Falta de saneamento básico prejudica saúde de moradores de Gravataí
Cidade tem coleta de esgoto para somente 24,03% da população
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• Saneamento ainda está longe da universalização
O abastecimento era feito em caixas d'água colocadas nas esquinas do bairro. Depois, parte da comunidade foi beneficiada com uma rede de água, mas outros ainda precisam contar com a boa vontade dos vizinhos para cedência de água com uma mangueira. Apesar de o esquema permitir a subsistência da região, as conexões entre uma casa e outra são precárias e passam por dentro de valões e próximos a lixos.
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Quanto ao esgoto, a realidade é ainda a mesma do início da comunidade, que existe há mais de 30 anos e não é regularizada. Dejetos passando a menos de um metro da porta de casa ou acumulados em calçada e ruas fazem parte da rotina dos moradores do Rincão da Madalena.
"Só quem mora aqui consegue entender o que passamos"
Vias cobertas por terra, saibro e grama são também passagem de esgoto, pois os canos que saem dos pátios não têm destinos corretos. Mari Jaqueline Santos dos Santos, que mora na comunidade e trabalha na escola local, colocou pedaços de madeira da rua até a entrada de casa para não precisar pisar no esgoto. "Só quem mora aqui consegue entender o que passamos."
Em sua residência, o serviço regular de água chegou em 2004 e ela permite que o vizinho dos fundos se conecte a sua rede. Mari trabalha na escola, a uma quadra de casa, como monitora de esportes e afirma que problemas são frequentes com os alunos. "Há vários casos de doenças de pele, feridas ou alguns que ficam ruins da barriga", conta. A filha dela, hoje adulta, já teve problemas de pele na infância.
Uma das suas vizinhas, Fernanda, teve dois filhos mordidos por ratos enquanto eram crianças. A filha, quando tinha 7 anos, ficou ferida na boca e o irmão, na época época com 5, teve o dedo mordido. O pátio da casa deles está a poucos centímetros de um dos valões onde corre esgoto. "Eles ficaram um tempão em tratamento, levaram injeção. Ficou tudo bem, mas ficamos assustados", lembra. Recentemente, a neta de 1 ano teve feridas na boca, o que os médicos creditaram à contaminação.
Desejo de regularização
De acordo com os moradores, o desejo da regularização e de estretura de água e esgoto é unânime, mesmo que gere algum custo. O pedido já teria sido feito à prefeitura. Alguns, com condições financeiras melhores, construíram estrutura com recursos próprios. "O saneamento traria progresso para a comunidade, mas principalmente saúde", disse Mari. Em 2010, os moradores comemoraram a inclusão do projeto de urbanização do local no PAC II. O recurso seria usado para construir redes, asfaltamento e construção de moradias para famílias em áreas de risco. O projeto acabou não se concretizando.
No estudo do Instituto Trata Brasil, a cidade ficou na 80º posição, com distribuição de água para 75,21% da população, 24,03% recebem coleta de esgoto e apenas 16,17% recebem o tratamento dos dejetos. Segundo o secretário-geral do Governo, Luiz Zaffalon, os índices não melhoraram. A prefeitura tenta romper o contrato com a Corsan e está na fase final de análise do projeto. A licitação terá como objetivo a universalização da água em cinco anos e do esgoto em dez anos.
Segundo a Corsan, haverá um reforço na adução para captação de água no rio Jacuí, para levar mais água tratada a Canoas, Cachoeirinha, Esteio e Gravataí. Quanto ao esgoto, o material é tratado em Cachoeirinha. A licitação para a primeira etapa da substituição da atual estação de tratamento foi lançada em abril. Serão aplicados R$ 123 milhões para elevar para 54% o esgoto tratado na cidade.