Número de casos e mortes por Covid-19 crescem até três vezes mais durante julho

Número de casos e mortes por Covid-19 crescem até três vezes mais durante julho

Dados mostram que as medidas para conter o alastramento da pandemia vem sofrendo com a falta de adesão por parte da população

Gabriel Guedes

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O mês de julho encerrou como sendo o pior no enfrentamento à pandemia de Covid-19 em Porto Alegre. Foi o período de 30 dias onde a doença literalmente acelerou, com 4.336 novos casos e 257 mortes, fazendo com que metade do total de infectados, que era de 8.626, tenha adquirido a doença somente no mês que encerrou. Além disso, o número de mortos praticamente triplicou na Capital em julho, passando de 94 para 351. Além disso, os casos novos assinalados em julho correspondem a 101% do total de casos contabilizados desde o início da pandemia na capital gaúcha. O número de mortes registrado em julho corresponde a 273% do total de óbitos causados pelo novo coronavírus na cidade. Dados que mostram que as medidas para conter o alastramento da pandemia vem sofrendo com a falta de adesão por parte da população. Ao que tudo indica, se o cenário não mudar, o mês de agosto pode ser igual ou até mesmo pior.

“Pelo que percebo, a população não tem tomado as medidas de distanciamento social. Caminhando pelas ruas, vejo pessoas em muita aglomeração. E parece que as pessoas não estão acreditando na gravidade da situação”, afirma  o infectologista Alessandro Pasqualotto, coordenador do Laboratório de Biologia Molecular da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). “Se nenhuma mudança ocorrer no comportamento das pessoas, é bem provável que a gente viva uma situação mais crítica. Não vejo esta tendência de platô, que muito tem sido falada. O número de casos só sobe e é uma velocidade muito acelerada de casos”, avalia. “Todos os grandes hospitais de Porto Alegre estão em dificuldade extrema. Não só de leitos, mas de pessoal, com profissionais adoecendo”, acrescenta.

O cenário que preocupa o médico, é que em julho o número de casos praticamente dobrou, impulsionado por 5.083 pessoas com idades entre 20 e 59 anos, que se infectaram, o que corresponde a quase 60% do total de contaminados pelo novo coronavírus desde o começo da pandemia. Por outro lado, quem está morrendo, em sua maioria, são as pessoas com idades acima dos 60 anos, que já somam 295 mortes, o que significa 84% das vítimas. Do total do acumulado de 351, maior parte de óbitos são de homens, com 194 mortes. Mulheres foram 161. “Os jovens estão mais na rua, se expõem mais. Jovens têm um mito de imortalidade. E levando a doença para casa, infectam os idosos, que circulam menos. É ali que ocorre a transmissão. Também tem gente que acredita que é um jogo político, em crenças e notícias falsas, de que não irão se infectar”, critica Pasqualotto.

O mês de julho também se caracterizou pelos dias mais duros da pandemia, com algumas datas somando até 16 mortos, como no dia 3, sucedido pelo dia 28, com outras 14 mortes. Em relação ao número de casos também não foi diferente: houve dias em que pelo menos 301 novos infectados foram confirmados, como dia 6. Mas no dia 10 e dia 21 foram registrados outros dois picos, com 254 e 280 casos, respectivamente. “Para mim, as mortes não são principal o indicador de gravidade. São o número de casos e o de leitos de ocupados”, aponta. No dia 31, havia 307 confirmados internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos hospitais de Porto Alegre. No dia 30 de junho eram 141 casos confirmados hospitalizados com gravidade.

De acordo com Pasqualotto, para agosto terminar diferente, é necessário, sobretudo, o engajamento das pessoas nas medidas de distanciamento e proteção. “Acho que muitas não estão aderindo (às orientações de cuidado). São estes que não estão aderindo que estão perpetuando a contaminação. Por que vejo os casos de contágio mais domiciliares, em ambientes de trabalho e de lazer, então é preciso evitar aglomerações, usar máscaras”, recomenda. Além disso, acredita o médico, é preciso ampliar a testagem: “Temos que testar todo mundo que esteja doente e os contatos deles”, frisa. Na última sexta-feira, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr., afirmou em videoconferência que irá iniciar um planejamento junto às entidades empresariais para discutir a flexibilização nas restrições impostas às atividades econômicas, que estiveram em vigor durante o mês passado. No entanto, o prefeito alertou que essas novas medidas só serão tomadas se a cidade apresentar uma redução de demanda de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e na circulação de pessoas. A Secretaria Municipal de Saúde foi convidada a comentar os dados de julho, mas não se manifestou até o fechamento desta reportagem.
 


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