Fim do uso obrigatório de máscara no transporte público gera dúvidas entre usuários

Fim do uso obrigatório de máscara no transporte público gera dúvidas entre usuários

Diretor municipal de Vigilância Sanitária afirma que o impacto atual da Covid-19 na saúde coletiva está menor

Felipe Faleiro

O decreto foi publicado na última sexta-feira, com validade a partir desta segunda

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O primeiro dia sem o uso obrigatório de máscaras no transporte coletivo de Porto Alegre foi de dúvidas entre os passageiros nesta segunda-feira. Os motoristas já não estão mais utilizando o equipamento, mas, entre os usuários, muitos ainda mantêm o item de prevenção contra a Covid-19, alguns inclusive colocando no rosto na hora do embarque. Dentro dos ônibus, as divisões entre aqueles que usam e outros que abrem mão da máscara são mais evidentes.

O decreto foi publicado na última sexta-feira, com validade a partir desta segunda. Junto com a publicação da norma, a Prefeitura divulgou um parecer da Diretoria de Vigilância em Saúde (DVS) do município, no qual destaca, entre outros aspectos, a atual estabilização do número de mortes pela doença na Capital, mas também um “ligeiro aumento” nas internações, “ainda inferior ao mesmo período de 2021”, e um crescimento de 92% de casos confirmados no mesmo intervalo de tempo.

Outro fator considerado foi a recomendação similar feita pelo governo do Estado. Hoje, a vacinação com três doses alcançou 63,4% da população acima de 18 anos na Capital e 73,9% das pessoas entre 12 e 17 anos. O documento também traz estudo do Centro de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (CEVS/RS), apontando que pessoas com comorbidades não-vacinadas com a segunda dose possuem maior risco de morte por Covid-19, com 90,4% dos óbitos de gaúchos com menos de 40 anos pela doença terem acontecido em pessoas com alguma condição de saúde.

O diretor adjunto da DVS, Benjamin Roitman, afirma que o impacto atual da doença na saúde coletiva está menor. “Temos bons índices de vacinação em Porto Alegre, e junta-se a isto estas diminuições nos casos graves e óbitos. Isto nos dá uma certa segurança nesta flexibilização. Felizmente, a Covid-19 está se comportando mais como uma gripe comum que temos todos os anos. No entanto, as decisões pelo uso da máscara são individuais”, afirma.

A recomendação das máscaras estende-se a gestantes, pacientes imunodeprimidos, em tratamento oncológico ou doenças crônicas, além de instituições de longa permanência de idosos.

Clésia Santos da Silva, moradora do bairro Bom Jesus, aguardava o ônibus na área do Terminal Parobé, no Centro Histórico. Para ela, “seria melhor se continuasse obrigatório”. “Com a máscara, me sinto mais protegida. Acho que em ambientes ao ar livre, não tem problema ficar sem ela, mas nos ônibus, às vezes fechados no frio, a situação é diferente, com todo mundo respirando o mesmo ar”, comentou. 

Morador do Jardim Carvalho, Jurandir Oliveira da Silveira, que também aguardava o coletivo, disse ter comorbidades, e, por isso, seguirá utilizando o equipamento de proteção contra a Covid-19, independentemente do decreto. “Concordo que a decisão é de cada um. Quem quiser utilizar, utiliza, e quem não quiser, não usa. Mas acredito também que, até as pessoas acostumarem com a medida, isto ainda vai longe”, opinou.

O médico infectologista Alexandre Zavascki, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, diz que não há nenhuma relação comprovada entre a vacinação e o uso da máscara. “Infelizmente, as autoridades continuam fazendo este tipo de associação. Falta junto nestas liberações uma clara comunicação. Quem hoje está ainda tenho problemas com gravidade mesmo que vacinados? São pessoas idosas, principalmente acima de 75, 80 anos, onde o efeito das vacinas é menor, e pessoas com medicações ou alguma doença que naturalmente leve a uma diminuição da imunidade”, avalia. Por isso, Zavascki sugere que haja a recomendação também a estes públicos, principalmente idosos e quem usa estes medicamentos. “São pessoas que precisam de uma proteção extra, como a máscara”, comenta.

Uso de máscara segue obrigatório em estabelecimentos de saúde

O uso delas segue obrigatório em estabelecimentos de saúde na Capital. “Ao se vacinar, a pessoa não fica completamente protegida da doença, mas felizmente da forma grave, o que também nos tranquiliza. Pessoas com comorbidade têm maiores riscos de doenças graves, e devem continuar utilizando”, afirmou Benjamin Roitman. Ainda conforme ele, os boletins de acompanhamento a cada 15 dias vão poder trazer um cenário mais preciso sobre os efeitos da liberação, e “todos os protocolos poderão ser modificados a qualquer momento, diante da situação epidemiológica”.


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