Redução de ocupação em UTIs depende de ações mais restritivas de isolamento, aponta epidemiologista

Redução de ocupação em UTIs depende de ações mais restritivas de isolamento, aponta epidemiologista

Ricardo Kuchenbecker disse que a evolução progressiva de internações era prevista no Estado

Jessica Hübler

Diretor executivo da Organização disse que cenário requer que governo e sociedade trabalhem juntos para conter o contágio de coronavírus

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As internações de confirmados ou suspeitos da Covid-19 em leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) adulto na Capital representam, na tarde desta segunda-feira, 36,59% do total. São 593 pacientes, sendo 216 relacionados ao novo coronavírus (178 confirmados e 38 suspeitos), conforme monitoramento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A taxa de lotação é de 82,45%.

O epidemiologista Ricardo Kuchenbecker afirmou que, de certa maneira, isso era previsto a partir dos modelos de projeção e da própria evolução progressiva da ocupação, que no contexto das UTIs em relação à Covid-19, em Porto Alegre, já vinha sinalizando essa tendência há cerca de sete semanas, desde o final de maio. 

“Estamos observando um aumento consistente ao longo das últimas sete semanas e , como não temos nem vacina, nem tratamento efetivo, a única coisa que nos cabe é incidir sobre as UTIs a partir da redução do número de casos e esse é o grande problema, então precisamos pensar que há de haver uma redução do número geral de casos para a partir disso ter uma redução dos casos graves”, explicou. Conforme Kuchenbecker, não existe outra forma de frear o aumento das internações que não seja a partir de medidas mais restritivas da circulação de pessoas.
 
“Mas precisamos que isso ocorra em Porto Alegre e na Região Metropolitana como um todo, até mesmo em outros municípios das proximidades, considerando que ainda existem vazios assistenciais além da região. As medidas precisam ser implementadas em todas as localidades”, reiterou. Os leitos da Capital, segundo Kuchenbecker, respondem por um contingente de quatro milhões de pessoas, ou seja, mais que o dobro da população da cidade. “Aí está o grande ponto vulnerável dessa equação, porque as restrições precisam ocorrer pelo menos nos 33 municípios da região”, assinalou, reforçando que, a partir disso, será possível vislumbrar uma diminuição do aporte de pacientes graves da Covid-19 nas UTIs.
 
“Se implementarmos as medidas hoje, elas terão impacto daqui 15 dias e ainda precisamos considerar o segundo aspecto, que é a sobrecarga desses leitos para os meses de inverno, não temos alternativa”, enfatizou. A grande questão, de acordo com Kuchenbecker, é que as medidas mais restritivas já precisavam estar sendo tomadas há, pelo menos, mais de duas semanas, principalmente no que tange a Região Metropolitana de Porto Alegre.
 
No Rio Grande do Sul, conforme levantamento da Secretaria Estadual de Saúde (SES) a taxa de ocupação dos 2.210 leitos UTI adulto é de 73,4% na tarde de hoje. Estavam internados 1.623 pacientes, sendo 467 pacientes confirmados da Covid-19 (28,8%) e 163 pacientes suspeitos ou outra Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) (10%). A maior parte das internações 993 (61,2%) é de pacientes não relacionados ao novo coronavírus. O número de pacientes confirmados da Covid-19 aumentou 160.89% entre 7 de junho e 6 de julho, passando de 179 para 467.
 
Com relação ao intervalo para que as medidas restritivas possam apresentar efeitos, Kuchenbecker ressaltou ainda que, durante esse período, a demanda por leitos de UTI por pacientes com o novo coronavírus provavelmente continuará crescendo. “E nos preocupamos, em especial, porque vimos que no final de semana mais de 20 municípios pediram recurso ao sistema de bandeiras e essa flexibilização pode implicar sobrecarga da demanda de leitos”, alertou.

No entendimento de Kuchenbecker, não serão suficientes medidas restritivas somente na Capital, mas sim em todas as localidades que se beneficiam dos leitos eu aqui estão instalados. “Nossa base de referência de leitos atende a um contingente maior que o dobro da população da cidade, essa é a questão mais crítica”, pontuou. 

Apesar de defender a necessidade de implantação de novos leitos, Kuchenbecker lembrou que não é um processo fácil porque depende de recursos, equipamentos, pessoal e treinamento. Além disso, é preciso que os gestores estejam atentos para a velocidade de ampliação da oferta de leitos e a demanda crescente. “Provavelmente vamos superlotar os leitos disponíveis mais rápido do que conseguir fazer um crescimento da oferta em tempo oportuno que dê conta dessa demanda crescente, esse é o ponto mais preocupante de tudo isso”, declarou. 

No dia 3 de julho as internações de pacientes confirmados da Covid-19 em UTIs adulto de Porto Alegre atingiu a marca de 175, ultrapassando a primeira faixa “de segurança” da Prefeitura que era de 174 leitos destinados exclusivamente para atendimento de casos graves do novo coronavírus. “Já estamos entrando na reserva da segunda etapa da contingência prevista para Porto Alegre e a grande questão é se essa segunda etapa vai conseguir prover os leitos suficientes para não ter estrangulamento”, afirmou.


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