Prefeitos e especialistas discutem soluções para a crise hídrica na Região Metropolitana

Prefeitos e especialistas discutem soluções para a crise hídrica na Região Metropolitana

Regularização das vazões das bacias dos rios dos Sinos e Gravataí é uma das sugestões apontadas em seminário

Felipe Samuel

Apesar da abundância de recurso hídrico, qualidade da água do Guaíba é questionada por especialistas

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Preocupados com ciclos constantes de estiagem e a possibilidade de escassez hídrica no Rio Grande do Sul, prefeitos da Região Metropolitana e especialistas discutiram ontem alternativas para manter a qualidade e quantidade de disponibilidade de água à população gaúcha. A regularização das vazões das bacias dos rios dos Sinos e do Gravataí - que demandaria uma série de obras como a construção de microaçudes e barragens - está entre as sugestões apontadas durante o seminário S.O.S. Água, realizado na sede da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), na Capital.
 
Engenheiro civil e de recursos hídricos, Sidnei Agra apresentou estudos que reúnem um "olhar cuidadoso" do Estado e de três das bacias: do Sinos, do Gravataí e do Guaíba. "Mostrei o que já está previsto de obras para essas bacias, não trouxemos nenhuma novidade. Todas essas intervenções que eu mostrei já estão previstas", observa. Segundo Agra, no Guaíba, por conta da abundância de água, não há previsão de intervenções. Mas para os outros dois existem planos para melhorar a disponibilidade de água.
 
"As obras são muito polêmicas, porque têm questão de desapropriação, de afetar algumas propriedades. Isso tem que ser muito negociado, por isso que os comitês recomendam por enquanto que ainda sejam estudos e não obras", salientou.Entre os projetos previstos estão a criação de barragens para aumentar a vazão dos rios. "Quem está afetado por essa futura obra, não tem nenhuma pressa e quer que tenha muita discussão ainda até se esgotar. E quem está sofrendo com a estiagem, tem muita pressa e gostaria que essas obras já se implementassem. Esse é o principal tema do debate", afirmou. 
 
De acordo com Agra, a estiagem vem castigando principalmente a população da Região Metropolitana. E se acentua durante o verão. "Existe uma tendência deles se agravarem e se tornarem cada vez mais graves, afetando não apenas a questão da irrigação da produção rural, mas eventualmente alguns municípios passarão a conviver com sérios problemas nas suas captações para abastecimanto das pessoas. Então isso precisa ser encarado com muita seriedade", avaliou. Diante desse cenário, destacou a importância de garantir o abastecimento de água e alertou que 40% da população gaúcha se concentra na região.
 
A possibilidade de cobrança de uma taxa para poder viabilizar os projetos também é uma alternativa. "Esse é um instrumento previsto na legislação brasileira de recursos hídricos e previsto na legislação gaúcha que ainda não foi implementado. E se fosse implementado poderia ajudar na solução dos problemas", sustentou. O diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Alexandre Garcia afirmou que Porto Alegre é uma área "superurbanizada". "A gente não sofre com a quantidade de disponibilidade do recurso hídrico, mas sim com a qualidade. E a segurança hídrica não é só disponibilidade, mas sim a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos", observou.
 
Garcia questionou se é viável recuperar e ter a segurança hídrica somente com medidas de recuperação das nascentes e recomposição das matas ciliares. "Ou vamos ter que fazer transposições, microaçudes, fazer barramentos, tratar esgoto, fazer gestão das águas urbanas, cuidar dos resíduos? Porque tudo isso influencia na quantidade e também na qualidade da disponibilidade da água para que a gente possa efetivamente tratar uma água de qualidade e distribuir pra população", completou. A cobrança de taxas para viabilizar as bacias também é um tema discutido.
 
Pela importância, Garcia afirma que o tema deve ser amplamente discutido para a tomada de decisão mais acertada possível, contemplando a questão ambiental. "Especialmente nas bacias do Gravataí e dos Sinos, porque são áreas onde tem muita captação para irrigação, para outras formas de produção, tem o uso da água para outra destinação que não para a dessedentação humana. Esse é um tema que já se discute há muitos anos, mas que influencia diretamente na produção agrícola, naquilo que mantém a condição econômica e financeira do estado", afirmou. 
 
Garcia garante que os debates sobre o tema não estão relacionados à privatização do Dmae. "Estamos falando de segurança hídrica da grande Porto Alegre, que tem hoje cerca de 40% de toda população. Se pegar as bacias do CaÍ, do Gravataí, dos Sinos e do Guaíba, temos hoje em torno de 40% da população do Estado", afirmou. "A gente ainda precisa ter aparentemente melhores estudos, melhores soluções, porque a gente não tem uma definição se vai ser só com microaçudes, com barramentos, se vai ter com transposições ou se nós vamos seguir somente tentando recuperar matas ciliares e manter as nossas nascentes", completou.
 
Prefeito de Nova Santa Rita e presidente Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal), Rodrigo Battistella destacou que Gravataí e São Leopoldo sofreram as consequências da estiagem durante o verão e enfrentaram dificuldade para fazer o abastecimento das comunidades com água potável. "É necessário que a gente discuta sobre esse tema, que a gente entenda os problemas que têm na Bacia dos Sinos, na Bacia do Gravataí e no Guaíba", destacou. 
 
A partir do evento, Battistella afirmou que a ideia é criar um fórum permanente na Granpal para tratar desse tema. "Passa ano, entra ano, e a gente tem um problema de abastecimento de água potável pra essa cidades. Água é um item essencial para sobrevivência humana e nós, gestores públicos, temos que estar preocupado com esse tema", garantiu. Devido ao alerta de ciclone no Estado, a Granpal suspendeu as atividades da parte da tarde do seminário. O evento terá continuidade em junho, em data a ser definida.

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