Ocupação Mirabal vive drama diante de possibilidade de despejo

Ocupação Mirabal vive drama diante de possibilidade de despejo

Justiça determinou reintegração de posse do prédio que oferece atendimento a mulheres vítimas de violência

Franceli Stefani

Justiça determinou reintegração de posse do prédio que oferece atendimento a mulheres vítimas de violência

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“Vivo aqui há um ano e fui muito bem acolhida junto com meus dois filhos. Se isso aqui acabar, muitas mulheres não terão para onde ir e será uma nova explosão de violência. Aqui nós somos uma família, temos nossos deveres e liberdade.” As palavras da portuguesa Renata Filipa das Pazes Joadas, 35 anos, reflete o drama enfrentado pelas integrantes da Ocupação Mirabal - uma das principais redes de proteção a mulheres vítimas de violência doméstica em Porto Alegre, localizada na rua Duque de Caxias, no Centro. Depois da decisão da Justiça, no último dia 10, em que foi determinada a reintegração de posse da residência, as coordenadoras disseram que caso forem retiradas do local, as mulheres e crianças que vivem no espaço não terão para onde ir. Até agora, oficialmente, nem o Estado, nem o Município ofertaram outro imóvel.

De acordo com a coordenadora Andressa Guedes, atualmente oito mulheres vivem na ocupação com quatro crianças. Todas elas vítimas de violência: “O número varia muito, hoje mesmo tivemos a entrada de uma nova pessoa, que foi acolhida”, contou. Ela disse que o pedido de reintegração de posse do prédio, em junho deste ano, pela Congregação dos Irmãos Salesianos, causa preocupação do Movimento de Mulheres Olga Benário, que coordena a Mirabal, desde então. No fim do mês passado, após muita luta e reuniões, o governo do Estado e a prefeitura de Porto Alegre ofereceram o espaço que foi da Escola Benjamin Constant, no bairro São José, fechada neste ano. Porém, até agora, nada aconteceu, além da entrega de um documento da coordenação aceitando o local.

Conforme a também coordenadora, Victória Chaves, o Estado informou que já fez o repasse do prédio estadual da instituição de ensino para a administração da Capital, contudo não há nada concreto. “É muito difícil porque sabemos que há muitos imóveis desocupados que poderiam ser destinados para nós, mas em seis meses da formação do grupo de trabalho este foi o único que apareceu. Lá, mesmo que pudéssemos entrar hoje, não seria viável já que precisaríamos fazer diversas adequações. A curto prazo, se houver a reintegração, não teremos para onde ir”, desabafou. A preocupação é com todas as mulheres que, diariamente, sofrem violência e não terão para onde se deslocar com seus filhos. “Abrimos a casa no dia 25 de novembro de 2016, tivemos mais de 200 acolhidas e 70 abrigados. A qualquer momento poderemos ser retirados daqui”, lamentou.

Nesta sexta-feira, às 14h, ocorre uma nova reunião com o grupo de trabalho, que contém representantes do Estado, prefeitura, além da coordenação e apoiadores. “Não vamos desistir e vamos tentar, com nosso jurídico, um prazo maior para deixarmos esse prédio. Nosso objetivo é resistir até o fim. Muitas histórias passaram por aqui, muitas conseguiram emprego e hoje têm nova vida”, enfatiza Andressa.

Violência contra a mulher cresceu no RS

A rede de apoio às mulheres vítimas de violência, como a Mirabal, é apontada pelo Atlas da Violência, organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), como uma das principais formas de reduzir o número de feminicídios no Brasil. “Muitas mortes poderiam ser evitadas, impedindo o desfecho fatal, caso as mulheres tivesse tido opções concretas e apoio para conseguir sair de um ciclo de violência”, salientam os pesquisadores no Atlas.

Em uma década, o número de mulheres assassinadas teve alta de 90,1% no Rio Grande do Sul, passando de 162 casos, em 2006, para 308, em 2016. Em todo o País, a alta no período foi de 15,3%, passando de 4.030 homicídios para 4,645.

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