Remédios biossimilares são tema de debate na América Latina

Remédios biossimilares são tema de debate na América Latina

Medicamentos é feito com células vivas, o que não garante a sua reprodução 100%

Mauren Xavier

Oficina da Gafpa debate o uso de remédios biossimilares

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A presença dos remédios biossimilares no mercado tem trazido desafios a pacientes e médicos na América Latina, inclusive no Brasil. Esse tipo de medicamentos é feito com células vivas, o que não garante a sua reprodução 100%, mesmo que a fórmula seja a mesma dos biológicos. A questão central é que a discussão técnica impacta diretamente na vida de pacientes, que podem ter o seu tratamento comprometido. O assunto foi abordado durante o encontro da Liga Pan-Americana de Reumatologia, no 20º Congresso Panlar, que ocorreu recentemente em Buenos Aires, na Argentina. O debate encontrou terreno fértil no evento, uma vez que os pacientes com doenças reumatoides estão entre os mais impactados.

Na ocasião, um grupo de especialistas, tanto de profissionais da área médica como dos pacientes, integrou um painel, promovido pelo GafPA (Aliança Global para o Acesso de Pacientes), sobre essa discussão específica. Na oportunidade, o especialista mexicano Gilberto Casteñada alertou para a necessidade de maior transparência em relação a medicamentos que estão entrando no mercado sem os devidos estudos. “Os medicamentos da biotecnologia são diferentes dos convencionais. Os biossimilares não são genéricos”, ressaltou.

No Brasil, os especialistas apontam que é preciso avançar no debate da intercambialidade, que é a possibilidade de substituição do medicamento, desde que tenham equivalência farmacêutica. Na prática, isso envolve muito quando o medicamento é fornecido pelo poder público, que o adquire por licitação com menor custo. Assim, as mudanças nos remédios fornecidos ocorrem, inclusive com casos em que os pacientes recebem parcelas de diferentes medicamentos.

Uma das preocupações é que esses remédios podem comprometer o tratamento. Segundo a presidente da Sociedade de Reumatologia da Argentina, Alejandra Babini, a artrite reumatoide é uma doença incapacitante, sendo uma das patologias mais agressivas. “Neste caso, o tratamento mais adequado é aquele acertado entre o médico e o paciente, de acordo com a evolução da doença. E a troca de medicamentos, pode ser muito prejudicial”, explicou.

Diagnosticada com AR (Artrite Reumatoide), que é uma inflamação crônica nas articulações e compromete a qualidade de vida de seus pacientes, Priscila Torres tem vivenciado esses impacto na prática. Em função disso, ela fundou o grupo EncontrAR (Encontro de Pessoas com Artrite Reumatoide) para a troca de informações. “A ausência de regulação desses medicamentos tem afetado a qualidade de vida dos pacientes, que deve ser uma prioridade, principalmente nas doenças de artrite reumatoide”, enfatizou. Ela, que também integra a rede BioredBrasil, que envolve 37 associações de pacientes, tem atuado na busca de uma legislação específica no Congresso Nacional.

Além disso, há análises em andamento na Anvisa sobre o assunto. Em relação aos produtos biológicos, a Anvisa explica que entende a intercambialidade está relacionada à prática clínica (escolha médica durante o tratamento) do que a um status regulatório. Isso porque a regulação deve se ater especificamente à comprovação da comparabilidade em termos de qualidade, eficácia e segurança. "Neste tema, o posicionamento da Anvisa está bastante alinhado com o de diversos outros países no mundo, com exceção dos Estados Unidos", informa.

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