Hospitais se adaptam para gaúchos nascerem com saúde em meio à pandemia

Hospitais se adaptam para gaúchos nascerem com saúde em meio à pandemia

Coronavírus força instituições a adotarem novos protocolos desde o pré-natal até a internação

Gabriel Guedes

Maternidades precisam se adaptar em meio à pandemia de Covid-19

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Se o desafio para muitos é se manter isolado, com o devido distanciamento social, para evitar uma contaminação por Covid-19, para quem está chegando ao mundo em 2020, muita coisa mudou para que tudo ocorra bem. A pandemia forçou hospitais de Porto Alegre a adotarem novos protocolos desde o pré-natal até a internação, visando proteger os recém-nascidos e suas mães do novo coronavírus. 

O nascimento de uma criança, que antes era um acontecimento que movimentava toda família e amigos, por necessidade, agora se tornou algo mais solitário. A orientação da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS) é para que os familiares tenham a máxima compreensão diante dessa realidade. 

A diretora da SPRS e neonatologista, Desiree de Freitas Volkmer, lembra que a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, por exemplo, é um ambiente muito controlado em função das características imunológicas dos recém-nascidos prematuros e a termo. Mas agora todo este controle se estende às maternidades e centros obstétricos.

Pedro nasceu no dia 15 de maio, no Hospital Divina Providência. Filho do casal Márcia Christofoli, 35 anos, e Felipe Ramires, 36, a chegada do pequeno foi toda diferente. A começar pela recepção no hospital, que iniciou com uma triagem. “Tive que subir na emergência sozinha. Aí só depois da triagem obstétrica é que o pai conseguiu acompanhar, mas com todos os cuidados”, conta. 

Como teve que fazer uma cesárea em caráter de urgência, vi também que eram muito poucos profissionais na sala de cirurgia. Nos dias seguintes, só consegui ter uma hora de visita do acompanhante, que não poderia ser revezado”, lembra. 

Na alta, o casal apresentou o garoto aos avós, mas de dentro do carro, com os vidros fechados, já que eles não poderiam também visitá-los nos hospital, seja por ser do grupo de risco, como por restrição imposta pela instituição. “Tinha toda uma expectativa sobre esta gravidez. Mas acabou sendo uma situação bastante solitária”, avalia Márcia.  

Segundo a médica neonatologista Cristina Medina de Melo, coordenadora médica do Centro Materno Infantil do Divina Providência, até se estabelecer um fluxo para partos e internações levou-se um tempo. “Estas medidas vigoram enquanto perdurar a pandemia, mas sempre estamos atualizando. O nosso boletim do coronavírus já está na sétima versão”, demonstra. 

A enfermeira do Centro Obstétrico, Ana Paula Budel, afirma que antes da pandemia as gestantes subiam direto para a emergência do setor, que fica no 3º andar. Agora com a Covid-19 é feito o procedimento relatado pela mãe do Pedro. “É tudo via telefone, na portaria. Perguntamos se houve sintomas, contato com alguém com Covid-19 etc”, detalha a enfermeira. 
Se a paciente for avaliada como suspeita para a doença, é encaminhada antes para atendimento na emergência clínica. “O que mudou bastante é a questão do acompanhante. O acompanhante agora é sem troca. Na sala de espera é só uma pessoa. Mas todas as boas práticas entre mãe e bebê seguem sendo feitas. Mas se a mãe estiver contaminada, não tem contato por pele com o recém-nascido”, explica. O serviço de foto e vídeo do nascimento ainda segue atuando, mas somente por que é feito por uma equipe fixa da instituição.

No complexo hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, a mudança se estendeu até mesmo ao atendimento de pré-natal. “Nos ambulatórios de pré-natal e ginecológicos, solicitei que os acompanhantes fossem triados na entrada e também que se fizesse o escalonamento de horários de consultas”, revela a chefe do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, Carla Vanin. 

“No início a gente fez uma mudança bem importante, por que somos um hospital de ensino e os residentes fazem plantão. Então dividimos o grupo de atendimento em dois times. Se houvesse uma contaminação, a gente conseguiria isolar o grupo”, lembra. Mas isso só foi possível com a pausa nas atividades eletivas. Com a reabertura gradual dos serviços, a divisão do time de médicos residentes em dois grupos foi encerrada.

Acompanhante fixo

Carla conta que na obstetrícia, por lei, a gestante pode ter um acompanhante - durante e depois do trabalho de parto. Mas para não ocorrer abusos e até mesmo convencer às pessoas a redobrar os cuidados, estará sendo realizado uma campanha para que estas pessoas circulem apenas o necessário. “Que as pessoas cumpram os procedimentos mínimos, usando propé, álcool gel, etc”, aponta. 

Medidas semelhantes que também foram aplicadas no Hospital Moinhos de Vento. A instituição afirma que toda sua equipe, pacientes e acompanhantes devem usar os Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Também há triagem das pacientes e seus acompanhantes. E assim como já foi visto no Divina Providência, a presença de um acompanhante de livre escolha está permitida, mas não pode ser trocado no decorrer da internação. As visitas ficam suspensas e também há restrição do acesso de equipes de filmagem e segundo acompanhante não familiar.

De acordo com Desiree, da SPRS, cada hospital estabelece as suas regras de forma independente. “Mas de um modo geral temos rotinas e protocolos bem estabelecidos. As formas de nascimento continuam sendo conforme indicações obstétricas usuais e condições clínicas maternas”, informa. 

Em Porto Alegre, os hospitais do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) também adotaram novos protocolos para o enfrentamento da pandemia no atendimento obstétrico. Outras instituições da Capital foram contatadas para comentar sobre o assunto, mas não manifestaram interesse até o fechamento desta reportagem. Além dos novos procedimentos na hora do parto, um material elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) estabeleceu recomendações sobre os cuidados respiratórios do recém-nascido com Covid-19 suspeita ou confirmada.


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