Mais de dois mil profissionais da saúde estão afastados no trabalho no RS

Mais de dois mil profissionais da saúde estão afastados no trabalho no RS

Número é 160% superior ao registrado no levantamento de maio

Jessica Hubler

Mais de dois mil profissionais da saúde já foram afastados por conta da pandemia

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O número de profissionais da saúde afastados dos postos de trabalho no Rio Grande do Sul por conta da pandemia do novo coronavírus cresceu 38,18% no último mês, chegando a pelo menos 2.052. As causas são diversas, entre elas a suspeita ou a confirmação da doença, além dos afastamentos preventivos de funcionários que pertencem a grupos de risco ou que apresentaram sintomas gripais.

O número é 160,07% superior ao registrado no levantamento de maio, feito pelo Correio do Povo, quando eram 789 profissionais afastados no Estado. No mês passado, este número chegou a 1.485. Até o momento, pelo menos três profissionais da área faleceram.

Atualmente, 566 do total de 2.052 afastamentos informados, ou seja, 27,58% estão relacionados com a Covid-19, somando confirmados e suspeitos. Entre os afastados estão médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e demais funcionários dos setores administrativos das unidades de saúde.

Em 12 das 19 cidades pesquisadas houve aumento no número de profissionais fora da linha de frente, em duas (Farroupilha e São Leopoldo) o número se manteve igual, sendo zero para Farroupilha e quatro em São Leopoldo. Já em Rio Grande, Esteio, Pelotas, Canguçu e Porto Alegre, o número é menor do que no mês anterior. 

Apesar disso, Porto Alegre segue sendo a cidade que apresenta o maior número de afastamentos, chegando a 634, o que representa 31,01% do total. No Grupo Hospitalar Conceição (GHC) são 449 afastados, dos 9,1 mil no total. Conforme o diretor administrativo e financeiro do GHC, Cláudio Oliveira, destes, 226 relacionados a síndromes gripais. Dos suspeitos e confirmados, Oliveira informou que desde o começo da pandemia, o GHC teve 243 que testaram positivo para Covid-19, sendo que 127 já retornaram ao trabalho e 116 seguem afastados. O número de positivos no GHC aumentou 116,96% no último mês, passando de 112 para 243.

No Hospital de Clínicas, 185 funcionários estão afastados, destes, 32 aguardam o resultado do exame do Covid-19 e 153, que tiveram resultado positivo, aguardam o término do período de transmissão do vírus, de 14 dias, para retornar ao trabalho. Depois de Porto Alegre, em segundo lugar com maior número de afastamentos na área da Saúde está Canoas, com 500 e, em terceiro lugar, Gravataí, com 187 profissionais afastados.

Em Gravataí, conforme a Secretaria da Saúde, três deles tiveram diagnóstico positivo para Covid-19 e os demais foram isolados de forma preventiva, por pertencerem a grupos de risco, por exemplo. Em Novo Hamburgo, conforme a Prefeitura, entre os 162 afastamentos, estavam afastados 16 médicos, 63 técnicos de enfermagem e 18 enfermeiros. Além de 65 profissionais das áreas de administração, limpeza e outros serviços. Entre as cidades pesquisadas, somente Farroupilha não apresentou nenhum afastamento. 

Conforme levantamento do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), no Rio Grande do Sul até 30 de junho foram computados 1.196 casos de profissionais da área infectados com Covid-19 ou com suspeita. O número cresceu 94,15% entre 1º e 30 de junho, passando de 616 para 1.196. Entre eles, 355 que tiveram o diagnóstico positivo, 147 não confirmados e 670 com suspeita estão em isolamento domiciliar. Entre as internações estão sete confirmados e 15 suspeitos. Além disso, de acordo com o Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (Coren-RS), foram registrados dois óbitos de profissionais da área, no Estado, em decorrência da doença.

Coren alerta para carga viral e pede testagem dos profissionais

O presidente do Coren-RS, Daniel Menezes de Souza, afirmou que a entidade tem muita preocupação com  essas situações e que inclusive vem trabalhando e alertando desde o início da pandemia sobre essa exposição. “A enfermagem está 24 horas por dia junto aos pacientes, se submetendo a uma carga viral muito grande, por isso reforçamos a necessidade do correto fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), de qualidade e em quantidade, além da testagem dos profissionais”, afirmou.

Conforme Souza, o Cofen inclusive ingressou com uma ação judicial contra a União, no sentido de cobrar que o Ministério da Saúde faça uma ampla testagem nos profissionais que estão na linha de frente, especialmente da enfermagem. “Esse grande número já era esperado e está aumentando porque talvez esteja demorando essa testagem, estão sendo testados só os profissionais que apresentam sintomas, mas sabemos que a maioria que se contamina pode ser assintomática”, enfatizou, reforçando que as dificuldades podem aumentar agora, no inverno, por conta da concorrência com as demais doenças respiratórias. “Novos afastamentos podem ocorrer, não só pela Covid-19”, lembrou.

Os óbitos de profissionais da saúde em decorrência da Covid-19 no Estado foram três, até o momento, um médico e dois técnicos de enfermagem. Uma das vítimas foi o médico do Brasil de Pelotas e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), José Raymundo, 70 anos. Ele morreu  no dia 22 de junho por conta da doença. Estava internado no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Raymundo atuava na área de Ortopedia e Traumatologia. As outras duas vítimas trabalhavam no Grupo Hospitalar Conceição. A técnica de enfermagem Mara Rúbia Cáceres, 44 anos, faleceu em 7 de abril e o técnico de enfermagem Abel da Cruz Neto, 61 anos, em 5 de junho.

Simers alerta para "onda mais crítica" por conta do inverno

O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcelo Matias, afirmou que vários dos afastamentos ao mérito inclusive dos gestores que se preocuparam com trabalhadores dos grupos de risco e, além disso, entre os técnicos de enfermagem houve maior risco. “Dentro das emergências e UTIs temos tipo um trabalho extenuante, e cada profissional que venha a ser afastado, é complicado também para quem fica na escala”, destacou.

Parece que a onda mais crítica da doença está chegando ao Rio Grande do Sul, de acordo com Matias, no pico do inverno. “Quando temos uma carência de leitos, acabamos tendo em um lugar mais restrito uma proporção maior de pacientes infectados pela Covid-19 e o risco de contaminação daquela equipe acaba sendo maior, por isso seria importante distribuir um número maior de leitos”, reiterou, reforçando a importância do uso de EPIs.

Matias enfatizou que nunca enfrentamos uma situação como essa. “É uma guerra contra um ser invisível, nunca tinha visto algo desse tipo acontecer e também teremos dificuldade de traçar uma estratégia adequada”, disse. Segundo ele, afastar grupos de risco é fundamental mas, além disso, o fornecimento de EPIs e o correto treinamento para os profissionais também é importante para que novos afastamentos sejam evitados. “O efeito é para todos, para as equipes que seguem atuando que terão escalas mais pesadas e para as pessoas que ficarão doentes e poderão ter dificuldades de atendimento”, declarou.


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