Essenciais: quem não para durante a pandemia

Essenciais: quem não para durante a pandemia

Primeiro capítulo da série do CP traz o trabalho de fisioterapeutas com pessoas que deixam a UTI com problemas respiratórios

Felipe Samuel

Fabiana Chaise, Paulo Rogério Zacoteguy (esq) e Elisa Cristina Santos, profissionais do Conceição

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A epidemia do novo coronavírus que atingiu o Brasil lançou luz sobre a atuação de profissionais da saúde que muitas vezes passam despercebidos no processo de reabilitação de pacientes. Responsáveis por dar continuidade à recuperação de pessoas que deixam a UTI, principalmente daquelas com problemas respiratórios, os fisioterapeutas têm papel importante nesse cenário, uma vez que ajudam na retirada da ventilação mecânica e realizam trabalho para remoção de secreção pulmonar.

Diante da pandemia da Covid-19, profissionais do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC) redobraram os cuidados no atendimento e passaram a participar de cursos de capacitação. 

Assistente de coordenação do Serviço de Fisioterapia do HNSC, Elisa Cristina Wendland Santos, 40, explica que os fisioterapeutas redobraram atenção e cuidados de higiene desde que o novo coronavírus começou a tomar conta do noticiário no Brasil. As medidas 'de bloqueio' visam preservar quem está internado e os próprios servidores. "Tivemos que organizar assistência, e todos os profissionais que estão atuando, não somente com pacientes de corona, mas os demais pacientes, estão tomando medidas extras de bloqueio para não passar para o profissional", observa. Além de mudanças na rotina, com mudanças na escala de serviço em função do novo perfil de pacientes, os profissionais receberam orientações sobre como utilizar corretamente equipamentos de proteção individual.

Com 15 anos de experiência no HNSC, Elisa observa que a maioria dos funcionários da saúde já está acostumada a uma rotina de higienização constante, mas a chegada do Covid-19 acendeu sinal de alerta. "Com essa pandemia, a gente tem uma questão mais forte de ter um contágio, que parecer ser mais proeminente. A maioria dos profissionais está fazendo medidas extras de bloqueio, chegando em casa e colocando a roupa em sacolas, indo direto para o banheiro, fazendo uma desinfecção de superfícies na sua casa, tentando evitar contato com pessoas mais velhas, mais idosas ou crianças", alerta. Fora do hospital, os cuidados se mantêm, com isolamento social. "Sogro e mãe, que estão no grupo de risco, estou evitando. Meu marido continua em casa por opção, a gente conversou e ele optou por ficar junto comigo para dar apoio", justifica.

Atualmente, um profissional mantém atendimento a pacientes com suspeita de diagnóstico de Covid-19, o que provoca demanda diferenciada, como maior tempo colocar equipamento de proteção e cuidado redobrado no atendimento. "A rotina de retirar da respiração mecânica do paciente, ajudá-lo a voltar a respirar sozinho, tem que ser feita com mais cuidado para o profissional também não se contaminar. Demora mais na assistência, com isso a gente está tendo uma sobrecarga nesse sentido", alerta. Outra atividade realizada por esses profissionais é a coleta do material biológico do paciente na UTI para verificar se ele é positivo para Covid-19 ou não. "Quando aumentar o número maior de pacientes internados aqui no GHC, a gente espera estar melhor preparados no sentido de estar treinado, capacitado", observa.

Ao todo, são 50 profissionais, entre fisioterapeutas e terapeutas que atuam na reabilitação de pacientes no hospital. Eles estão distribuídos na emergência, na UTI e nos postos do hospital. "Temos um trabalho continuado desde lá emergência, quando recebe esse paciente com dificuldade respiratória e que tem que ter algum manejo; com o paciente que está na UTI e precisa de terapia respiratória até sair do ventilador mecânico; e depois o paciente que vai para as unidades de internação. Em todos esses momentos o fisioterapeuta atua para fazer a reabilitação respiratória desse paciente", destaca. Elisa ressalta que existem níveis diferenciados de assistência respiratória que fisioterapeuta vai ter que fazer. "Na UTI, o paciente geralmente vai com gravidade maior, vai com respirador mecânico, que faz a respiração por ele, digamos assim. Então o fisioterapeuta tem que fazer todo processo de higiene brônquica dele, porque ele não consegue tossir ou respirar sozinho", acrescenta.

Mudanças na rotina

O fisioterapeuta Paulo Rogério Zacouteguy Fernandes, 34, que atua há dois meses no setor de internação do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), também mudou a rotina profissional e pessoal. Os cuidados com a higiene foram redobrados no hospital e em casa. Com a esposa Mariana grávida de seis meses, Fernandes segue as recomendações das autoridades da saúde. Retirar os sapatos antes de entrar em casa e manter as superfícies higienizadas já viraram hábito. "Por mais que a gente não tenha dados concretos da literatura de que ela (esposa) esteja dentro de uma população de risco, como não conhecemos direito esse vírus, a gente fica sempre mais acuado e muito mais cauteloso e cuidadoso", frisa.

Pais e avós agora são atualizados da gravidez por meio de vídeos e fotos enviados por celular. "Tivemos que 'cortar' (relação com pais e avós), porque são da população de risco", frisa. "É um momento único, nosso primeiro filho, vivendo toda euforia. Gostamos de compartilhar esses momentos, mas a gente tem que fazer esse sacrifício em prol da humanidade", completa. Em casa, o cuidado com a esposa também é dobrado. "Nossa rotina infelizmente teve que mudar para um bem maior para a população, para que nós não sejamos vetores desse vírus. Hoje a gente mantém certo afastamento até que eu consiga fazer toda essa higiene", observa.

Fabiana de Oliveira Chaise, 40 anos, que atua há oito anos no hospital, destaca os trabalhos de capacitação oferecidos nos últimos dias. Com dois filhos de 6 e 3 anos, Fabiana afirma que a chegada do Covid-19 mudou a rotina dentro e fora de casa. O convívio com a mãe e a tia foi 'interrompido' há uma semana. "Cuidados que tenho são esses: retirar as roupas, trazer o mínimo de objetos possíveis para o hospital para evitar as contaminações. Chego em casa, deixo os sapatos do lado de fora, retiro as roupas, coloco em sacos plásticos e vou direto para o banho. E depois tenho contato com eles", pondera.

A fisioterapeuta ressalta que os colegas estão acostumados a trabalhar com cenários envolvendo outros micro-organismos, como tuberculose e H1N1, mas a Covid-19 exigiu atenção especial. "Tinha esse cenário, não na situação de pandemia, mas de isolamento de contatos. Esses cuidados, barreiras, já fazia na minha casa, mas não com tanto afinco. Para esse vírus é necessário maior cuidado possível, como a retirada das roupas quando chegar em casa, lavagem de mãos e banho, para depois entrar em contato com familiares", frisa.


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