Pressão do interior por leitos de UTI em Porto Alegre acelera 46% em duas semanas

Pressão do interior por leitos de UTI em Porto Alegre acelera 46% em duas semanas

Capital terminou mês de junho com 137 pacientes internados com a doença

Gabriel Guedes

A quantidade de pacientes internados na capital também deu um salto de 80% em um intervalo de duas semanas

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Porto Alegre encerrou o mês de junho com uma taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de 80,68%, com pelo menos dois hospitais já lotados, e mais três atuando acima de 90% da capacidade e destes, um estava a um leito de distância para atingir o máximo. A quantidade de pacientes internados na capital também deu um salto de 80% em um intervalo de duas semanas, passando dos 76 no dia 16 para 137 internados até o último dia do mês de junho.

Por outro lado, o Rio Grande do Sul, que segue mantendo a taxa de ocupação na faixa dos 70%, possui um cenário diverso e que pressiona cada vez mais a demanda por leitos da Capital, que é a retaguarda para atendimento de média e alta complexidade para o restante do estado. A ocupação por pacientes do interior cresceu 46% em duas semanas, indo dos 41 aos 60 internados em UTI. Se considerarmos a Região Metropolitana uma área à parte, o volume de pacientes da Covid-19 das cidades mais próximas da capital evoluiu só 16% enquanto do interior acelerou 90%.

A Região Central, onde fica Santa Maria, por exemplo, atingiu a maior marca em duas semanas, passando de 60% a 68%, em uma área composta por 48 hospitais e 122 leitos de UTI adulto. São 83 ocupados, 15 por pacientes de Covid (18,1%) e 8 (9,6%) por aqueles com suspeita. Já o Litoral Norte e a Região Metropolitana possuem hospitais operando no limite, como o Instituto de Cardiologia Hospital Viamão, que de 76% a 100% em duas semanas, preenchendo seus 25 leitos, e o São Vicente de Paulo, em Osório, que está com 9 dos 10 leitos com pacientes.  Por outro lado, a Região dos Vales, que tem Santa Cruz do Sul como referência, está na sua menor marca, de 60,3% indo para 54,8%.

Uma das situações mais críticas neste momento, em termos de números, é a do Hospital Moinhos de Vento, que é privado e possui 56 leitos. Destes, 55 estão ocupados e 20 destes pacientes estão com Covid-19 ou suspeita, o que corresponde a quase 1/3 dos internados na UTI. “Em geral, a 27ª semana epidemiológica, que esta agora, é uma semana de sobrecarga em todas as UTIs daqui do Rio Grande do Sul, por causa do frio e de outras doenças. Ainda que o governo tenha aberto vários leitos de UTI, todas devem estar chegando neste patamar em breve”, prevê a gerente médica do Moinhos, Gisele Nader Bastos. A situação preocupa, por que, segundo ela, o paciente de Covid-19 é de giro demorado, permanecendo até 21 dias no leito. Soma-se a isso a necessidade de atender pacientes com outras síndromes respiratórias desta época, além de cirurgias, cardíacos, etc. “O Norte do país já viveu seu colapso. Em São Paulo, agora que está começando a ceder. Aqui vamos começar a sentir isso agora. Está chegando atrasado onde para outros já chegaram. É fundamental que a população se conscientize, para que o vírus circule menos”, orienta Gisele.

Dos pacientes internados em Porto Alegre, conforme dados do último boletim epidemiológico, as cidades da Região Metropolitana, como Alvorada, Gravataí, Guaíba e Novo Hamburgo, são as que mais têm demandado pacientes à Capital. “É uma estrutura compartilhada. A gente vê com preocupação que cidades, como Canoas, estão quase esgotadas. Mas isso era um cenário conhecido, conforme colocamos na nossa recomendação para a gestão, e a análise precisa ser vista neste contexto”, aponta a Coordenadora adjunta do Conselho Municipal de Saúde de Porto Alegre (CMS), Ana Paula de Lima, que vê também no inverno um agravante para uma maior procura por leitos de UTI. “Historicamente há uma pactuação, em que 60% dos leitos são para Porto Alegre, 40% para o interior. Mas a Covid vai agravar um efeito já conhecido. Vamos ter morador de da Capital disputando vaga com quem mora de fora”, alerta.


-- RIO GRANDE DO SUL --

SITUAÇÃO EM 30/6
295 hospitais
2.130 leitos de UTI (100%) / 1.511 ocupados (70,9%) / 354 com Covid (23,4%) + 175 (11,6%) suspeitos de Covid ou outra SRAG
2.130 respiradores em UTI (100%) / 863 ocupados (40,5%)
3.317 respiradores

OCUPAÇÃO POR DIA
% de ocupação de leitos de UTI
16/6 71,9
17/6 72,9
18/6 70,9
19/6 70,3
20/6 70,6
21/6 69,2
22/6 69,1
23/6 69,9
24/6 70,9
25/6 70,2
26/6 70,1
27/6 69,1
28/6 68,8
29/6 71,3
30/6 70,9

-- PORTO ALEGRE --

SITUAÇÃO EM 30/6
17 hospitais
704 leitos de UTI Adulto (100%) / 568 ocupados (80,68%), 67 bloqueados / 137 com Covid (24,11%) + 45 (7,92%) suspeitos de Covid ou outra SRAG

OCUPAÇÃO POR DIA
16/6 76
17/6 81
18/6 75
19/6 89
20/6 90
21/6 93
22/6 102
23/6 111
24/6 105
25/6 111
26/6 112
27/6 122
28/6 137
29/6 146
30/6 137
+80,26%

-- INTERIOR X CAPITAL --

Origem dos pacientes 29/06/20 22/06/20 18/06/20 16/06/20
Porto Alegre 47 31 26
Alvorada 8 7 6
Viamão 3 5 6
Guaíba 3 5 5
Canoas 3 3 3
Novo Hamburgo 5 5 5
Gravataí 6 2 3
Cachoeirinha 4 1 0
São Leopoldo 1 1 0
Sapucaia do Sul 2 0 2
Interior RS 21 15 11 +90,00%
Metropolitana 35 29 30 +16,66%

Capital 79 47 31 26 203,84%
Interior + Metropolitana 60 56 44 41 +46,34%

FONTES: Covid-19 Dashboard RS, Boletim Epidemiológico 99/2020 e SMS/PMPA


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