Pai de vítima da Kiss acorda há um ano na hora da tragédia

Pai de vítima da Kiss acorda há um ano na hora da tragédia

Há um ano, Ildo Toniolo foi o primeiro pai a chegar ao Centro Desportivo Municipal

Danton Júnior / Correio do Povo

Há um ano, Toniolo foi o primeiro pai a chegar ao Centro Desportivo Municipal

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Todos os dias, nos últimos 12 meses, Ildo Toniolo, 59 anos, acordou sozinho por volta das 4h30min da madrugada. Na maioria das vezes, não conseguiu mais dormir. Neste mesmo horário, no dia 27 de janeiro de 2013, ele foi despertado pelas amigas da filha Leandra, 23. "Tio, pegou fogo na boate e a Leandra está desaparecida", disseram.

Desde então, as noites parecem não ter mais fim para Toniolo, que tem outros três filhos. No último domingo, por exemplo, véspera do primeiro aniversário da tragédia, acordou às 4h35min, num sobressalto - semelhante ao que sentiu quando foi acordado um ano atrás, com as amigas da filha batendo na porta de sua casa.

"Outras coisas eu tenho conseguido superar, mas esse transtorno persiste e não sei até quando vai. Independe da minha vontade", conta. Nos primeiros quatro meses após o incêndio, Toniolo envolveu-se ativamente na Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de santa Maria (Avtsm), como um dos responsáveis pela área social. "Me sentia útil em função de ajudar pessoas que precisavam mais do que eu', conta. Depois, por questões pessoais, passou a dedicar-se somente a sua profissão, na área de equipamentos de radiocomunicação. A saudade, por sua vez, só aumenta. "Hoje em dia é quase tão difícil quanto no dia do incêndio. São dias de uma emoção muito parecida", descreve o pai.

Há um ano, Toniolo foi o primeiro pai a chegar ao Centro Desportivo Municipal (CDM), local para onde foram levados os corpos. A filha dele era a vítima de número 3. Ele recebeu a confirmação da morte às 7h de domingo. A jovem havia ido à boate com um grupo de amigas, das quais foi a única a falecer. Pouco antes de começar o incêndio, ela havia ido ao banheiro.

Lembrada como ativa e inteligente pelo pai, Leandra havia concluído o curso de Técnico em Radiologia em dezembro de 2012. Sua principal meta para 2013 era começar a trabalhar em um hospital - o que não chegou a ocorrer. Ela deixou uma filha, hoje com 2 anos e 4 meses.

Com olheiras visíveis, o pai não procurou tratamento para voltar a dormir em seu horário normal. Mas sabe o que pode devolver, pelo menos em parte, a esperança. "Superação, hoje, é uma coisa que não existe. Só no momento em que houver justiça."

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