Lançada campanha contra assédio sexual no transporte público

Lançada campanha contra assédio sexual no transporte público

Cartazes e painéis serão espalhados nos trens e plataformas das estações do Trensburb

Jessica Hübler

Lançada campanha contra assédio sexual no transporte público

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O Comitê Gaúcho Impulsor ElesPorElas, integrante do movimento mundial da ONU Mulheres, lançou nesta segunda-feira uma campanha contra o assédio sexual no transporte público, com o slogan "Fim da linha para a violência contra a mulher".

A ação foi realizada na Estação Canoas da Trensurb, em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. A campanha é coordenada pelo Comitê, com participação da Trensurb, Universidade La Salle, Agência Moove, Ministério Público, Associação de Procuradores do Estado, Coletivo Hip Hop Linha do Trem e Escritório da ONU em Brasília. A iniciativa é o primeiro projeto coletivo do Comitê, cujo objetivo é debater e provocar reflexões sobre o fim da violência contra mulheres em espaços de transportes públicos.

Cartazes e painéis serão espalhados nos trens e plataformas das estações, entre Porto Alegre e Novo Hamburgo. As peças terão imagens com destaque para o número 180 da Central de Atendimento à Mulher. A ligação é gratuita. Além dos cartazes, a campanha contará com outras atividades, como intervenções artísticas com o uso grafite e de batalhas de hip hop em estações selecionadas, que ocorrerão por um período de três meses. A intenção é sensibilizar e incentivar usuários da Trensurb para que rompam com o silêncio e denunciem casos de assédio e abusos ocorridos nos vagões.

De acordo com o diretor-presidente da Trensurb, David Borille, a empresa está empenhada em participar do programa. "Acreditamos que é uma ação de grande extensão e merece o apoio de todos, na busca da conscientização das pessoas. Por parte da Trensurb estamos determinados para que o projeto tenha sucesso e que o reflexo positivo seja a redução da violência contra as mulheres", afirmou.

Conforme Borille, cerca de 200 mil pessoas circulam diariamente nos trens e estações e, com este alcance, será possível alcançar um número ainda maior. "Procuramos fazer a nossa parte, pois a soma de todas as pequenas partes surtirão efeitos positivos", enfatizou.

Para o coordenador do Comitê Gaúcho ElesPorElas, deputado Edegar Pretto (PT), todos aqueles que observarem as mensagens no interior dos trens serão provocados e poderão se engajar na luta pelo fim da violência contra as mulheres. "Precisamos realizar grandes atos culturais, contar com manifestações de ativistas e mobilizar a sociedade em geral, conversando com homens e mulheres, para que juntos possamos combater a violência contra as mulheres", destacou.

Na Estação Canoas, local de lançamento da campanha, a exibição de um grafite da artista Ana Carolina Kruze Marchesan, que assina como Gofa, representa a conquista de espaço das mulheres negras, com a arte de uma mulher negra que faz parte da cultura hip hop. "Precisamos destacar as mulheres negras que sofrem mais na sociedade, tanto com machismo, como também com o racismo. Todos deveriam ter o seu lugar no mundo", disse.

Primeira ação

A primeira ação da campanha ocorreu na Universidade La Salle (Unilasalle), logo após o evento de lançamento. No local, além de apresentação de hip hop e exposição de músicas relacionadas à temática, a representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, destacou a importância da iniciativa e enfatizou que combater a violência contra as mulheres está entre os objetivos destacados na Agência 2030, da ONU, que trata da transformação do mundo através do desenvolvimento sustentável e inclui a igualdade de gênero como um dos pilares.

"É uma campanha que parte de situações concretas, silenciadas e muitas vezes sofridas de forma solitária por meninas e mulheres, não só nos transportes públicos", enfatizou.

Conforme Nadine, meninas e mulheres são impedidas, pela violência, de ir e vir entre residência, trabalho e estudo com tranquilidade. "Pelo contrário, todos os dias elas adotam uma série de cuidados para que não sejam molestadas, nem culpabilizadas pelas práticas patriarcais que historicamente violentam todas as mulheres e fazem recair sobre elas medos, angústias e todos os sentimentos característicos da violência sexista", definiu.

Com base nesta realidade, o Comitê "reage com este comprometimento público, para prestar solidariedade às mulheres e meninas, mas sobretudo em estar nesta posição contra o machismo e mobilizar a sociedade gaúcha para o fim da violência de gênero". A procuradora de Justiça e coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos, da Saúde e da Proteção Social, Ângela Salton Rotunno, contou que o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS) recebeu em torno de 30 mil inquéritos policiais em 2017, sendo que destes, oito mil estavam relacionados à violência contra a mulher.

"Esta violência é muito maior do que se imagina, não só pelo reflexo das denúncias que chegam às autoridades, mas sim porque nem todos os casos chegam. Isto é apenas a ponta do iceberg", assinalou.

De acordo com Ângela, através da visibilidade desta questão é possível despertar as consciências para modificar este quadro "tão dramático".

O reitor da Unilasalle, Paulo Fossatti, ainda destacou que é preciso romper o silêncio que acoberta a violência contra as mulheres. "Estamos todos reunidos ao redor de uma causa que vale a pena. Olho para este projeto com grande esperança, temos a grande oportunidade de fazer a virada da chave. Estamos engajados", afirmou.

A presidente da Associação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul (Apergs), Marcela de Farias Vargas, lamentou que ainda seja necessário tratar de um tema como a violência de gênero. "Não podemos esquecer deste tema, é muito fácil olhar para o lado e fingir que não acontece, mas está aí todos os dias e vamos à luta", declarou.  



Números


Nos últimos três anos, a Trensurb registrou 40 casos de assédio sexual. Uma parcela de 42% das brasileiras com 16 anos ou mais declarou já ter sido vítima de assédio sexual, conforme pesquisa Datafolha. Dados da Secretaria de SSP-RS mostram que no RS os casos de estupro aumentaram no comparativo entre os períodos de janeiro a dezembro de 2016 e 2017: foram 1.574 casos em 2016, contra 1.661 em 2017. Uma média de quatro estupros por dia. No caso de feminicídios consumados, foram 96 em 2016, contra 83 no ano passado. Já as tentativas de feminicídio aumentaram em 23,2%, e saltaram de 263 para 324 tentativas. A cada quatro dias uma mulher morre vítima de feminicídio no RS, e 63 mulheres sofrem por dia algum tipo de agressão com lesão. Entre janeiro e junho deste ano, conforme dados da SSP-RS, mais de 18 mil ameaças contra mulheres foram registradas.

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