Recessão “salvou” o país de um apagão

Recessão “salvou” o país de um apagão

Segundo especialistas, recessão e altas tarifas reduziram o consumo e evitaram que o país ficasse sem energia

Cíntia Marchi

Univates aplica módulos de placas fotovoltaicas no telhado do Parque Científico

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A constatação entre especialistas da área de energia é que a recessão econômica “salvou” o Brasil do segundo apagão em menos de 15 anos. A retração da indústria combinada com as altas tarifas gerou redução no consumo de energia elétrica. Se o cenário não fosse esse, estima-se que o racionamento obrigatório teria sido realidade entre 2014 e 2015.

Mas que lições o Brasil deve aprender com esta crise? Para o presidente do Comitê de Energia da Amcham Porto Alegre, engenheiro elétrico Luiz Cruz Schneider, o país tem que explorar todos os potenciais energéticos para que deixe de depender tanto do sistema hidrelétrico. “O que temos hoje é um descompasso muito grande entre planejamento e a implantação de obras. Um relatório da Aneel mostrou que 62,5% das linhas de transmissão em andamento estão com atrasos. Isto não é razoável”, avalia Schneider.

Apostas, fontes de energias renováveis ainda são pouco usadas

No Brasil, as fontes de energia renováveis eólica e fotovoltaica são as apostas para que o país redesenhe seu mapa energético. E os números já dão sinais de que este é o caminho. Entre 2001 e 2002, anos do racionamento obrigatório, mais de 90% da energia elétrica era produzida por hidrelétricas. Hoje, as 1,2 mil usinas hidrelétricas em operação respondem por 65% da capacidade de geração de energia, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

O diretor operacional da Siclo Consultoria em Energia, Plínio Ely Milano, lembra que, nos últimos 15 anos, o Brasil começou a abrir espaço para outras fontes de energias renováveis. Segundo dados da Aneel, a eólica representou 4,7% da matriz elétrica em agosto de 2015. A biomassa (origem na queima de restos de vegetais) equivale 9,4% e a energia solar, 0,1%.

Para o coordenador do Laboratório de Eficiência Energética da PUCRS, professor Odilon Francisco Pavón Duarte, o que falta para o Brasil é planejamento energético e incentivo ao uso de energias renováveis. “Na Alemanha, 92% dos novos domicílios já são concebidos com telhados com placas fotovoltaicas e eles têm sol muito menos favorável do que o nosso”, avalia.

O professor defende que o Estado incentive a descentralização da geração de energia e, mais do isso, estude um desenvolvimento programado, incluindo redução de impostos e campanhas de redução do uso de energia. Atualmente, no modelo tradicional, Odilon diz que o desperdício se aproxima de 50% entre a geração, transmissão e o uso final da energia. O doutor em Engenharia Ambiental e professor da Univates, Odorico Konrad, acredita que o maior entrave ainda é o “profundo desconhecimento” sobre o desempenho das energias renováveis.

Pesquisa com energias renováveis

Como entidade que promove a pesquisa, a Univates, de Lajeado, Vale do Taquari, investe em fontes de energias renováveis para mensurar, na prática, os resultados. A experiência começou com dez módulos montados no telhado do Parque Científico e Tecnológico (Tecnovates). Há dois anos, a instituição comprou mais mil placas fotovoltaicas.

“Estamos conseguindo gerar energia para abastecer o próprio Tecnovates. Em alguns momentos, temos sobras de energia e a universidade reverte em créditos junto à concessionária”, explica o doutor em Engenharia Ambiental, Odorico Konrad. Os cálculos indicam que o sistema em operação gera uma economia de R$ 30 mil por mês.

Na Univates há também pesquisas sobre o potencial do biogás e biometano há cerca de uma década. Segundo Konrad, estudos com o biometano mostram resultados muito similares ao Gás Natural Veicular (GNV) em termos de performance e redução de emissão de gases, com a vantagem de que o biometano é energia renovável. Até o final do ano, em parceria com a Sulgás, vai ser instalado no Campus um gerador elétrico a biogás ou biometano.

Projeto utiliza biometano

Os dejetos de animais têm sido fonte de energia e combustível e a Sulgás mantém uma série de projetos no Rio Grande do Sul para ampliar o volume comercializado de gás natural no Estado proveniente do biometano. Este gás recebeu a marca de GNVerde, exclusiva da Sulgás, e está sendo testado em veículos no RS desde 2013.

A companhia lançou um edital para comprar até 200 mil metros cúbicos diários de biometano pelo prazo de 20 anos, mas postergou a chamada para que as empresas se habilitassem a participar.

O diretor-presidente da Sulgás, Claudemir Bragagnolo, disse que a ideia é descentralizar a distribuição do gás fazendo pequenas células em regiões onde não há gasodutos para, no futuro, expandir a rede. Em quatro anos, a meta é atingir 1,3 mil quilômetros de gasodutos.

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