Relação entre Covid-19 e síndrome inflamatória acende sinal de alerta na saúde

Relação entre Covid-19 e síndrome inflamatória acende sinal de alerta na saúde

SES informa que nenhum caso foi notificado no Estado entre crianças e adolescentes até 19 anos

Felipe Samuel

publicidade

A proposta do governo gaúcho de retomada gradual das aulas presenciais a partir da Educação infantil, no dia 31 de agosto, deixa em alerta a comunidade médica. No final de julho, o Ministério da Saúde começou a monitorar se há relação entre a Covid-19 e casos de Síndrome Multissistêmica Inflamatória Pediátrica (SIM-P) em crianças e adolescentes com idade entre 7 meses e 16 anos. Desde que o Governo Federal decidiu implantar notificação desses casos nos sistemas de monitoramento, quatro estados registraram casos da doença: Rio de Janeiro, Ceará, Pará e Piauí.

No Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que nenhum caso foi notificado no Estado entre crianças e adolescentes até 19 anos. Com alerta do governo federal, a pasta destaca que todas as cidades têm que fazer a vigilância e estar atentas aos casos. O pediatra João Carlos Santana, que atua no Serviço de Emergência e Medicina Intensiva Pediátrica do Hospital de Clínicas (HCPA), afirma que desde o início da pandemia na Europa e nos Estados Unidos especialistas passaram a observar com atenção o comportamento do vírus em crianças. Santana explica que as unidades hospitalares de pediatria 'ficaram vazias' em meio à pandemia porque as crianças não estão indo à escola e não contraíram as doenças habituais do inverno.

Ele ressalta que a discussão sobre a transmissibilidade do vírus pelas crianças ainda é motivo de análise. "A discussão atual não é abre ou não abre escolas, mas se a criança transmite ou não transmite com virulência no início da doença", observa. "Isso nos assusta", completa. Mais do que os riscos inerentes por conta do dia a dia com outras crianças nas escolas, Santana - que também leciona na UFRGS - alerta que é os pacientes pediátricos, em geral, apresentam sintomas inespecíficos, o que muitas vezes pode dificultar um diagnóstico precoce. Conforme o pediatra, o HCPA registrou um caso suspeito de SIM-P em um bebê de oito meses.

A partir da determinação do Ministério da Saúde, ele garante que existe monitoramento de todo paciente que recebe atendimento na unidade. "É uma síndrome multissistêmica, bem diferente dos adultos, pois varia de intensidade e gravidade. Pode ter quadro gripal comum e não se consegue fazer diagnóstico. É preciso estar atento aos sinais de alerta", frisa. De acordo com Santana, a SIM-P, quando não é um sintoma, é um 'conjunto de achados'. Ele destaca que é preciso ficar atento para 'qual sinal' acende e o que as evidências podem indicar. 

Entre os sintomas mais frequentes estão febre persistente acompanhada de um conjunto de sintomas como pressão baixa, conjuntivite, manchas no corpo, dor abdominal, comprometimento respiratório, entre outros.

 "Metade dos casos apresenta conjuntivite e manchas na pele, que são uns 'sarampinhos pequeno'. Se teve contato com alguém que contraiu Covid-19, provavelmente tem isso (SIM-P)", destaca. "Felizmente óbito é incomum, faz diagnóstico e usa medicações gerais", completa. Sobre a retomada das aulas no Rio Grande do Sul, Santana salienta que outros países, como Israel, Suécia e Canadá, fizeram a experiência de voltar com ensino e contabilizaram novos surtos do vírus nas regiões. "As crianças não ficam muito grave (com vírus), mas potencialmente transmitem para os outros. A grande questão é se o poder de transmissão é grande ou não é. Naqueles países houve relatos de aumento de casos. Se tivessem segurado a abertura um pouquinho mais", adverte.

Desde o início da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia emitido um alerta mundial aos pediatras relatando a identificação de uma nova condição clínica, que teria relação com a Covid-19, caracterizada pela SIM-P, com manifestações clínicas similares à síndrome de Kawasaki típica, Kawasaki incompleta e/ou síndrome do choque tóxico.
 


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895