Números de recuperados da Covid-19 no RS divergem quase 70% entre estado e municípios

Números de recuperados da Covid-19 no RS divergem quase 70% entre estado e municípios

Muitos dos indicadores informados pela SES embasam também os cálculos do sistema de bandeiras do Distanciamento Controlado

Gabriel Guedes

Também têm sido observados diferenças significativas no número de casos em algumas cidades

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Os números exibidos no painel da Covid-19 pelo governo do Rio Grande do Sul e os que têm sido anunciados pelos municípios segue apresentando divergências. Um destes dados, o de pacientes recuperados da doença, chega a ter uma diferença de quase 70%, como em Porto Alegre, na quarta-feira pela manhã, onde a prefeitura informava 3.999 e a Secretaria Estadual de Saúde (SES) reportava 6.683, ou seja, 67% a mais.

Mas a situação não acontece apenas com a Capital e em seis das principais cidades gaúchas analisadas há variações para mais ou para menos neste indicador. Também têm sido observados diferenças significativas no número de casos em algumas cidades, como Canoas, em que a Prefeitura conta 2.285 mortos pelo novo coronavírus, enquanto a SES tem publicado 1.443. Também foram encontradas diferenças nos números de óbitos. Muitos dos indicadores informados pela Secretaria embasam também os cálculos do sistema de bandeiras do Distanciamento Controlado.

O Ministério Público do Rio Grande Sul (MPRS) vê problemas no fornecimento de informações por hospitais e municípios. Conforme a coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa dos Direitos Humanos do MPRS, Angela Salton Rotunno, a instituição já expediu recomendação a vários municípios para atentarem ao devido preenchimento dos sistemas informatizados.

“O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul está acompanhando diariamente o cumprimento, por parte dos hospitais, do necessário repasse das informações à SES. Divergências e alterações são prejudiciais ao efetivo controle dos dados epidemiológicos, fundamentais para tomada de decisão relativa às bandeiras. A fiscalização também ocorre junto às secretarias municipais, que têm a responsabilidade final pela correção dos dados”, explica Angela.

De acordo com o presidente da Federação da Associação dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e prefeito de Taquari, Maneco Hassen, o fornecimento de dados têm se mostrado complexa, inclusive aos municípios.  “Estas informações são retiradas de diversos sistemas, e mais de um sistema, conforme o tipo de dado. Mas estas diferenças não chegam a colocar em xeque o modelo”, acredita o prefeito.

O que tem feito o intermédio entre os números reais e as definições do Distanciamento Controlado, de acordo com Maneco, são os recursos, uma possibilidade que foi aberta pelo Palácio Piratini. “O recurso é importante. Para a comunidade, os recursos ainda passam uma imagem de contraposição às bandeiras. Mas o objetivo é corrigir estas eventuais diferenças. As divergências não deveriam ser preocupantes, justamente por causa dos recursos”, defende.

Os dados divulgados pela SES são aqueles que os municípios de residência ou onde a pessoa foi atendida informaram em um dos sistemas de notificação, que são o e-SUS Notifica para os casos de síndrome gripal (não hospitalizados) e Sivep-Gripe (para os hospitalizados).

Segundo o enfermeiro e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Dário Frederico Pasche, que se dedica a estudar o planejamento e gestão de políticas de saúde, o problema pode estar concentrado em uma questão de fluxo da informação, que é ascendente, dos municípios para os estados e Ministério da Saúde. “Acho que o que está acontecendo neste processo, é que os gestores não estão conseguindo dar conta do fluxo destes dados. Pode ser duas possibilidades, mais de ‘delay’ (atraso, em inglês) na informação, do que de divergência, de fato. Também pode ser por problema no diagnóstico destes casos pelos laboratórios”, sugere.

A SES, por meio de nota, informou também que os exames em casos de óbito têm prioridade no Laboratório Central (Lacen), que apresenta os resultados em até 48 horas depois da chegada das amostras no local. Na maior parte dos casos, a demora se dá no envio das amostras ao Lacen, segundo a secretaria. “A defasagem nas notificações em nada impacta na definição das bandeiras, pois a regra é a data do registro e, portanto, se o município atrasar, prejudicará a próxima bandeira, inclusive sendo pior nesta época de evolução da pandemia”, explica o órgão.

De acordo com o especialista, os dados da pandemia no Rio Grande do Sul são uma questão mais delicada por terem influência sobre as definições de bandeiras do Distanciamento Controlado. “Eu acredito que pode alterar as definições do modelo. Principalmente por que estes dados são baseados no leitos de UTI, não na taxa de transmissão. Temos uma qualidade muito baixa de informação comunitária no RS, além de um volume muito grande de dados, que torna difícil gerenciar isso”, aponta Pasche.

Por outro lado, a SES garante que o RS, por meio do projeto Testar RS, com apoio do Ministério da Saúde, pretende realizar neste mês de agosto mais 7 mil testes diários de RT-PCR, além dos mil testes diários que o Estado já vem realizando no Lacen. Ainda assim, apesar das diferenças nos números, o professor afirma que as bases de dados em saúde dificilmente estarão consolidadas. “Sistemas de informações em saúde nossos são corrigíveis. As informações durante o tempo vão sendo melhoradas, por investigação - que mantém ou descarta algum caso - ou correção. Assim é sempre”, conclui.


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