Médico gaúcho relata processo de vacinação e combate à Covid-19 em Londres

Médico gaúcho relata processo de vacinação e combate à Covid-19 em Londres

Dumitriu Zunino Saucedo contou como o país se prepara para encarar uma segunda "onda" da doença


Felipe Samuel

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Com o agravamento dos casos de Covid-19 na Inglaterra, especialmente da nova variante do vírus detectada em Londres e nas zonas sul e sudeste do país, profissionais de saúde voltaram a conviver com leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) lotados e com a necessidade de reforçar as equipes na luta contra o novo coronavírus.

Radicado em Londres, o médico gaúcho Dumitriu Zunino Saucedo, 41, que atua no Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) britânico, é um dos que passaram a colaborar na linha de frente do combate à Covid-19. Ele relata as dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde e como o país se prepara para encarar uma segunda 'onda' da doença.

Cirurgião vascular do Royal Free Hospital, um hospital de grande porte ao norte de Londres, Saucedo - que é formado pela Faculdade de Medicina da Ufrgs - se reveza entre as cirurgias de urgência e emergência e os plantões na UTI, onde auxilia no tratamento de pacientes Covid-19. Como houve redução das cirurgias eletivas, parte da equipe foi redirecionada para atendimento naquele setor. "Alguns colegas fizeram coberturas de turno da enfermagem, porque pacientes intubados em UTI precisam de um profissional por paciente", destaca.

Com o avanço da doença, as baixas também acabam acontecendo entre os profissionais de saúde. "Uma pessoa que testa positivo ou fica doente, mesmo com quadro leve como a maioria tem, fica afastada dez dias do trabalho", afirma, lembrando que ele próprio contraiu o vírus e precisou se afastar do trabalho até cumprir quarentena.

Com mão de obra limitada e os novos casos confirmados crescendo de forma exponencial, o hospital decidiu ampliar o número de leitos, além de adquirir material e equipamentos. "A diferença dessa segunda 'onda' que eu percebo é que o número de casos está aumentando depressa, a velocidade com que os casos aumentam é muito maior do que na primeira. Não posso dizer se tem relação com a mutação que o vírus sofreu, que foi detectada, mas está realmente diferente. As coisas estão mudando mais rapidamente", relata, acrescentando que as projeções das autoridades de saúde apontam que o pico da doença deve ocorrer em 10 de janeiro.

Esforços no combate

No Royal Free Hospital, todas as cirurgias eletivas e atendimentos ambulatoriais foram canceladas. O objetivo é direcionar esforços no combate à Covid-19. "Só atendemos o que não for Covid-19 se for realmente urgência ou emergência, somente casos muito graves", completa. Há duas semanas convivendo com profissionais que atuam na linha de frente de combate à doença, Saucedo relata o esforço diário das equipes.

"O atendimento a pacientes Covid-19 demanda demais da estrutura e de pessoal. Cada paciente Covid-19 que precisa ser virado de bruços e de costas na UTI, precisa de sete pessoas para cada movimento de virar de costas ou de barriga para baixo. Isso demanda quase dez minutos. Não são todos que precisam todos os dias, mas há duas semanas atrás eram dois ou três. Hoje são 20", observa.

Além do maior número de profissionais, há necessidade de aquisição de materiais de proteção para as equipes, como máscaras e luvas. "Para atravessar o corredor da porta de uma UTI para outra, tem que tirar avental, máscara, luva, e vestir outra para entrar na outra porta", destaca.

Por conta do trabalho que passou a realizar junto a pacientes com Covid-19, Saucedo - que está há um ano e três meses na cidade -  tomou a primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech. "Baseado nessa ajuda que a gente tem feito na UTI, a direção do hospital decidiu vacinar os profissionais que estão na linha de frente, especialmente médicos e as equipes de enfermagem", destaca.

Vacinação 

Mais do que lidar com o crescimento de casos do novo coronavírus, os profissionais de saúde também precisam se dividir para o processo de vacinação das equipes, que envolvem protocolos e preenchimento de termo de consentimento. "Esse esforço da vacina a gente não percebe, mas também demanda muita gente. É um esforço bem grande de vacinação, porque para cada pessoa que vai vacinar precisa de um profissional de saúde, médico ou da enfermagem, para explicar e pegar assinatura. E isso acaba tomando mais tempo do que a vacina. A vacina leva dois minutos, mas preencher papel leva uns 10 minutos", afirma. "Não é simplesmente enfileirar as pessoas e sair vacinando", completa.


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