Livro sobre Varig será lançado por ex-funcionário da empresa

Livro sobre Varig será lançado por ex-funcionário da empresa

Autor, Mário de Albuquerque trabalhou ao longo de quatro décadas na companhia

Mauren Xavier

Livro sobre Varig será lançado por ex-funcionário da empresa

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O livro sobre a companhia Varig promete trazer um material rico por meio de dezenas de documentos, fotos inusitadas, materiais de propaganda, anúncios e outros itens. O fio condutor é a história de Ruben Martins Berta, que foi presidente da Varig entre 1941 e 1966 e personagem de destaque da aviação comercial no Brasil. “Ele era idolatrado por muitos e também odiado por outros”, comenta o autor do livro Mário de Albuquerque. O ex-funcionário garante ainda que não foram poucos os casos em que Berta utilizou-se de subterfúgios para conquistar os seus objetivos.

Um dos casos em que esse perfil ficou em evidência foi quando ele transformou um bimotor de modelo C-46 em um quadrimotor para conseguir atender a uma determinação do governo argentino, que em 1953 abria o seu mercado. “Berta iludiu os governos brasileiro e argentino e a imprensa. Para atender a exigência de ser um avião de quatro motores, ele deu um show de marketing, acrescentando superficialmente dois motores que mais faziam barulho do que representavam alguma diferença”, recorda.

Outra passagem que está narrada na publicação é o episódio conhecido como a Guerra das Letras. Segundo o autor, neste caso, a ideia é revelar os bastidores e trazer inquietações em relação à presença de um personagem nunca antes falado. “É uma figura enigmática ligada aos militares e que foi o elo de ligação entre o governo e a Varig, repassando informações sigilosas, porém, nunca conhecido formalmente”, adianta o autor. De acordo com ele, o episódio acabou por dar à Varig o controle da aviação comercial brasileira durante o regime militar.

Nas páginas do livro estarão ainda registrados outros acontecimentos, comenta Albuquerque, como a atuação da Varig no episódio da Legalidade. Em 1961, em meio a turbulências políticas, Berta e Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, entraram na sala de Controle de Serviços e de Manutenção para pedir um avião que buscaria o presidente João Goulart, que estava em Montevidéu. “Coube a mim escolher a aeronave, um Caravelle, para fazer a viagem, que foi histórica, com as presença de jornalistas e outras autoridades. No final, foi um sucesso”, garante o autor.

Parcela do pioneirismo da Varig passou exatamente pelas decisões de Berta, como em 1960, quando começou a operar o Boeing 707 e derrubou a concorrência. Isso ocorreu porque ele tinha turbinas inglesas, que eram mais potentes, e permitiam a realização de viagens diretas entre o Rio de Janeiro e Nova Iorque (EUA). Ao mesmo tempo, a concorrente Panamericana, que tinha origem nos Estados Unidos, não conseguia fazer esse trecho sem a escala em Lima. “Isso representou ganho de tempo e de velocidade. A Varig se tornou imbatível”, comenta.

A história

Fundada em 27 de maio de 1927, pelo alemão Otto Meyer, a Viação Aérea Rio Grandense (Varig) iniciou suas operações com rotas basicamente regionais. Em 1942, fez o primeiro voo internacional entre a capital gaúcha e Montevidéu. Atingiu seu ápice entre 1950 e 1970, ganhando relevância internacional, especialmente com a falência da Panair, em 1965.

Uma das marcas da Varig foi a criação, em 1945, da Fundação dos Funcionários, que buscou conceder benefícios a funcionários e familiares por meio da lucratividade da empresa. Ao longo dos anos, aumentou essa participação acionária até controlar 87% do capital da empresa.

Ao longo da sua história, a empresa incorporou outras companhias aéreas, como a Real e a Cruzeiro, o que expandiu ainda mais a sua presença e relevância na aviação. No ápice, chegou a ter 24 mil funcionários. Em 1980, um dos diferenciais da Varig era o serviço de bordo.

A situação financeira da empresa ficou enfraquecida entre as décadas de 80, 90 e início dos anos 2000. Dentre os fatores estavam o congelamento das tarifas pelo governo, iniciado em 1986, problemas de administração e a concorrência, com a abertura do mercado para empresas estrangeiras em 1990. Além disso, o governo federal, pelas perdas com o congelamento das tarifas, acumulou uma dívida de R$ 4 bilhões com a Varig, que até hoje não foi totalmente paga. No ano de 2005, a Varig entrou na Justiça com pedido de recuperação judicial. Em 20 julho de 2006 teve sua estrutura desintegrada.
Um dos momentos narrados no livro de Mário de Albuquerque diz respeito à relação da Varig com o Correio do Povo.

Antes mesmo da sua fundação oficial, foi publicada no jornal uma reportagem de Archimedes Fortini sobre a aviação. “A Varig se tornou conhecida, vencendo barreiras praticamente intransponíveis. Pela relevância do jornal, essa reportagem ajudou muito”, comenta o autor.

A publicação em questão foi uma entrevista com Otto Meyer, fundador da Varig, em 1927, sobre os seus planos no Brasil. Em agradecimento, na década de 70, o então presidente da Varig, Erik de Carvalho entregou ao jornalista Fortini o troféu “Tucano de Ouro”, distinção da empresa aos seus maiores colaboradores. Nas páginas do Correio do Povo também foi publicada notícia sobre a primeira reunião que tratou da fundação da Empresa de Viação Aérea Rio-Grandense, sendo coordenada por Otto Meyer, em 1º de abril de 1927.

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