Hospitais vivem novo momento no combate ao coronavírus em Porto Alegre

Hospitais vivem novo momento no combate ao coronavírus em Porto Alegre

Meses de março e abril deste ano ainda são considerados os mais difíceis no combate à pandemia

Felipe Samuel

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Coordenadora da UTI do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, a médica intensivista Taiani Vargas lembra março e abril como os meses mais difíceis no combate à pandemia. "Naquele período havia demanda super elevada, com necessidade de acomodar pacientes em UTIs e a emergência lotada. No Conceição, num espaço que é para 20 pessoas, chegamos a ter 48 em ventilação mecânica. Mal dava para passar entre as camas", afirma. Com superlotação da emergência, a equipe precisava escolher quem seria internado primeiro em leitos de terapia intensiva.

"Definir a prioridade de quem ia primeiro era um grande desafio, baseado na capacidade de recuperação. Emocionalmente foi muito difícil, mas tínhamos que tentar ser o mais técnico possível e se amparar na literatura", revela. A exemplo de hospitais referência no tratamento da doença, o Conceição ampliou leitos para atender à demanda crescente e enfrentou um surto do vírus nas dependências do hospital. Taiani explica que após enfrentar o pior cenário da doença, o hospital está voltando a atender no modelo "anterior à pandemia", com realização de procedimentos cirúrgicos eletivos.  

Gerente médica do Hospital Moinhos de Vento, a médica intensivista Juçara Gasparetto Maccari, afirma que desde o início foi um grande desafio o enfrentamento da pandemia. "Quando a gente achou que os números fossem reduzir, que a gente estaria numa situação mais tranquila, foi o pior momento, entre março e abril de 2021. Tivemos que duplicar a quantidade de leitos de terapia intensiva. Tínhamos 56 leitos de UTI adulto e em 2020 já ampliamos para 76. Já estávamos trabalhando com capacidade maior de leitos de terapia intensiva. Em fevereiro ampliamos para 106 leitos de UTI adultos. Mantendo ocupação máxima por muitos dias consecutivos, com paciente crítico em sala emergência", recorda.

Conforme Juçara, além desses 106 leitos o hospital ainda tinha alguns pacientes intubados na emergência. "Isso fez com que a gente tivesse que parar o atendimento de outros pacientes, cirurgias. Outros procedimentos não puderam ser feitos, e já estavam em número reduzido desde início da pandemia. Mas teve esse momento que foi muito crítico, que demandou muito de todas as pessoas que trabalham no hospital", afirma. "Foi realmente um grande desafio para todo mundo. Aqui no hospital a gente conseguiu atender os pacientes, ninguém ficou sem atendimento, mas às custas de um grande esforço de todo mundo", completa.

No período mais crítico, o hospital alugou um contêiner para expandir o atendimento do necrotério e atender uma demanda de atraso na retirada de corpos por parte de funerárias. "Em média, a gente não tem mais de um óbito por dia. E houve um período que tinha ocorrência muito maior de óbitos e nesse período do pior momento da pandemia, nesses 106 leitos de UTI, a gente tinha uma mortalidade na UTI adulto próximo dos 40%. Foram pacientes muito graves que internavam e precisavam de UTI. Houve momentos em que pacientes que ocupavam esses 106 leitos estavam precisando de respirador, suporte respiratório, pacientes mais graves do que a gente normalmente tem no perfil de UTI", frisa.

Atualmente, em média, o número de pacientes internados com Covid-19 na instituição é de 45. "No pior momento chegamos a ter 280 pacientes internados. De 470 leitos, mais da metade do hospital era covid-19", destaca.


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