Incertezas prevalecem sobre alívio por reabertura de lojas em Porto Alegre

Incertezas prevalecem sobre alívio por reabertura de lojas em Porto Alegre

Empreendedores e pequenas empresas retomaram atividades nesta terça

Gabriel Guedes

Nas ruas, o movimento de pedestres, maioria com suas máscaras no rosto, alternava entre momentos de pouca circulação

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Um sentimento de alívio pôde ser sentido por alguns comerciantes de Porto Alegre que poderam, depois de quase 50 dias, reabrir seus estabelecimentos. O alento de poder trabalhar em seus comércios contrastava com uma terça-feira de céu bastante carregado. Nas ruas, o movimento de pedestres, maioria com suas máscaras no rosto, alternava entre momentos de pouca circulação e alguns em que parecia que iria lotar as ruas, mas que no final das contas, não chegava a empolgar quem retomou as atividades.

O problema, na opinião de alguns dos lojistas, são as incertezas do cenário econômico daqui pra frente: se terão clientes e com isso, poderão manter o negócio funcionando. De qualquer forma, quem foi às compras, encontrou trabalhadores protegidos e distanciados dos clientes. Umas das exigências conferidas pela força-tarefa composta por 116 agentes da Prefeitura da Capital, entre fiscais e guardas - que foram acompanhar este recomeço bastante esperado nesta terça-feira. Foram interditados oito estabelecimentos no Centro e um na Avenida Assis Brasil, que não tinham permissão pelo decreto para funcionar.

Os decretos  20.564 e 20.565 foram publicados no sábado e permitiram retomar ontem as atividades de autônomos, profissionais liberais, microempreendedores individuais e microempresas. As microempresas puderam abrir a partir das 9h. Todos sempre respeitando regras de higienização e distanciamento.

Foi o caso da loja de fotos de Airton Junior, 44 anos, na Avenida Otávio Rocha, no Centro, que atendia os clientes da rua. Na entrada da loja, uma corrente de plástico impedia o acesso deles ao interior do negócio. “Depois de 45 dias, abrir é um alívio. Eu tô rezando que dê alguma coisa para poder pagar os funcionários”, aguarda. Junior diz que emprega quatro pessoas e duas delas estão trabalhando de casa. Em nenhum momento recorreu à suspensão dos contratos de trabalho ou demissão. “Usei minhas economias para manter eles enquanto estava fechado. não precisei pagar aluguel neste tempo. Foi uma decisão inesperada e em boa hora do proprietário”, conta o microempresário.

Na Rua Dr. Flores, uma loja de calçados também retomava os negócios nesta terça-feira. Mas apesar da alegria pela reabertura, a gerente, Lisandra Santos, 42, relatava uma sensação esquisita. “É estranho. As pessoas têm receio de entrar. Querem comprar, mas têm receio disso. Estamos na expectativa para ver se o negócio vai se pagar”, adianta. “Isso realmente é uma situação que foi criada pelo coronavírus e todos vão enfrentar. As empresas, num primeiro momento, não vão suprir seus custos, por terem ficado tanto tempo fechadas, de uma maneira tão abrupta. Mas era previsto. E o consumidor está com medo de gastar, com medo de sair, com falta de confiança no futuro”, avalia o presidente do Sindilojas Porto Alegre, Paulo Kruse.

Em uma outra loja, na Avenida Salgado Filho, que faz manutenção e vende acessórios para telefones celulares, uma pequena fila, com quatro consumidores, chegou a se formar. “A gente veio comprar um pendrive e um cabo para o celular. Com as lojas fechadas, estava difícil; deveriam abrir mais lojas, pois muita gente está sem emprego”, acredita Laura Maria Fernandes, 49, moradora do bairro Medianeira, que estava acompanhada da filha, Catiele, esperando entrar no local.

“Na verdade, estes tipos de empresas autorizadas são realmente empresas pequenas. Porém, a gente imagina que lojas de móveis, de baixo fluxo, de baixíssimo impacto, por exemplo, poderiam estar abertas. Única observação é que a medida foi um pouco tímida, visto que o decreto do governo do Estado é mais amplo”, critica o presidente da CDL Porto Alegre, Írio Piva.

Um passo por vez

O secretário extraordinário de Enfrentamento ao Coronavírus, Bruno Miragem, conta que a estratégia inicial nesta reabertura de algumas lojas e estabelecimentos, será o reforço da fiscalização, para orientar sobre o conteúdo do decreto e também flagrar negócios não enquadrados na permissão atual. O diretor de Fiscalização da Prefeitura, Denis Carvalho, coordenou a força-tarefa na manhã de ontem, que reuniu no Largo Glênio Peres, mais de 100 fiscais de vários setores da administração, que percorreram o Centro da cidade em busca de irregularidades. “Verificamos alvarás e comprovantes de enquadramento de atividades. Quem estiver fora, mas aberto, vai ser interditado e pode pagar multa”, alerta.

Miragem afirma que junto com a permissão de funcionamento, há medidas indicadas para reduzir o risco de contágio nos estabelecimentos, como o oferecimento de álcool gel, a obrigação de higienização  permanente de superfícies e sanitários onde houver, o distanciamento entre as pessoas e a limitação de acesso a 50% da capacidade máxima de lotação de cada local.

Durante os próximos dias, haverá o monitoramento diário do impacto sobre ritmo de contágio e capacidade de atendimento do sistema de saúde. Resultado que pode ser crucial para remover as restrições ou torná-las ainda mais duras. “As demandas e sugestões de todos os setores econômicos e sociais da cidade vem sendo recebidos e examinados continuamente pela equipe técnica do Município”, destaca.


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