na relação entre as duas. “Com toda certeza, Priscila já é de casa. Antes mesmo de ser minha irmã ela virou colega e amiga. Nossa amizade, conexão, afeto e carinho uma pela outra só cresce. Desde o primeiro dia já a chamei de irmã, e logo ao chegar em casa chamei ensinei minha filha a chamar ela de tia”, sorri a moradora de São Leopoldo.

A surpresa maior foi para Priscila, que precisou lidar com emoções represadas desde a infância, mas também mira o que vem pela frente. “No início, foi difícil entender porque ele sumiu, sem me contatar. Mas eu mesma disse a ele que errar é humano, não vamos recuperar o passado, mas vamos recomeçar, em uma relação a ser construída com o tempo, aos pouquinhos”. Ambas relatam que, quando a pandemia passar, os eventos familiares serão bem diferentes e com muita mais gente, unindo as irmãs, seus maridos e filhos.


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