Nota pela flexibilização de máscaras no RS gera divergência entre infectologistas

Nota pela flexibilização de máscaras no RS gera divergência entre infectologistas

Documento divulgado pela diretoria da Sociedade Gaúcha de Infectologia gerou espanto em parte dos médicos

Felipe Nabinger

publicidade

A máscara, de item essencial de proteção contra a Covid-19, começa a flexibilização do seu uso discutida, estando no centro de debates e polêmicas. Justamente nesta quinta-feira, data que marcou os dois anos do primeiro caso da doença no Estado, a diretoria da Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI) divulgou uma nota defendendo a flexibilização da obrigatoriedade do uso de máscaras, especialmente em ambientes externos e ventilados, mas também em ambientes internos, o que não é consenso entre os próprios médicos da área.

“Não há razão para o uso de máscara em ambientes externos pois o vírus não transmite em ambientes ventilados, a não ser que haja uma aglomeração. Se vamos discutir flexibilização, temos que discutir ambientes internos. Na prática, as pessoas já não usam máscaras em encontros sociais com famílias, amigos e em churrascos, por exemplo. E isso não vem repercutindo em aumento de casos”, garante o presidente da SGI, Alessandro Pasqualotto.

Conforme o médico, a essência da recomendação é baseada na imunização que as pessoas têm pela vacina, muito embora saliente que há necessidade de aumento na procura pela terceira dose. “Muito mais que debater máscara, temos que debater vacina”, disse. 

O documento gerou espanto em parte dos médicos. “Fui surpreendido com essa nota, que é da direção, sem nenhum tipo de consulta aos associados. Ela não representa a opinião da Sociedade Brasileira de Infectologia e o mais lamentável é que a SGI não se manifestou por praticamente dois anos. Me parece até um pouco oportunista esse tipo de manifestação”, afirma o infectologista no Hospital Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professor da Faculdade de Medicina da Ufrgs, Alexandre Zavascki.

Zavascki admite que é sim hora de discutir a flexibilização em espaços a céu aberto. “Nos ambientes externos é o momento de abrir esse debate, mas equiparar com ambientes internos é completamente sem senso e tecnicamente incorreto. Vamos evoluir para isso em algum momento, mas não agora”, diz. Ele cita como exemplo o Rio de Janeiro, que tem atualmente número de casos com evolução inferior ao Estado, mas flexibilizou inicialmente o uso da proteção somente em ambientes externos.

O infectologista diz que não se pode levar em conta somente os dados da vacinação. “A imunização não é a única variável que se avalia nesta questão. Tem que ser levada em conta a velocidade de descenso da pandemia, o número de casos e uma série de indicadores. Isso é tecnicamente incorreto. Uma medida errada ou desastrada pode custar a vida de alguém”, afirma.

O presidente da SGI, Alessandro Pasqualotto, que também é coordenador do Laboratório de Biologia Molecular da Santa Casa, diz que o posicionamento da entidade é dinâmico, podendo ser revisto conforme variação de casos e eventuais novas variantes. Ele reforça o entendimento que máscaras devem ser mantidas em ambientes hospitalares, assim como para pessoas imunodeprimidas, doentes com outras comorbidades e idosos.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895