Nºs da Covid-19 no RS apresentam divergências e atrasos na contabilização

Nºs da Covid-19 no RS apresentam divergências e atrasos na contabilização

Governo do estado garante que não há qualquer influência na definição dos critérios do Distanciamento Controlado

Gabriel Guedes

Lajeado é a maior cidade do Vale do Taquari e concentra o terceiro maior número de casos da Covid-19 no Rio Grande do Sul

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O Distanciamento Controlado, método desenvolvido pelo próprio Rio Grande do Sul para enfrentamento da pandemia da Covid-19 nas diferentes regiões do estado, completou uma semana de operação no último sábado. O RS foi dividido em 20 regiões, que são analisadas considerando a velocidade de propagação do novo coronavírus e a capacidade de atendimento do sistema de saúde. No total, 11 indicadores, como número de novos casos, óbitos e leitos de UTI disponíveis, dentre outros compõem uma equação que determina a classificação das bandeiras de cada uma das regiões. Mas quem espera dados atualizados, vai encontrar divergências entre o que o município, estado e Ministério da Saúde estão divulgando e até mesmo a falta de informação por parte de algumas administrações. Há casos em que os dados estão estão há pelo menos três dias sem atualizações.

Conforme o grau de risco em saúde, cada região recebe uma bandeira nas cores amarela, laranja, vermelha ou preta. O monitoramento é semanal, e a divulgação das bandeiras ocorre aos sábados, com validade a partir da segunda-feira seguinte. Dependendo do resultado, moradores de uma região poderão ter o comércio fechado, entre outras restrições, por exemplo. A população pode também acompanhar a evolução da doença em sua cidade e no território gaúcho por meio da Internet, e assim, até mesmo se mobilizar para evitar o agravamento da situação em sua localidade.

O Correio do Povo constatou nesta última semana a deficiência de dados, ao acompanhar os dados da pandemia no Vale do Taquari, identificada no Distanciamento Controlado pelas regiões 29 e 30, que têm como referência Lajeado, a terceira cidade gaúcha com mais casos de Covid-19. A área composta por 37 municípios iniciou esta nova fase de combate à pandemia na bandeira vermelha, que sinaliza risco alto e impôs limitações mais severas logo no início da medida. “O modelo não considera apenas o número de casos diagnosticados, considera óbitos, internações hospitalares inseridos diretamente, todos os dias, pelos hospitais, reduzindo bastante o tempo que levavam os hospitais para inserir os dados. Então, consideramos o indicadores utilizados em nosso modelo bastante confiáveis”, garante o governador Eduardo Leite.

Segundo a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, para o distanciamento, no caso, são considerados apenas os resultados de exames do tipo RT-PCR, coletados por um cotonete especial, também chamado de swab, com amostras de secreções das narinas e nasofaringe. Entretanto, quem acompanhava os dados no site da Secretaria Estadual de Saúde (SES), enxergava apenas estes dados até a quinta-feira. Na sexta-feira, o estado incluiu dados de testes rápidos, o que aumentou em 496 o número de casos da doença, o que passa a ser considerado em diante. Entretanto, nem mesmo o número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou de óbitos está a salvo divergências e contestações.

Dos 37 municípios acompanhados, pelo menos sete apresentaram grande disparidade entre o que as prefeituras divulgaram nas redes sociais e sites e o que constava na SES e no Ministério da Saúde. Estrela, por exemplo, anunciou nas redes sociais 54 casos. Mas na SES constava 39. No dia anterior, a cidade tinha 53 e a SES apontava 39. No caso de Taquari, a disparidade é ainda mais gritante. O município anunciou 81 casos na quarta-feira, dia 13, mas a Secretaria ainda divulgava 29, em uma diferença de 179%. Já Arroio do Meio apresentava 44 casos no dia 12, terça-feira passada. A SES só passou a divulgar número semelhante, de 43 casos, no dia seguinte. A mesma cidade tinha 42 casos na mesma terça-feira, segundo o Ministério da Saúde. Em geral, o dado que uma cidade publica leva entre dois ou três dias para ser contabilizado pelo governo federal.

Ao todo, pelo menos 17 localidades da região analisada apresentaram diferenças nos dados. Em muito dos comunicados publicados pelas prefeituras, não são informados se os números são originados de resultados de testes de RT-PCR ou rápidos. Somente Muçum, Paverama e Teutônia descreveram desta forma. Por outro, lado, o governo gaúcho e a União só contabilizaram os dados do RT-PCR, que ainda assim apresentavam diferenças. Por exemplo, para Teutônia, a SES aponta números de doentes superior ao que o município divulgava pela modalidade de exame aceita, até então, pelo órgão de saúde estadual. Também há outros problemas que foram detectados: em algumas localidades, os informes não são periódicos e em outras, encontram-se defasados. Em Sério, último informe foi divulgado à população no dia 5 de maio, reportando dois casos. Mas a SES contabilizava 4 no levantamento do dia 12.

A secretária Arita reconhece as diferenças apontadas pela reportagem. “Esta defasagem, que de um modo geral, ela existe. Mas em relação ao indicador (do Distanciamento Controlado), não impacta. Nós aproveitamos para dizer aos municípios de modo geral, incentivar os laboratórios privados a informar todos os testes”, orienta. Entretanto, na sexta-feira, Arita informou que a Secretaria está trabalhando para orientar as equipes dos municípios a contabilizar corretamente os seus dados. “O E-SUS Notifica é o sistema. A equipe cadastra a pessoa que fez o teste rápido e isso vai para uma planilha. Mas tem que fazer a classificação final, seja por teste rápido ou vínculo epidemiológico, eles vão passar a ser contabilizados no momento em que tiver a etapa final, a classificação, que é nome que o sistema dá quando o caso se confirma. Mas havia dados no sistema sem a devida conclusão, sem o clique na classificação. E a partir de hoje, todos os dados classificados entrarão automaticamente no ‘dashboard’ da Secretaria”, explica.

Prefeituras contestam números de leitos e até de óbitos

O município de Estrela ingressou nesta semana na Justiça, exigindo que o governo do estado refaça o cálculo da tabela do distanciamento social controlado, que atribuiu ao Vale do Taquari a bandeira vermelha. A administração argumenta que quatro leitos de UTI não foram considerados na elaboração do estudo. Segundo prefeito Rafael Mallmann, se computados, poderão provocar a reclassificação da bandeira.

Enquanto isso, na região Noroeste, Esperança do Sul foi surpreendida pela notificação pelo estado de uma morte por Covid-19 de uma paciente de 80 anos. Ela estava com suspeita da doença, mas tinha sido testada como negativo pelo Laboratório Central do Estado (Lacen). Entretanto, a morte pela doença constava como causa no atestado de óbito. Houve até um comunicado oficial da Prefeitura nas redes sociais. “Foi noticiado como suspeita. Não sei no que o estado se baseia e a equipe sentinela do município cuidou deste caso. É bem intrigante”, afirma o prefeito Moisés Alfredo Ledur. Entretanto, não há mistério algum, conforme a SES. Em nota, informaram que “trata-se de uma confirmação que se deu em virtude dos sintomas apresentados pela paciente (quadro clínico) e o contato próximo a outras três pessoas com sintomas da doença e que tiveram resultado positivo para o novo coronavírus por testes rápidos (histórico epidemiológico)”.


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