Março registra quase um terço do total de mortes por Covid-19 em Porto Alegre

Março registra quase um terço do total de mortes por Covid-19 em Porto Alegre

Aceleração na mortalidade faz que 2021 tenha quase metade dos óbitos relacionados ao coronavírus

Christian Bueller

Funcionários do Cemitério Municipal São João realizam devidamente paramentados funerais de vítimas de Covid-19.

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Num reflexo do que também aconteceu no Rio Grande do Sul e no Brasil, março de 2021 foi o mês que registrou mais mortes por Covid-19 em Porto Alegre. Com 1.079 vidas perdidas, o mês teve quase um terço dos 3.558 óbitos em decorrência do coronavírus na Capital. As 1.685 vítimas do primeiro trimestre deste ano correspondem a 47,36% do total, quase a metade, em relação às mortes ocorridas nos meses da pandemia em 2020, iniciada em março anterior, que representam 52,64%.  

Foram 1.873 mortes pela doença em Porto Alegre em 2020, desde os primeiros três idosos que faleceram em março do ano passado. Os números cresceram exponencialmente até o recorde de 349 óbitos em agosto. Com as primeiras medidas de restrições das atividades, a mortalidade baixou em setembro e outubro, quando a realidade na Capita era de bandeira laranja. Novembro e dezembro apresentaram nova subida de mortes, voltando a ultrapassar a casa dos 300, dados que mantiveram a média em janeiro (298) e fevereiro (308) de 2021. 

Especialistas referiram a nova alta de demandas nos hospitais e, em consequência, novas mortes, às aglomerações de Natal e final de ano. Já o recorde de óbitos em março deste ano é considerado um resultado da falta de distanciamento durante as festas de Carnaval.

O infectologista do Hospital Moinhos de Vento, Alexandre Zavascki, lamentou as mortes por Covid-19 na Capital gaúcha. “Porto Alegre é a capital do estado que divide a liderança com Rondônia no ranking de óbitos por Covid-19 em relação ao tamanho da população”, escreveu em suas redes sociais. Para ele, há uma série de ações que poderia ser tomadas para amenizar o cenário: “Por exemplo, educar as pessoas sobre as proteções, fornecer máscaras PFF2 para trabalhadores em ambientes fechados, melhorar o transporte evitando aglomerações, ampliar o programa de vacinação, conseguir recursos para ampliar testagem”, sugeriu. 

O apoio a empresários e pequenos comerciantes também foi citado por Zavascki: “Para que consigam fechar por 14 dias, que seja, sem falir. Soluções que competiriam a gestores públicos e representantes eleitos verdadeiramente interessados e minimamente conectados com a realidade”, criticou.

Sparta aponta P.1 como fator de piora

Secretário Municipal de Saúde desde janeiro, o médico Mauro Sparta acredita que os efeitos da doença começaram a piorar com o surgimento da variante P.1 da Covid-19, em fevereiro. “Não havia um recrudescimento da doença até chegar essa nova cepa que veio de Manaus. Aliada às festas de Carnaval, acabamos tendo o pico da doença, não só no RS, mas no país inteiro. Fizemos um esforço, abrindo 239 novos leitos de UTI e 635 leitos clínicos”, explicou. Sparta reiterou que Porto Alegre é a capital que mais vacina, processo que engloba frentes das mais variadas: “Agradeço ao Exército, entidades e instituições que cederam espaço e, principalmente, aos profissionais que nos têm ajudado nas imunizações”.

Sparta enfatizou que a cidade seguirá vacinando, mesmo em dias de feriado, enquanto houver doses. “Vamos aplicar as doses que nos chegam. Há uma possibilidade de recebermos mais nos dias 5 e 7 de abril. Seria importante para mantermos a agilidade”, disse. Apesar da diminuição na chegada de pacientes com problemas respiratórios nas unidades de pronto atendimento e postos de saúde, nas duas últimas semanas, o secretário salientou a necessidade de se manter os protocolos sanitários para combater a propagação do vírus. “Na quarta-feira, eram quatro pessoas nas UPAs. Até o meio-dia de hoje, não tinha nenhuma. A expectativa é de que a doença em si vai ceder. Acho que o pior já passou. Mas não queremos que as pessoas se despreocupem, pois o momento ainda é grave”, pontuou.

Um dos pontos mais polêmicos durante a pandemia é a relação entre economia e saúde, enquanto especialistas técnicos pregam o distanciamento social, uma das bandeira do prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo é não fechar a cidade. Para Sparta, o desafio do gestor é compatibilizar essas duas vertentes. “O vírus se propaga em festas clandestinas, em encontros. Os empresários estão responsáveis, tomando cuidados. Temos que pensar que se arrecadação do município diminui, os recursos para a saúde também diminuem. O prefeito está encarando isso com valentia. Posso dizer que estamos trabalhando extenuadamente”, garantiu o secretário.

RS teve mais que o triplo de mortes em março

No RS, foram 7.176 mortes somente no mês de março de 2021, mais que o triplo do que em dezembro de 2020, recorde anterior, com 2.091. Em escala nacional, março se encerra com 66.868 óbitos, mais do que o dobro das mortes registradas em julho de 2020, o segundo pior mês da pandemia do Brasil, quando 32.912 foram vítimas da doença.  


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