Demanda por atendimento do serviço de apoio contra o suicídio aumenta em abril

Demanda por atendimento do serviço de apoio contra o suicídio aumenta em abril

Após a estreia de "13 Reasons Why" procura diária passou de 55 para 300 no Centro de Valorização da Vida

Carlos Corrêa e Mauren Xavier

Jogo "Baleia Rosa" sugere que seja feito 50 missões positivas com resultados postados na rede social

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No dia 31 de março, a série “13 Reasons Why” foi disponibilizada pelo canal de streaming Netflix. Ao longo de 13 episódios, a estudante Hannah Baker detalha situações e acontecimentos que a levaram a tirar a própria vida. A história é narrada por ela ao longo de 13 fitas cassetes gravadas. Entre outros fatos, estão bullying, estupro, invasão de privacidade e agressões morais, tendo como desfecho, o seu suicídio.

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Quase que imediatamente, numa velocidade feroz, o assunto tomou conta das redes sociais, como Twitter e Facebook. Em centenas de milhares de postagens, comentários e relatos de situações similares, principalmente vindo de jovens. Rapidamente, um assunto tradicionalmente tratado quase como tabu na sociedade, estava exposto, como se retirassem a casca de uma ferida ainda não curada. Se o tema ganhou destaque nas redes sociais, o mesmo ocorreu na procura por atendimento dos serviços de apoio.

Um exemplo foi o movimento no Centro de Valorização da Vida (CVV). Gratuitos e sigilosos, os canais abertos à população perceberam um aumento significativo na demanda. No âmbito nacional, por exemplo, o número de e-mails diários recebidos saltou de 55 para mais de 300 logo no dia seguinte à estreia do seriado, média que tem se mantido desde então. O acesso ao site também dobrou. A menção à série passou a estar frequentemente nas ligações, como confirma a voluntária do CVV Nilsa Madsen, que há 12 anos atua no serviço em Porto Alegre. Ela revela que a busca por atendimento sempre existiu, mas que em função da exposição trazida do assunto, houve uma procura maior. “O único ponto positivo é que abriu o espaço para que o assunto seja discutido”, comenta.

Com experiência de quem atuou como professora por 40 anos, a voluntária confessa que não é possível repassar toda a responsabilidade aos pais, mas que eles precisam estar mais abertos a compreender seus filhos. “Muitas vezes, os jovens ligam desesperados dizendo que ninguém os entende. Às vezes são chamados de preguiçosos e que não querem nada, mas isso na verdade é um pedido de socorro”, revela. Com 76 pontos de atendimento e mais de 2 mil voluntários, o CVV funciona há 55 anos no Brasil e 47 anos no Rio Grande do Sul, estando disponível por vários canais de atendimento, como skype, e-mail e telefone 141 (o 188 é gratuito apenas para o Rio Grande do Sul).

Um dos diferenciais é a abordagem a quem procura o serviço, de uma maneira compreensiva, sem dar conselhos nem indicações. “Quando uma pessoa nos procura, validamos o sofrimento, aceitamos e respeitamos, sem criticá-lo”, explica Nilsa. O desafio agora é que com o aumento da procura o número de voluntários precisa ser ampliado. Mais informações podem ser obtidas no site www.cvv.org.br.

Dentro da temática de valorização da vida e na contramão ao “jogo da baleia azul”, surgiu a baleia rosa. A proposta é que os jovens cumpram tarefas positivas. São 50 missões. A recomendação é que todas devam ser registradas nas redes sociais. Uma delas prevê, por exemplo, que a pessoa desenhe com canetinha uma baleia rosa com uma frase ou palavra motivadora e poste em suas redes sociais, converse com alguém que não fala há muito tempo ou crie uma playlist animada e troque com amigos. Segundo o site do projeto (www.baleiarosa.com.br), o movimento busca dar uma resposta ao momento de incertezas e descrédito das pessoas. “Acreditamos que todos têm a capacidade de ajudar outras pessoas e construir o bem”, diz o site. Em uma das páginas do Facebook, a baleia rosa tinha recebido até a sexta-feira mais de 237 mil curtidas.

Além disso, dependendo da situação, em Porto Alegre estão disponíveis dois plantões de Emergência em Saúde Mental com atendimento 24 horas. Um está localizado no Centro de Saúde Vila dos Comerciários e outro no Centro de Saúde IAPI. Apesar das limitações de atendimento, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre conta com um programa de depressão na infância e adolescência, onde é possível conseguir serviços.

Sinais de alerta em crianças e adolescentes

Em alerta emitido pela Secretaria de Saúde de Porto Alegre sobre o aumento de casos de atendimentos relacionados a tentativas de suicídio nos plantões de emergência e saúde mental nos últimos, pais e cuidadores são orientados a estarem atentos aos seguintes sinais:

• Falas sobre morte e suicídio, mesmo que indiretamente, como vontade de “sumir”, “desaparecer”, “ir embora”
Isolamento (afastar-se da família, dos amigos)
• Perda do interesse em atividades que costumava fazer
• Perda do interesse nas pessoas
• Mudanças dos hábitos de sono (insônia ou aumento de horas dormindo)
• Mudanças de hábitos alimentares (perda ou aumento de apetite)
• Irritabilidade, crises de raiva
• Piora no desempenho escolar
• Recusa de ir à escola
• Comportamentos autodestrutivos (automutilação, uso de álcool e drogas, exposição a situações de risco)
• Ter tentativas de suicídio anteriores
• Mudanças de comportamento em geral. Em pessoas que vêm com quadro depressivo, melhora repentina (podem simular melhor para conseguir executar o ato suicida)
• História de suicídio ou tentativa de suicídio na família
• Diagnóstico prévio de doença mental
• Exposição à violência
• Situações de bullying
• Abuso sexual prévio ou recente
• Postagens de baixa autoestima nas redes sociais
• Interesse anormal por filmes de terror, passando horas assistindo
• Preocupação repentina com morte, morrer e violência.



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