Entidades discutem soluções para enfrentamento da pandemia da Covid-19

Entidades discutem soluções para enfrentamento da pandemia da Covid-19

Representantes dos setores da construção civil, restaurantes, bares, hotéis e do comércio se reuniram em videoconferência promovida pela Federasul

Felipe Samuel

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Representantes dos setores da construção civil, restaurantes, bares, hotéis e do comércio se reuniram hoje, em videoconferência promovida pela Federasul, no Tá na Mesa, para discutir o impacto econômico provocado pelo novo coronavírus e as perspectivas dos setores no pós-pandemia. Com o tema "Sobrevivendo à Covid-19", dirigentes destacaram a necessidade de buscar alternativas para reabertura do comércio, mas divergiram sobre como equacionar o retorno das atividades econômicas com segurança sanitária.

Desde o início da pandemia, bares, restaurantes e hotéis contabilizam prejuízos decorrentes da crise econômica em função do novo coronavírus. De acordo com o Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), houve 4,5 mil demissões, o que representa pouco mais de 10% do setor. Mesmo assim, o presidente da do Sindha, Henry Chmelnitsky, explica que pesquisas da entidade não apontaram 'fechamentos definitivos importantes'. "Temos fechamentos temporários de estabelecimentos que ainda não tomaram decisão final se vão reabrir", observa.

Apesar de reconhecer que o setor foi 'profundamente afetado' com fechamento do comércio, Chmelnitsky destaca que a pandemia da Covid-19 é uma exceção no cenário econômico e precisa ser encarada com responsabilidade pela população, que muitas vezes ignora as recomendações das autoridades de saúde de distanciamento social e uso de máscaras. Na contramão da maioria dos representantes de entidades patronais, ele afirma que, sem uma vacina para a doença, a única forma de conter o avanço do vírus é cumprindo as medidas de distanciamento social. "Parece que existe uma mística de que por ser líder patronal a gente não pode defender meios que não sejam única e exclusivamente aqueles em que tudo esteja aberto sem ter riscos ou consequências", assinala, elogiando ainda as iniciativas do governo estadual e da prefeitura no combate à Covid-19.

Ele admite a importância da reabertura das atividades econômicas, mas destaca uma pesquisa realizada por um shopping no Rio de Janeiro que aponta que 60% dos restaurantes que reabriram estão 'arrependidos'. "Abrir todos nós queremos, mas temos que pesar o todo. Estar aberto e não ter dinheiro para pagar aluguel, não ter dinheiro para pagar fornecedores, não ter dinheiro para pagar salários, por que também não vai ter demanda, vai nos levar ao mesmo lugar que é quebrar", justifica. O dirigente critica o governo federal, que 'deveria ter trabalhado para que nós estivéssemos seguros na questão econômica', e explica que a categoria enfrenta dificuldades para acessar o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).

De acordo com o dirigente, os empresários que tiveram acesso ao Pronampe foram obrigados formalizar um seguro de 10% do valor do empréstimo. "O dinheiro não chega na ponta, sempre fica no meio do caminho para os amigos do rei. Meu setor teve baixíssimo percentual que conseguiu 'pegar' Pronampe", desabafa. "Será que é esse dinheiro que veio contribuir para a solução dessa exceção? Será que nesse momento nós temos que nos preocupar só com a política econômica?", completa. Mais do que os desdobramentos econômicos da pandemia, Chmelnitsky observa que será preciso fazer um trabalho emocional para que a população volte a se sentir segura para sair às ruas.

O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon), Aquiles Dal Molin Júnior afirmou que é um momento de grandes transformações na sociedade, que obrigam também o mercado imobiliário a se adaptar, mas ressaltou que Porto Alegre é a única capital do país que está com a construção civil paralisada há quase um mês. "A construção civil não é vetor de contágio, porque nos canteiros de obras se cumpre rigorosamente protocolos estabelecidos pelos decretos", observa. Dal Molin Júnior garante que desde o início da pandemia, nos períodos em que o setor seguiu trabalhando, não houve contágio de funcionários pela Covid-19. "Temos 27 mil funcionários que atuam nesse setor em POA".

Apesar de reconhecer que os leitos de UTI dos hospitais da Capital estão atingindo lotação total, Dal Molin Júnior destacou que a rede hospitalar está recebendo pacientes de outros municípios. "A vida tem que ser considerada vida integral, existe vida além dos relatos dos hospitais. Não queremos cuidar só da morte, mas da vida que continua", afirma. O dirigente defendeu a liberação de algumas atividades para preservação de empregos, criticou a interrupção das atividades econômicas e cobrou melhor gestão no enfrentamento ao novo coronavírus. "É um sacrifício muito grande para um benefício para sociedade menor", destaca. Dal Molin Júnior afirma que em meio à pandemia houve aumento de procura por residências em condomínios fechados em Porto Alegre e no litoral.

Presidente do Sindilojas Porto Alegre, Paulo Kruse, reconhece que há divergência de opiniões entre os setores, mas destaca que é preciso encontrar uma solução para o combate à Covid-19. Conforme o dirigente, o setor contabiliza 7 mil postos de trabalho fechados em Porto Alegre. Além disso, 20% das lojas encerraram os serviços. "Quando houver possibilidade de abertura, em 60 dias devemos ter mais 20% de lojas fechadas por uma série de circunstâncias", revela. Kruse afirma que a interrupção das atividades está se tornando insustentável para o setor e critica a atuação de camelôs e outras atividades informais no Centro Histórico.

Kruse explica que a pandemia também provocou uma série de transformações no setor, com mudanças na forma de comercialização dos produtos para o mercado online. "É um desafio muito grande voltar a abrir. Quero que aconteça o quanto antes, é importante para todos setores da economia. Os lojistas estão muito sofridos, os pequenos negócios representavam rendimento de uma família toda e isso me deixa abatido", destaca. A presidente da Federasul, Simone Leite, revela que tinha expectativa para 2020. "Ousamos fazer planejamentos estratégicos muito bons para nossas empresas. Entendíamos que o RS ia decolar em 2020. De repente em março chega em solo gaúcho a Covid-19, as relações e as e expectativas mudam", afirma.

A dirigente afirma que é preciso ampliar diálogo e construir saídas juntos para não acabar 'sobrando para trabalhadores e empresários pagarem contas de ações equivocadas de governos'. "As pessoas não estão mais com medo da Covid-19 estão com medo é de te não ter renda para sustentar sua família. As pessoas querem trabalhar", frisa, destacando que 132 mil gaúchos perderam emprego durante a pandemia.
 


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