Covid-19 faz aumentar em quase 200% a quantidade de resíduos de saúde em Porto Alegre

Covid-19 faz aumentar em quase 200% a quantidade de resíduos de saúde em Porto Alegre

Expectativa é que o volume de lixo hospitalar aumente entre 10 e 20 vezes em relação ao período anterior à pandemia

Gabriel Guedes

A taxa de geração de resíduos de serviços de saúde (RSS) por leito hospitalar é, em média, 1,5 quilos por paciente por dia

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O uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), principalmente as máscaras, se tornou marcante no enfrentamento à pandemia de Covid-19. Se a geração de resíduos pelas pessoas aumentou e seu descarte incorreto chega a ser um problema, nos serviços de saúde, onde cada profissional precisa praticamente descartar um traje inteiro – composto de máscara, face shield, luvas e aventais – cada vez que vai no banheiro ou precisa se alimentar, por exemplo, espera-se que o volume de lixo hospitalar aumente entre 10 e 20 vezes em relação ao período anterior à pandemia.

A estimativa é da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que acabou constatando que o Brasil, ao contrário do que se tem observado no restante do mundo, produziu 17% menos resíduos. Entretanto, em Porto Alegre, algumas instituições chegaram a gerar quase 200% do que antes da pandemia.

A taxa de geração de resíduos de serviços de saúde (RSS) por leito hospitalar é, em média, 1,5 quilo por paciente por dia, no caso de internação de média complexidade, conforme dados da Abrelpe. Já um paciente de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em situações habituais gera 2,2 quilos de resíduos ao dia. Uma cirurgia de duas horas, produz, em média, 3,7 quilos de resíduos. A Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) informa que o tempo médio de permanência de um paciente em UTI num hospital público gira em torno de seis dias. Pacientes graves infectados pelo novo coronavírus ficam entre 14 e 21 dias na UTI.

O atendimento a um paciente Covid-19 internado por duas semanas em UTI, produz cerca de 30 quilos de resíduos que precisam passar por tratamento adequado antes da disposição final em aterro sanitário licenciado. Como a taxa de ocupação média atual dos leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) está em torno de 95% (15,2 mil, segundo dados da AMIB), a geração de resíduos de saúde ao dia equivale a 33,4 toneladas. Estes números representam só o atendimento a pacientes de UTI em todo o Brasil, sem contabilizar as internações em enfermarias.

Quase 50 toneladas de resíduos no Clínicas

No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), a produção de resíduos aumentou 194%. “Costumava gerar 17 toneladas de grupo A e E. O que a gente viu nos últimos dias, é que esta geração passou para 50 toneladas, já. E nem fechou o mês”, ressalta Tainá Flôres da Rosa, gestora ambiental do HCPA e Coordenadora de Comitê de Gestão Ambiental do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa).

Com a pandemia, o que se viu no Clínicas, é que cada leito do Centro de Terapia Intensiva (CTI) com Covid-19 está gerando 10 quilos de resíduos biológico e perfurocortante por dia. “Quando começou a aumentar o número de Covid-19 mesmo, aí teve o ‘boom’ na geração de resíduos”, observa. Outra mudança com pandemia foi o volume do lixo, por causa dos EPIs. “Os resíduos estão muito volumosos. Mais volume do que peso. E por isso também houve o aumento da coleta pelas empresas transportadoras terceirizadas”, afirma. Antes eram cerca de 60 bombonas em um caminhão por dia. Hoje tem sido coletadas entre 150 e 160 bombonas por dia.

No complexo hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, a produção de RSS começou a subir drasticamente em junho e atingiu o pico neste mês de julho o pico dos últimos dez anos, coincidindo com o aumento no número de casos de Covid-19 e a abertura de 90 leitos exclusivos para estes pacientes, segundo a coordenadora de gestão ambiental, Bruna Trolli. “Eu trabalho há mais de 12 anos na instituição e a gente não teve este histórico em nenhum outro ano”, garante.

De acordo com a gestora da instituição, a média da instituição é de 35 toneladas de mensais de material infectocontagioso. Mas somente nos primeiros 18 dias de julho, foram 42 toneladas de resíduo contaminante. “Temos a estimativa de fechar julho com 70 toneladas com base no que foi observado nos últimos dias”, acredita Bruna.

No Hospital Conceição, do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), o aumento na quantidade de lixo hospitalar foi um pouco menor. Mas ainda assim, notável. “Tivemos um aumento considerável e de 2018 para cá vínhamos adotando uma política de redução de resíduos infectantes. Mas com a pandemia disparou”, explica o diretor-presidente do GHC, Cláudio Oliveira.

Antes da pandemia, o hospital costumava produzir cerca de 25 toneladas e agora já chega às 37 toneladas. Conforme Oliveira, a gestão ambiental do grupo já sinalizava que iria ter um aumento considerável. “Desde a metade de maio para cá vem numa curva ascendente. Se realmente estabilizar e começar a ter menos pacientes por Covid, a produção destes resíduos também deverá começar a cair”, prevê o diretor-presidente.

Moinhos reduz após queda nos atendimentos eletivos

Na contramão do que foi observado em hospitais filantrópicos e públicos de Porto Alegre, o Hospital Moinhos de Vento se viu obrigado a reduzir em 40% o número de atendimentos eletivos com a pandemia. E isso refletiu na quantidade resíduos, que também caiu. No primeiro semestre de 2019, a instituição privada gerou 800 toneladas.

Com a pandemia, no mesmo período neste ano, foi para 770 toneladas por mês. “O Moinhos foi o primeiro hospital a anunciar a suspender os atendimentos e procedimentos eletivos. Mas a quantidade de resíduos caiu menos que a redução do funcionamento. Portanto, consideramos que ainda estamos gerando muitos resíduos”, explica o superintendente Administrativo e de Infraestrutura da instituição, Evandro Moraes.

O gestor ainda lembra que o hospital não descarta resíduos infectantes para fora da instituição. “É tudo tratado internamente na nossa Central de Tratamento de Resíduos e depois destinado a nossa célula de energia”, destaca.

Recomendação do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde classificou o novo coronavírus como agente biológico de alto risco individual e moderado risco para a comunidade. Por isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda que os resíduos provenientes da assistência a pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo Covid-19, sejam enquadrados na categoria A1, conforme Resolução RDC/Anvisa 222/2018.

Desta forma, os resíduos provenientes da assistência a pacientes da Covid-19 devem ter destinação adequada. A separação incorreta destes resíduos pode expor a comunidade a riscos e gerar impactos negativos ao meio ambiente.

Mas o que fazer, para quem está casa, para jogar fora uma máscara ou qualquer outro resíduo de saúde? A diretoria geral de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre determina que sejam descartados em sacos duplos resistentes de lixo e vale também para papéis, guardanapos, papel higiênico, embalagens plásticas, de papelão ou outras, sobras alimentares do pré ou pós preparo de pacientes com suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus.

O diretor da Vigilância em Saúde, Anderson Lima, destaca que os resíduos não devem ser separados ou triados para disposição para Coleta Seletiva, nem doados aos catadores em hipótese alguma. “Nesses domicílios em que há caso suspeito ou confirmado de coronavírus, não devem entregar os resíduos recicláveis para os catadores a fim de não expor os mesmos ao risco de contaminação”, orienta o diretor.


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