Estado intensifica caçada ao mosquito Aedes Aegypti

Estado intensifica caçada ao mosquito Aedes Aegypti

Com a chegada do verão, preocupação com zika e febre chikungunya aumenta e apresenta desafios

Mauren Xavier

Exército deve auxiliar equipes locais no interior do Estado

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Com mais de 40% dos municípios com a infestação do mosquito Aedes aegypti, a elevação do número de dengue e o aparecimento de casos de zika e febre chikungunya, as autoridades do Rio Grande do Sul estão em alerta com a chegada do verão e uma proliferação maior do mosquito. A preocupação tem como base, além do histórico deste ano, as mudanças nos comandos das prefeituras, o que pode resultar num rompimento de ações já desenvolvidas de combate ao Aedes, a falta de recursos e a baixa adesão da população. O verão de 2017 também é simbólico, uma vez que completará uma década do primeiro surto de dengue no Rio Grande do Sul, registrado no município de Giruá, na região das Missões.

• Porto Alegre busca iniciativas de combater Aedes aegypti

Porém, nem tudo é pessimismo. Há alguns fatores que poderão auxiliar a evitar uma exposição maior da população às três doenças. A previsão é que as condições climáticas deverão colaborar, com menos umidade e com uma média de temperaturas mais baixa. No âmbito federal a mobilização contra o Aedes aegypti foi antecipada e o chamado "Dia D", quando serão articuladas ações em todo o país, ocorrerá no dia 25 de novembro. Além disso, no mercado já está disponível uma vacina contra a dengue e há outra em estudo, inclusive com uma unidade de análise em Porto Alegre. Contra a zika e a febre chikungunya ainda não há imunizações. Mesmo assim, o alerta é grande para que cada pessoa faça o seu dever de casa, literalmente. A principal medida para evitar o desenvolvimento do mosquito é eliminar os focos de acúmulo de água, onde o Aedes aegypti coloca suas larvas. 

Desafios dos próximos gestores 

A efetivação no combate ao mosquito depende e muito de ações de conscientização da população e do controle permanente. Em outras palavras, as iniciativas de eliminação do mosquito, especialmente dos seus focos, devem ser contínuas. E esse serviço é realizado especialmente no âmbito municipal, com o apoio das equipes de endemias, que fazem contato com os moradores, visitas e orientações. Assim, a preocupação das autoridades se concentram em dois pontos. O primeiro é o caso das pessoas que aguardam apenas pela visita das equipes para fazer a eliminação dos focos em sua residência. E esse desafio é comum entre os municípios.

O diretor da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) de Porto Alegre, Anderson Lima, explica que, na Capital, 60% dos focos estão localizados em áreas residenciais. “Visitar todas as residências é inviável, sendo que os cuidados são básicos”, afirma. O ideal é que as equipes façam outros atendimentos, como a identificação de grandes criadores.

Outro alerta é em relação a descontinuidade das ações de combate. Neste ponto, o secretário estadual de Saúde, João Gabbardo dos Reis, manifesta o maior receio nesta virada de ano. “Durante todo o ano foram desenvolvidos projetos contra o Aedes. Mesmo no inverno. Isso traz um benefício muito grande para o combate. A questão é que, por vários motivos, inclusive políticos, com a troca de prefeitos, pode haver uma ruptura neste final de ano e início de 2017, como o corte de repasses”, enfatiza. A preocupação é justificada pela situação econômica do poder público como um todo no país, nos âmbitos federal, estaduais e municipais. “Muito da mobilização contou com contratação emergencial de equipes. Neste momento, nosso maior apelo é para que as prefeituras não se desmobilizem.”

Nesta mesma linha, Paulo Azevedo, assessor técnico em saúde da Famurs (Federação das Associações de Municípios do RS), ressalta que a evolução das doenças provoca outro tipo de impacto econômico sobre a rede de atendimento. “Os custos da saúde tendem a crescer muito com a epidemia de qualquer doença. A situação se agrava quando há atrasos de repasses e os municípios enfrentam as suas dificuldades também”, alerta. Para ele, diante desse panorama, o caminho mais seguro para conter a proliferação do mosquito é garantir o apoio da população.

“A responsabilidade é de todo os governos, mas é principalmente da população que tem que fazer a sua parte. Cuidar da sua casa e denunciar aquelas situações que considere preocupante”, enfatiza, reconhecendo que o trabalho não é fácil. Anderson Lima, do CGVS da Capital, ressalta que, apesar das campanhas de divulgação, há muita falta de informação e distorções de algumas orientações de como lidar com a presença do mosquito. Para Denise Valle, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a prioridade deve ser a eliminação dos focos.

“A forma mais fácil de controlar o Aedes aegypti é interrompendo seu ciclo de vida. É fundamental que a população se empenhe em eliminar os potenciais criadouros em suas residências. Uma verificação semanal é o suficiente para evitar a proliferação do inseto”, destaca.

Além da dengue: a zika e a chikungunya

O crescimento do número de bebês com microcefalia, uma má-formação cerebral marcada especialmente pela redução na circunferência da cabeça, ativou o alerta máximo nas autoridades brasileiras para o combate de uma nova doença ligada ao mosquito Aedes: a zika. Confirmada em 2015, a zika atingiu cerca de 200 mil casos prováveis da doença, segundo o Ministério da Saúde. Desse total, apenas 1.321 ocorrências foram na região sul do país. Sem a mesma atenção, a febre chikungunya, que é marcada por provocar severos problemas nas articulações, tem avançado pelo Brasil numa velocidade menor.

É verdade que no Rio Grande do Sul os dados são mais favoráveis, com uma incidência menor das três doenças. Segundo o boletim epidemiológico mais recente da Secretaria Estadual da Saúde, foram registrados mais 7,6 mil casos suspeitos de dengue, 527 casos prováveis de febre chikungunya e 765 de zika. Ao mesmo tempo, a preocupação é grande porque as doenças podem encontrar no Estado campo vasto para expandirem-se. Além disso, se os casos aumentarem no país, o reflexo será imediato. “Temos que fazer o nosso dever de casa, que é o controle, mas dependemos, em parte, do que acontecerá nos outros estados, especialmente os mais próximos, como Santa Catarina e Paraná”, adianta o secretário estadual de Saúde, João Gabbardo dos Reis.

No âmbito nacional, a mobilização será coordenada por grupo composto por oito ministérios e a Casa Civil, que articulará ações integradas de enfrentamento ao mosquito. Segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros, o intuito é garantir a adesão de toda a sociedade para diminuir a incidência dessas doenças. Além do Ministério da Saúde, participam ainda os ministérios da Defesa, do Meio Ambiente, Cidades, Integração, do Desenvolvimento Social e Agrário, da Educação e da Justiça.

Entre as ações que já estão previstas destacam-se mobilizações nas escolas e leilão de carros apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e pelo Detran e que servem de focos do mosquito. Uma das iniciativas que deve se repetir, como ocorreu no verão deste ano, é a participação das Forças Armadas na conscientização da população e eliminação dos criadouros. No verão, militares foram às ruas auxiliando na mobilização e visitando residências, especialmente nas regiões mais preocupantes, reforçando as equipes locais.

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