Papa decide canonizar Irmã Dulce

Papa decide canonizar Irmã Dulce

"Anjo Bom da Bahia" tornou-se a primeira mulher brasileira a ser considerada santa

AE

Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador

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O cego voltou a enxergar. Entretanto, desta vez, o milagre não é atribuído a Jesus, mas à Irmã Dulce, que ainda este ano deverá ser canonizada, tornando-se a primeira mulher brasileira a ser considerada santa - o primeiro homem brasileiro a ser considerado santo foi Frei Galvão. O reconhecimento do feito do "Anjo Bom da Bahia" foi anunciado pelo papa Francisco na segunda-feira. Conforme o arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, d. Murilo Krieger, a data da canonização deverá ser confirmada pelo Vaticano no mês de julho.

Na sede das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), no bairro de Roma, em Salvador, o arcebispo disse que o processo de canonização da freira será o terceiro mais rápido da história, pois ocorrerá 27 anos após a sua morte, atrás apenas da santificação do Papa João Paulo II (9 anos) e de Madre Tereza de Calcutá (19 anos).

Conforme ainda d. Murilo, a cura do cego, segundo milagre atribuído pelo Vaticano à beata, passou por três etapas de avaliação, com peritos médicos, teólogos e, finalmente, pelo colégio cardinalício, sendo reconhecido de forma unânime em todas essas etapas "como algo cientificamente inexplicável e duradouro". "Agora, vamos esperar o consistório (reunião de cardeais) com a declaração oficial e definição da data da canonização, e então a Igreja, numa cerimônia belíssima presidida pelo papa no Vaticano, colocará Irmã Dulce dos Pobres no altar dos santos", disse.

O médico perito que integrou a Comissão de Avaliação, Sandro Barral, contou que o homem, de aproximadamente 50 anos, trabalhava na área de informática e passou por um período de perda da visão, a partir de 1998, decorrente de uma doença severa, que preferiu não identificar, mas cujos sintomas se assemelham ao do glaucoma. Ele teria perdido completamente a visão devido à destruição do nervo óptico, precisando readaptar sua vida e se utilizar da companhia permanente de um cão guia. "Ele pediu a intercessão da Protetora dos Pobres em sua cura", comentou o médico.

Segundo Barral, em 2014, o beneficiado foi acometido por uma forte conjuntivite, sentindo muita dor e, de repente, sem explicação, voltou a enxergar. Ele diz que "todos os exames apontam para um paciente cego, cujas lesões o impediriam de enxergar, mas ele enxerga", garantiu. O primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce, que motivou sua beatificação em maio de 2011 refere-se à recuperação de uma paciente que teve uma grave hemorragia pós-parto e cujo sangramento cessou, de forma inexplicável, sem intervenção médica.

Celebração

Fiéis lotaram a igreja em comemoração. "Estamos em festa, é a melhor notícia que podíamos ter recebido. Tenho vontade de sair pela rua gritando 'viva santa Irmã Dulce'", disse Ana Deolinda, que trabalha em projetos sociais criados pela freira.

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) afirmou que a canonização é um reconhecimento à história de vida da beata. "Estou muito feliz e emocionado com a confirmação divulgada pelo Vaticano, mesmo sabendo que Irmã Dulce sempre foi considerada santa por nós, baianos. É um reconhecimento à história do Anjo Bom da Bahia, que construiu uma obra grandiosa de amor e caridade."

Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador. Segunda filha de um dentista e de uma dona de casa, ela manifestou interesse pela vida religiosa no início da adolescência. Aos 13 anos, atendia doentes no portão de casa, mais tarde conhecida como "a portaria de São Francisco", devido à aglomeração de desassistidos. Em 1933, ingressou na Congregação da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão (SE), e recebeu o hábito, adotando o nome de Irmã Dulce.


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