Mais de 2 mil pessoas vivem nas ruas de Porto Alegre

Mais de 2 mil pessoas vivem nas ruas de Porto Alegre

Apesar de vagas em abrigos, estruturas às vezes mais limitam do que atraem os moradores de rua

Henrique Massaro

Fasc admite que população de moradores de rua deve estar crescendo em Porto Alegre

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Édson é natural de Santo Antônio da Patrulha, mas já morou na praia. Viveu em Capão da Canoa, Tramandaí e em Torres. Depois, trocou as belezas do Litoral pelo cenário urbano de Porto Alegre. No entanto, apesar de ter passado por tantos locais diferentes, esteve sempre no mesmo lugar. Porque há 36 anos, mais da metade de sua vida, ele é morador de rua, mais um em um universo superior a 2 mil pessoas em Porto Alegre.

Aos 48 anos de idade, Édson passa seus dias nas imediações do Chalé da Praça XV, no Centro Histórico de Porto Alegre, como fazem outras pessoas em situação de rua. À noite, ele se desloca poucos metros para dormir em um posto de combustíveis junto da esposa Raquel, que conheceu quando vivia nas ruas de Santo Antônio.

A história dela sem um lar é mais curta. Com 42 anos, conta que até dois anos atrás tinha casa, onde morava com o ex-marido e quatro filhos. Os motivos da ida para a rua são atribuídos à separação. Desde então, está com Édson, que também já teve casa, contudo se viu desamparado quando perdeu os pais e avós.

O homem conta que já teve aluguel social, com o qual vivia com outras pessoas na Restinga, zona Sul de Porto Alegre. “A gente se vira como pode”, resume Raquel, ao falar das atividades do casal para sobreviver. E, ao contrário do que se tende a pensar, garante que não eles têm problemas com álcool ou drogas ilícitas. “Nosso único vício é o refri e o palheiro que eu fumo”, relata Édson.

Pelas praças, pontes e viadutos

A Praça XV é onde uma mulher já vive há 39 anos. A relação com o local é tão duradoura que ela pede para ser identificada apenas como “Baixinha da XV”. Como os outros, ela afirma que já teve casa, mas hoje vive nas ruas e trabalha com reciclagem. Aos 61 anos, tem cinco filhos e dois netos, todos, segundo ela, também moradores de rua. “Criei todos os meus filhos na frente dessa árvore”, disse.

A população que vive nas ruas pode ser vista em diversos outros pontos. Debaixo dos viadutos, como o da Conceição, é comum a imagem de colchões e cobertas de cama. O viaduto Otávio Rocha é outro exemplo e reúne diversos moradores de rua debaixo de seus arcos pela avenida Borges de Medeiros. Apesar de se tratar de um problema social, o cenário também provoca incômodo e reclamações de moradores da região e por quem passa pelo entorno. A ocupação irregular resulta na presença de lixo o e cheiro de fezes e urina. Em alguns casos, há quem tenha sensação de insegurança.

O Centro Histórico, a Cidade Baixa e o Floresta são os bairros que registram o maior número de homens, mulheres e crianças em situação de rua, de acordo com o último estudo feito a respeito.



Divulgados em pesquisa feita pela Ufrgs e acompanhada pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), eles indicaram que 2.115 pessoas estavam em situação de rua em Porto Alegre. O estudo mostrou que o número era 57% superior ao de cinco anos antes. As informações, contudo, são referentes ao ano de 2016 e, desde então, nenhum outro levantamento chegou a ser feito. Apesar disso, a diretora técnica da Fasc, Vera Ponzio, admite que percebe-se um possível aumento na população de rua desde então.

Estrutura de abrigos por vezes mais afasta do que atrai


As opções da Assistência Social para moradores de rua mostram uma disparidade. Ao mesmo tempo que a capacidade dos locais existentes – entre abrigos, albergues, lares de acolhimento para idosos e imóveis para aluguel social – não é suficiente para atender nem metade das pessoas que precisam, na maioria deles há vagas sobrando. O motivo, de acordo com a diretora técnica da Fasc, é que as regras e até mesmo a estrutura desses espaços por vezes limitam que mais gente possa ser atendida.

Entre os quatro abrigos existentes, por exemplo, segundo Vera Ponzio, apenas um deles é voltado para casais. Nos outros, marido e mulher precisam se separar, o que muitas vezes faz com que eles não queiram ficar no local. Outro problema, nesses e em outros lugares, é que as vagas disponíveis muitas vezes são para a parte de cima de beliches e, como muitas das pessoas em situação de rua têm problemas de saúde, não conseguem subir até as camas. “Precisamos que o poder público tenha mais criatividade de alcançar esses indivíduos”, explica Vera, ao falar das opções existentes.

Os abrigos são o de Família, o Bom Jesus, o Marlene e a Casa Lilás, mantido em parceria do município com a sociedade civil para mulheres com crianças. Ao todo, os três espaços têm a capacidade de atender 214 pessoas.

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