Comunidade indígena de Porto Alegre resiste à Covid-19 e luta por território

Comunidade indígena de Porto Alegre resiste à Covid-19 e luta por território

Famílias Mbya Guarani Pindó Poty reivindicam 100 hectares no Lami

Gabriel Guedes

Com álcool gel e máscara, cacique garante que medidas de segurança são cumpridas

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A comunidade indígena Mbya Guarani Pindó Poty, situada no Lami, bairro da zona Sul, distante cerca de 30 quilômetros da área Central, onde moram sete famílias, está resistindo à pandemia do novo coronavírus. No local, ninguém contraiu a doença ou apresentou suspeita, segundo o cacique Roberto Ramires. A venda de artesanato, fonte de subsistência dos indígenas, foi diminuída, como meio de reduzir as saídas e, assim, o risco de contrair a Covid-19. “Só saímos para comprar alguma coisinha e voltar. Mas também estamos longe da cidade”, conta. Mas a maior luta já é antiga: território.

Na aldeia não falta máscara e álcool-gel. O cacique ostenta, orgulhoso, um recipiente com o produto antisséptico. De acordo com Ramires, eles têm sido acompanhados por equipes de saúde pública. Mas neste inverno, nem mesmo resfriado os residentes da comunidade enfrentaram. “A gente toma açoita-cavalo, como chá. Isso ajuda”, conta. A planta mencionada pelo cacique possui propriedades medicinais no tratamento de laringites e bronquites. Até mesmo o morador mais antigo, seu Aloisio Acosta, 67 anos, diz estar apresentando boa saúde. Mas não abre mãos dos cuidados: também estava usando máscara. “Aqui, os índios, quando morrem, é de problema de coração”, afirma Ramires.

Para o cacique, o problema mesmo na área indígena durante a pandemia não é a saúde, mas a demarcação do território. O grupo reivindica 100 hectares, que fica junto a Estrada Edgar Pires de Castro e Estrada Otaviano José Pinto. A área é basicamente composta por árvores nativas. Inclusive, durante a manhã desta quinta-feira, um grupo de bugios passeava entre os galhos. “Precisamos de apoio sobre a terra. A demarcação está parada faz um ano e meio. As pessoas dizem que isso não é terra indígena”, se queixa.

A área, segundo Ramires, vem sendo invadida por pessoas estranhas e estas construíram casas, na parte junto a Estrada Otaviano. Além disso, utilizam o espaço para depósito de carros, equipamentos velhos, máquinas de lavar roupas e outros utensílios. Há registros da presença e existência da aldeia, na área em demarcação, há mais de 60 anos. A comunidade vem requerendo a presença dos agentes da Fundação Nacional do Índio (Funai) no local e que se proceda a imediata remoção dos invasores. Contudo, procurada pelo Correio do Povo, a Funai não se manifestou a respeito do assunto. No site do órgão apenas consta que processo de demarcação segue em estudo.
 


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