Médicos questionam critérios da vacinação contra a Covid-19 para a categoria no RS

Médicos questionam critérios da vacinação contra a Covid-19 para a categoria no RS

Profissionais alegam que mesmo aqueles que não estão na linha de frente, como nas UTIs, ficam expostos ao coronavírus

Christian Bueller

Profissionais da saúde estão no grupo prioritário para vacinação

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Nesta primeira etapa de imunização contra Covid-19, o público-alvo em todo o Brasil são profissionais de saúde, idosos em residenciais de longa permanência, indígenas e quilombolas. Com a chegada da vacina, em um primeiro momento, veio o otimismo, mas o baixo número de doses em relação ao total da população, mesmo contando apenas o grupo prioritário, começam a aparecer conflitos a respeito dos critérios de escolha para os primeiros a receberam as doses.

Enquadrados no primeiro grupo citado, os médicos já conseguiram salvar muitas vidas do coronavírus, trabalhando horas a fio na linha de frente de combate à doença, certamente, são prioridade para a picada imunizante no braço. No entanto, profissionais que não estão nas emergências e nas UTIs, mas que atendem em consultórios ou são vinculados a corpos clínicos de hospitais questionam entidades representativas da categoria a respeito do direito ou não de receberem aplicações neste primeiro momento.

“Podem não atender diretamente pacientes que tenham queixas de sintomas da Covid-19, mas alguns dos atendidos eventualmente podem ter. Muitos colegas têm dúvidas, nos perguntam qual o seu lugar”, diz o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), Eduardo Neubarth Trindade.

Neubarth lembra que muitos destes médicos estão expostos e também são do grupo de risco por terem doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, asma, doença pulmonar e estarem acima dos 60 anos. Nos casos das mulheres, gestantes e puérperas (que tiveram filho há pouco tempo) também são do grupo de risco.

O vice-presidente do Cremers se reuniu recentemente com a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, para tratar do tema. “O maior problema é a falta do insumo, das vacinas em si. Estamos acompanhando de perto para que todos os profissionais de saúde sejam imunizados o quanto antes. Inclusive os da retaguarda, que atendem muitos assintomáticos”, pontuou.

O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcelo Matias, compartilha da visão. “Todos os médicos, mais cedo ou mais tarde, fazem o atendimento quanto ao coronavírus nem que seja nos seus consultórios. Neste sentido, deveriam estar na primeira linha (da imunização)”. Ele também relatou os fatores de riscos que profissionais da retaguarda eventualmente possam ser acometidos. “Isso traz desconforto à categoria, pois alguns podem ter atendido pacientes com Covid-19”, ressaltou.

Ciente de que precisa evitar “uma guerra de atrito” em meio a uma pandemia, Matias diz que a entidade aceitou a parceria com o governo do RS. “Mas fazemos questão de tentar fazer a compra das vacinas para resolver as dificuldades”, adiantou. Segundo ele, o Simers está atento à execução do plano de imunização por parte de prefeituras e governo estadual, a fim de garantir que os grupos prioritários tenham acesso às primeiras doses disponíveis, incluindo os médicos. “Consideramos que sempre é possível aprimorar processos e tornar o acesso e a distribuição das doses mais ágil”, reitera Matias.

Nesta semana, o governador Eduardo Leite confirmou o interesse do Estado em adquirir doses da vacina russa Sputnik V, caso o uso seja autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde não inclua o imunizante no Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Confira a ordem recomendada de vacinação dos trabalhadores de saúde conforme pactuado em reunião com a diretoria do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do RS (Cosems), na última segunda-feira:

1. Equipes de vacinadores volantes

2. UTI e CTI Covid-19

3. Rede de Urgência e Emergência

4. Unidade de internações clínicas para Covid-19

5. Ambulatórios exclusivos ou preferencialmente Covid-19

6. Coletadores de Swab nasofaringe e orofaríngeo

7. Ambulatório de demanda espontânea ou atenção primária e básica

8. Serviços ou ambulatórios que prestam atendimento a pacientes imunossupressos

9. Áreas não Covid-19 de hospitais e demais hospitais não Covid-19

10. Demais ambulatórios e Pronto Atendimentos não Covid-19, incluindo todas as unidades e postos de saúde

11. Consultórios, laboratórios e farmácias de instituições privadas, além de profissionais de saúde que realizam coleta de swab e os que realizam atendimentos eletivos ou assistência ao público em geral

12. Demais profissionais de saúde


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