Enfermeira de hospital de Esteio morre de Covid-19

Enfermeira de hospital de Esteio morre de Covid-19

Profissional da área da saúde, que não trabalhava no setor de Covid-19, é a 18º vítima da categoria da doença no Estado

Tais Teixeira

publicidade

No dia 20 de dezembro de 2020, a enfermeira Marlei de Melo Policena, completou 23 anos de formação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). No último sábado , a continuidade desse ciclo foi interrompida pela Covid-19, que levou a profissional a óbito. Ela tinha 50 anos e atuava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para adultos, não era setor Covid-19, do Hospital São Camilo, em Esteio.

O diagnóstico positivo se confirmou no dia 24 de dezembro de 2020, seguida da internação,  de 28 de dezembro de 2020 a 9 de janeiro, quando faleceu. Marlei teve mais de 60% da capacidade pulmonar comprometida, ficou entubada e morreu com uma infecção generalizada. Ela é a 18ª profissional de enfermagem vítima  da Covid-19 no Rio Grande do Sul e a segunda do Hospital São Camilo.

O vice-presidente do Sindicato dos Enfermeiros no Estado do Rio Grande do Sul (Sergs) e colega há 12 anos de Marlei, Ismael Miranda da Rosa, reforça que a categoria  está sobrecarregada e submetida a uma carga de trabalho excessiva  potencializada pela falta de estrutura material. “Somos os menos considerados”, afirma. Ele, que também teve a doença,  relata que quando um enfermeiro positiva para  Covid-19 tem que voltar ao trabalho de 10 a 14 dias contados a partir do resultado, sendo que, em grande parte das vezes, o retorno ocorre no décimo dia. Esse período é estabelecido porque se entende que não há mais risco de contaminação. “Não há uma preocupação com o bem estar do profissional, se ele já está totalmente recuperado, somos empurrados de volta ao trabalho”, esclarece.

O sindicalista ressalta que o Hospital São Camilo não testa os 55 enfermeiros que trabalham lá. “É mais fácil fazer a testagem em outro local de saúde do que lá dentro”, enfatiza. Ele conta que se o trabalhador da saúde já teve Covid-19 não passa pelos exames novamente, mesmo que esteja com sintomas. “ Agora que a Marlei faleceu, você acha que a equipe dela será testada? Lógico que não”, afirma.

Em julho de 2020, Marlei, colegas de profissão e sindicatos fizeram um protesto em frente ao Hospital São Camilo. Entre as reivindicações, o pedido de testes para quem trabalha direto com paciente Covid-19, que segundo os manifestantes, são dificultados por muita burocracia.

O colega da enfermeira entende que o falecimento de Marlei representa não só a perda de uma pessoa, mas de uma profissional com muito conhecimento adquirido. “Ela tinha 23 anos de profissão, era respeitada, atuante e querida por todos. Pensa quanto tempo vai passar para gerar um profissional com toda essa bagagem”, reitera. Ele lembra com lágrimas nos olhos o momento em que avisaram a colega que ela seria entubada. “Foi feita uma chamada de vídeo com os filhos, momento em que ela meio que se despediu. Estamos pagando com sangue esse descaso político”, destaca.

No dia 18 de dezembro, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) divulgou que Esteio lidera em maior número de incidência e de mortes de Covid-19 na região metropolitana.  São 5.309 casos para cada 100 mil habitantes, sendo que Esteio tem 83 mil pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Marlei foi sepultada no sábado (09), ás 18 horas, no Crematório Ecumênico Cristo Rei, em São Leopoldo. Ela deixa três filhos e netos. Entidades da categoria emitiram nota de pesar. No dia em que comemorou a formatura, fez uma postagem do Facebook falando dos  altos riscos da profissão diante da pandemia . Em um trecho, ela diz que “Ser enfermeiro é estar tão próximo da vida e da morte, escolha mais certa da minha vida”.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895