Quase 60% da demanda hospitalar de Porto Alegre vem do interior do RS

Quase 60% da demanda hospitalar de Porto Alegre vem do interior do RS

Vans e micro-ônibus com enfermos de todas as regiões gaúchas se enfileiram nas proximidades dos hospitais

Christian Bueller

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O acidente que vitimou sete pessoas em Constantina chamou a atenção para uma situação recorrente, reduzida durante o período mais severo da pandemia, mas que já é novamente perceptível: o transporte de pacientes para serem atendidos em outras cidades. Seja por meio de veículos particulares ou disponibilizados pelas secretarias de saúde dos municípios, a prática, conhecida como “ambulancioterapia”, é comum no país.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre, 58% dos enfermos que aguardam internação em estabelecimentos são do interior. Na Capital, referência no Estado, principalmente, para casos de média e alta complexidade, vans e micro-ônibus de todas as regiões gaúchas se enfileiram nas proximidades dos hospitais.

Dependendo da cidade de origem, pessoas precisam madrugar em busca de consultas ou exames que não conseguiriam fazer perto de suas casas. É o caso de Tatiana Monteiro, moradora de Rolante, no Vale do Paranhana, que acordou às 2h30min, pois, meia hora depois, seria transportada por um veículo da prefeitura junto a outras quase 20 pessoas em direção à região metropolitana.

Após uma cirurgia no útero, Tatiana precisou fazer mais consultas no Hospital Fêmina e solicitar exames. “Semana passada, vim duas vezes e, nesta, mais duas. Faço procedimento em um dia e, no outro, tenho que pegar o resultado”, explica, em frente a van que a levou. Dentro dela, na rua Jerônimo de Ornelas, bairro Santana, o motorista dorme enquanto aguarda os pacientes de Rolante restantes, divididos em outras casas de saúde de Porto Alegre.

O local, próximo ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre, costuma receber cerca de 20 veículos de várias cidades, diariamente, com o mesmo intuito. Conterrâneo de Tatiane, Robson Luis Port, foi atendido por um otorrinolaringologista do Hospital São Lucas. “Na minha cidade até tem médico desta especialidade, mas aqui é melhor”, conta.

Putinga, Xangri-Lá, Terra de Areia, Arroio do Sal, Agudo, Barra do Ribeiro, Chuvisca, Santiago, Garibaldi, Canguçu, São Pedro da Serra. Estas são apenas algumas cidades de onde pacientes saíram, nesta segunda-feira, para buscar atendimento em hospitais porto-alegrenses.

Os motoristas das vans já se conhecem e se ajudam. Enquanto uns descansam no interior dos veículos, os outros caminham no entorno, vigilantes, para evitar más surpresas. Na Praça Major Joaquim Queiroz, Rodrigo Santos aguardava os enfermos que trouxe de Capivari do Sul. “Faço isso há nove anos, saímos de lá 5h. Por causa da pandemia, estamos transportando cerca de dez pessoas, não vimos lotado. Mas sempre estamos atentos, preocupados por temos que cuidar dos outros”, pondera o motorista.
Santos é profissional da secretaria de saúde de sua cidade.

Já Paulo Ferreira transporta pacientes de Mostardas forma particular em seu automóvel. Motorista experiente lamentou que o acidente com a van de Constantina foi causado por imprudência. “As pessoas estão correndo demais. Infelizmente, mortes acontecem seguido neste tipo de situação”, frisou. Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), não há um balanço específico sobre acidentes com ambulâncias ou micro-ônibus. O sistema difere infortúnios com veículos de transporte coletivo, de carga e automóveis/motocicletas.


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