Porto Alegre luta para despoluir o Guaíba

Porto Alegre luta para despoluir o Guaíba

Tratamento de esgoto passará para 80%, mas limpeza das águas da zona Sul ainda dependerá de arroios

Correio do Povo

Praia do Gasômetro é um dos lugares mais poluídos do Rio Guaíba

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Por Karina Reif

Até o início de 2015, 135 mil metros cúbicos de dejetos sem tratamento deixarão de ser despejados diretamente no Guaíba. A expectativa é que a despoluição do esgoto passe dos atuais 27% para 80% na Capital, em razão da implantação do Programa Integrado Socioambiental (Pisa). Contudo, a ampliação não será suficiente para tornar balneável a praia de Ipanema, na zona Sul, como era previsto. O prazo para que o local volte a ser utilizado pelos banhistas foi estendido para 2016.

O diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Flávio Presser, explica que é preciso melhorar a qualidade da água do arroio Capivara e dos demais córregos do Sistema de Esgotamento Sanitário Zona Sul que contribuem para a poluição da região. “Temos de retirar os esgotos lançados nesses arroios”, afirma.

Há um projeto de realização de obras nas redes coletoras com investimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Porém, os R$ 15 milhões ainda não foram liberados, o que impede o andamento do processo de limpeza do Guaíba. “Houve uma lei que exonerou a folha de pagamento das empresas que trabalham com saneamento. Então, tivemos que refazer os orçamentos.” Por conta da mudança, os valores e o projeto precisaram ser reavaliados.

Há diferença no grau de poluição do Guaíba. Duas praias são balneáveis, a do Lami e a do Belém Novo. Por outro lado, a área localizada próximo ao Gasômetro é uma das mais prejudicadas, assim como as regiões de margem, onde acontece menor dispersão das cargas poluentes.

Presser avalia que o Pisa dará uma grande contribuição, mas é preciso a colaboração dos habitantes, pois as ligações irregulares de esgoto comprometem as águas, assim como a poluição originária dos afluentes. “O Pisa vai tratar 2,1 mil litros por segundo de esgoto que antes eram jogados na foz dos arroios Dilúvio e Cavalhada. Estamos com 80 quilômetros de rede implantada no Cavalhada”, informa.

“Atingimos mil litros por segundo e a Fepam irá analisar”, declara. A expectativa é que até o final do ano a unidade consiga tratar 4,1 mil litros por segundo.

Área central é a mais prejudicada


O abatimento da carga de esgoto in natura despejada no Guaíba vai ajudar a desconcentrar a poluição na área da Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, onde desembocam dois grandes rios degradados, o do Sinos e o Gravataí. “Ambos têm vazão pequena e grande volume de poluentes. Eles chegam ao Guaíba pelo Delta”, observa o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Guaíba, Manuel Salvaterra.

Ele destaca que o Pisa representa um “pedacinho” da solução do problema. Precisa funcionar paralelamente aos projetos de recuperação das outras bacias. Salvaterra avalia que os recursos destinados para projetos, estudos e obras são insuficientes. “As cobranças pelo direito de uso, dentro dos modelos do Brasil, não garantem a qualidade”, diz, explicando que a legislação prevê a implantação de uma taxa de uso da água do Guaíba. “O que estamos acostumados a pagar pela água são subsídios, mas não adianta tapar o sol com a peneira, temos que encarar”, ressalta.

Agapan acompanha de perto

A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) está atenta à previsão de melhora da qualidade do Guaíba. A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) considerou no ano passado insuficientes os estudos sobre a viabilidade de manter a tubulação na Serraria em 1,6 km, em vez de 2,6 km, como planejado. A partir de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), foi possível iniciar a operação. “Concordamos com a Fepam, porque pode causar poluição”, diz o presidente da Agapan, Alfredo Gui Ferreira.

Ele salienta, porém, que, se tudo funcionar como o previsto, será um grande ganho para a população. Tentar resolver a poluição do Guaíba sem a participação das pessoas não é possível, porque a qualidade da água depende muito da educação. “Com o Catamarã, por exemplo, começa o despertar para o uso do Guaíba. Se não houver balneabilidade, evidentemente, a cidade continuará de costas para ele”, diz.

Para lembrar a importância da preservação ambiental, a Agapan promove o Abraço ao Guaíba. A primeira edição foi realizada em 1987 e, em 2012, a atividade voltou a ocorrer. A entidade defende a criação do Parque do Gasômetro, sem a presença de uma grande avenida na região.

A integração do Guaíba com as áreas de lazer é uma preocupação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam). O supervisor de Praças e Jardins, Léo Bulling, destaca que, com o verão, os cuidados são ainda mais intensos. “Nós ficamos encarregados da arborização, do corte da grama e da preparação dos ambientes”, ressalta.

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