Covid-19 atinge 92% dos municípios do Rio Grande do Sul

Covid-19 atinge 92% dos municípios do Rio Grande do Sul

Quatro cidades registraram seus primeiros casos da doença nesta quinta-feira

Jessica Hübler

Com isso, o total de municípios que ainda não identificaram nenhum caso caiu para 42

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Cerrito, Linha Nova, Capão Bonito do Sul e Mato Queimado anunciaram nesta quinta-feira os primeiros casos de Covid-19, 145 dias após a confirmação do primeiro paciente oficialmente infectado pelo novo coronavírus. Com isso, o total de municípios que ainda não identificaram nenhum caso caiu para 42, o que representa 8% do total de cidades no Estado. Em um mês, cresceu 18,06% o número de municípios com diagnósticos positivos do novo coronavírus. Em 23 de junho eram 382 e o Estado contabilizava 20.864 casos confirmados e 477 óbitos. Até a noite desta quinta-feira, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) havia contabilizado casos em 455 cidades, totalizando 54.841 casos e 1.456 óbitos.

O presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e prefeito de Taquari, Maneco Hassen, diz que infelizmente esse percentual tem diminuído semanalmente. “A cada balanço da SES temos novos municípios registrando casos da Covid-19, o que demonstra a preocupação que temos com o que estamos passando”, destaca.

A população das cidades que ainda não contabilizam casos do novo coronavírus varia entre 1,3 mil e 11,7 mil habitantes. “Os municípios pequenos, que têm uma vida diária diferente dos grandes centros e que por sua natureza já praticam o distanciamento e as medidas de prevenção, por serem comunidades menores e de pessoas conhecidas, conseguem ainda ficar afastadas da pandemia, mesmo no ritmo que ela está em outras cidades”, destaca Hassen.

Além disso, ele reitera que os prefeitos estão trabalhando “mais firmes ainda” para impedir que o vírus chegue até as suas cidades. “Todos têm feito um trabalho excelente de prevenção nesse sentido, esperamos que esse número permaneça como está e que os outros municípios, que apresentam um ou dois casos, possam curar essas pessoas e não registrar novos, para que possamos diminuir essa curva aqui no Estado”, declara, reforçando que até o momento, o Rio Grande do Sul, no entendimento da Famurs, tem conseguido suportar “relativamente bem” a pandemia do novo coronavírus.

A conscientização da população tem sido uma das medidas adotadas pelos prefeitos, de acordo com Hassen. “Na cidade menor, o prefeito tem mais facilidade com a cobrança da população, pois todo mundo é conhecido”, comenta. Outra estratégia dos prefeitos é a barreira sanitária, realizada com o objetivo de monitorar quem entra e quem sai do município. “Na maioria deles, é possível de se fazer”, complementa Hassen. E a higienização constante dos espaços públicos também está entre as medidas mais adotadas pelas prefeituras dos municípios sem casos da Covid-19.

“São ações de prevenção que eles têm adotado e tem ajudado muito a segurar a contaminação aqui no Estado. O município pequeno tem inúmeras vantagens em um momento como esse, e isso acaba também fazendo com que o vírus demore para chegar. E tomara que nesses lugares nem chegue”, assinala. O desafio agora, segundo Maneco Hassen, é seguir controlando a disseminação do vírus e ampliar as ações de combate à pandemia. “Temos uma demanda elevada pela ocupação de leitos, novos casos e cada vez mais óbitos, é preciso que estejamos em alerta”, pontua o prefeito. Ainda sobre as regiões que não têm registros do novo coronavírus, Hassen destaca que a maioria dos municípios do Rio Grande do Sul não tem hospital próprio e conta somente com Unidades Básicas de Saúde.

“São postos de saúde que não estão preparados para realizar atendimento de casos graves. Fica inclusive mais essa preocupação para agora e para o pós pandemia, que é ampliar a regionalização da saúde e a distribuição de leitos por todo o Estado”, comenta. Para garantir que municípios grandes, médios e pequenos consigam controlar a propagação da Covid-19, Hassen enfatiza que a Famurs está procurando manter contato permanente, tanto com as prefeituras, quanto com as associações regionais. “Estamos nos comunicando o máximo que podemos nesse momento, que é o mais difícil das últimas décadas para todos os gestores públicos”, define.

Cidades “livres” da Covid-19 têm rotinas próximo do normal

A cidade de Aceguá na região Sudoeste do Estado, com 4.901 habitantes, situado na fronteira do Brasil com o Uruguai, está entre as 42 que não apresentou nenhum caso da Covid-19 até o momento. O prefeito Gerhard Martens (PSDB), afirma que não foi necessário restringir atividades econômicas, nem mesmo o comércio. Além disso, os horários não foram reduzidos, justamente porque no entendimento de Martens, quanto menor for o intervalo de funcionamento das lojas, maior será a aglomeração de pessoas nesses locais.

“Temos o comércio funcionando, desde o início não fechamos, deixamos aberto das 8h às 12h e das 14h até 21h, a minha filosofia sempre foi que, se eu restringir muito o horário, eu vou acumular as pessoas, elas têm que ir no comércio fazer as compras, se eu ampliar o horário, certamente haverá menos aglomeração”, explica. Mesmo com a rotina seguindo muito próximo do normal, Martens comenta que a aceitação da população sobre o uso de máscara foi praticamente unânime, o que também reduz o risco de contágio.

Até a tarde desta quinta-feira, Aceguá estava investigando dois casos suspeitos do novo coronavírus, mas ainda não havia confirmação. “São dois moradores que tiveram sintomas gripais, eles fizeram os exames e agora aguardam os resultados, espero que seja apenas um resfriado”, destaca. Uma situação que, segundo Martens pode ter ajudado a cidade a não ter registrado casos da Covid-19, é o fato de que 75% dos habitantes mora em zona rural. “Isso já facilita, porque temos um isolamento natural das pessoas que vivem no campo”, enfatiza.

Mesmo com a situação teoricamente sob controle, Martens reitera que as equipes de fiscalização da Prefeitura então nas ruas diariamente para evitar aglomerações. “Nem todo mundo respeita, então os fiscais atuam todos os dias, mas a maioria já entendeu o que precisa ser feito”, diz, lembrando que o fato de a cidade estar na fronteira com o Uruguai também preocupa. “Muitas pessoas vão pra lá ou vêm do Uruguai pra cá, estamos apostando na vacina, que venha logo e que a gente não tenha nenhum caso até lá”, reitera.

Em Sinimbu, no Vale do Rio Pardo, a prefeita Sandra Marisa Roesch (DEM) acredita que os 10.172 de habitantes entenderam a importância de seguir os protocolos do Ministério da Saúde quanto à prevenção para a Covid-19. Segundo ela, o fato de 80% dos habitantes da cidade estarem concentrados na zona rural também acaba favorecendo o distanciamento social. “Vejo que isso seja um fator importante agora nesse momento, porque se a pessoa vive no meio da natureza, trabalhando em sua propriedade com todos os cuidados, acaba se protegendo e protegendo os demais”, diz.

De acordo com Sandra, as aglomerações que eram vistas aos finais de semana, principalmente em praças e no comércio, não estão ocorrendo. Os bancos de rua e na frente das lojas foram interditados pela Prefeitura e ela acredita que a informação chegou a todos os moradores de Sinimbu. Através da montagem de barreiras sanitárias, agentes da saúde também orientaram a população sobre as medidas de prevenção. “Mesmo com a nossa dificuldade de acesso à internet, acho que todos já sabem o que é preciso fazer. Não temos tanto fluxo de pessoas na cidade por não ter aula e não ter transporte coletivo, por isso conseguimos segurar essa onda por muito mais tempo, esperamos que não chegue aqui, torcemos para que consigamos permanecer assim”, destaca.

Nessa semana, oito casos suspeitos foram descartados. Todos que apresentam sintomas gripais são afastados do trabalho, cumprem isolamento e fazem o teste. Mesmo com nenhum caso da Covid-19 contabilizado, Sandra reitera que a preocupação é muito grande. “A onda do frio deve voltar, os sintomas gripais são muito parecidos, mas esperamos que passe logo isso. Devemos seguir em frente, pensando positivo e que tudo vai melhorar e passar logo”, ressalta, lembrando que todos em Sinimbu estão cumprindo com o que precisa ser feito. “Meu recado sempre é que cada um faz a sua parte. Cuidando de si, você cuida dos outros”, descreve. 


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