Estudo aponta desaparecimento de anticorpos para Covid-19 em pacientes assintomáticos

Estudo aponta desaparecimento de anticorpos para Covid-19 em pacientes assintomáticos

Pesquisa foi realizada em policiais da Brigada Militar

Felipe Samuel

Pesquisa foi realizada em policiais da Brigada Militar

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Um estudo epidemiológico que avaliou a soroprevalência para Covid-19 em policiais da Brigada Militar que atuam na linha de frente - durante a epidemia - apontou que 2/3 dos que PMs que apresentaram anticorpos, num primeiro momento, negativaram três semanas depois em nova amostragem. Os resultados da pesquisa, realizada pela Santa Casa em parceria com o Instituto Cultural Floresta (ICF) e a UFCSPA, foram divulgados nesta quinta-feira e revelam a importância de aprofundar os estudos sobre o comportamento da doença.

Professor de infectologia UFCSPA e coordenador do laboratório de biologia molecular, Alessandro Pasqualotto explicou que a pesquisa, que reuniu 1.592 policiais de 10 cidades gaúchas, afirma que o "achado mais impressionante" do trabalho é justamente o "desaparecimento" dos anticorpos após um período, o que, segundo ele, está de acordo com a literatura médica mais recente. "As pessoas que fazem anticorpos, especialmente se elas não têm sintomas, ao longo do tempo o anticorpo desaparece, o que não quer dizer que não estejam protegidas, ele pode voltar em algum momento em outra célula de defesa", destacou.

Conforme Pasqualotto, as pessoas que apresentaram anticorpo positivo para testes pelos métodos IGA (apresentam infecção recente) e IGG (infecção antiga) passaram por nova amostragem três semanas depois para verificar a presença do anticorpo. "De modo geral o anticorpo caiu em título e negativou em cerca de 2/3 das pessoas que eram IGA ou IGG positivos. E nos indeterminados negativou em proporção ainda maior", observa. "Isso é um dos grandes enigmas do novo coronavírus hoje e é por isso talvez que as vacinas tenham que vir a ser dadas, quando vierem, numa frequência maior do que uma vez por ano", completou.

O infectologista reforça que a maioria dos candidatos era jovem, saudável e assintomático, e utiliza equipamentos de proteção individual (EPIs) na maioria das vezes, embora tenham ficado exposto à Covid-19 durante as ações de rua. Ele lembra que o estudo foi realizado com métodos mais sensíveis porque as pesquisas anteriores - que usavam testes rápidos - não refletiam a realidade das populações mais expostas, como os policias. Pasqualotto explicou que os resultados mostram de modo fiel como se tivéssemos 'amostragem de 3 milhões de gaúchos' num estudo populacional em todo estado. "A sorovalência foi de 3,3%, ao menos 3,4 vezes maior que na população geral, com produção de anticorpos maior", destacou.

Entre as cidades que apresentaram maior produção de anticorpos IGA ou IGG, estão Passo Fundo, Canoas, Caxias, Uruguaiana, Ijuí e Porto Alegre. Pelotas e Santa Cruz do Sul não apresentaram policiais infectados pelo vírus. "Aparentemente nenhum soldado teve exposição que tenha resultado em produção de anticorpo", frisou, acrescentando que houve variação entre as cidades analisadas. Do total de PMs que participaram do estudo - realizado em junho e julho -, 1.292 (81,2%) são homens e têm idade média de 34 anos.

Diretor do Instituto Cultural Floresta (ICF), Cláudio Goldsztein afirmou que a instituição já destinou recursos a 50 hospitais no estado e explica que buscar informações e conhecimento sobre o comportamento do vírus é importante. "Se tratando de uma doença nova e com tantas informações e desinformações, principalmente com medo da população gerado a partir dessa nova doença, dessa situação que nos afetou muito", frisa.

Goldsztein reforçou que o ICF sempre atua com propósito de tornar o RS mais seguro e valorizar e reconhecer os servidores da área de segurança pública. "Além de ajudar com equipamentos de proteção individual, entendemos que seria interessante aproveitar esse momento para desenvolver uma pesquisa em parceria com a Santa Casa focando no público da segurança, através da BM, para fazer esse estudo, porque eles estão na linha de frente, na rua, não pararam de trabalhar", justificou.

Gestor do Gabinete de Crise da Brigada Militar, tenente-coronel Macarthur Vilanova afirma que a orientação aos policiais é para utilizar os EPIs. "Sempre cobramos uso de EPIs, mesmo estando 24 horas na rua, e orientamos a higienização correta. O uso de EPI e acompanhamento médico que tivemos junto aos nossos PMs pode ser diferencial para a população em geral", completou.


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