Seca dificulta produção de leite e plantio do trigo

Seca dificulta produção de leite e plantio do trigo

Falta de água freia as pastagens e rouba energia do gado

Correio do Povo

Regiões produtoras de gado sofrem com a falta de água

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A estiagem já fez a produção de leite no Estado cair 10% em relação aos 9 milhões de litros diários produzidos desde o começo do ano. As perdas, no entanto, podem ser ampliadas. Segundo o Conseleite, a queda é consequência da falta de água para abastecimento nas principais regiões produtoras e da transição na oferta de pastagens para o gado.

• Números da estiagem impressionam no Estado


O presidente do Conseleite e da Comissão de Leite da Farsul, Jorge Rodrigues, afirma que a principal preocupação neste momento é com a redução nos reservatórios e cursos d’água no Estado. “As pastagens ainda têm condições de recuperar, mas o gado de leite precisa de água de qualidade para manter os níveis da produção.” Criador de gado de leite em Santo Augusto, Rodrigues diz que nunca tinha visto os reservatórios tão vazios. Ele destaca que, com a seca, os animais precisam andar mais para beber e gastam a energia que poderia ser direcionada para a produção. Além disso, a quantidade de leite também fica prejudicada pela baixa qualidade do alimento do gado. “Estão fornecendo silagem de milho sem grão e gramínea que não desenvolveu devido à seca”, destaca Rodrigues.

Segundo o secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, os efeitos da queda na produtividade devem ser sentidos nos próximos meses porque as pastagens de inverno não estão se desenvolvendo como deveriam. “Até agora, a redução está dentro do normal para este período de transição de pastagens”, salienta. Mas com o fim do ciclo das forrageiras de verão e a baixa qualidade do pasto nativo, a situação deve se complicar ainda mais.

O assistente técnico estadual de criações da Emater, Dirlei Matos de Souza, explica que sem chuva o campo nativo fica mais grosso e pesado, dificultando a digestão dos alimentos e acarretando na perda de peso dos animais. Isso provoca impacto direto a médio e longo prazos na produção de leite e na reprodução dos animais. No caso do gado leiteiro, Souza afirma que os produtores têm reserva de silagem e feno, mas estão antecipando o fornecimento dos produtos, coisa que acontecia só no auge do inverno, em junho e julho. Apesar do cenário, ele salienta que a previsão de chuvas para a próxima semana é animadora, pois as forragens apresentam rápida recuperação.

Os triticultores também estão de olho no céu, mesmo que neste caso a cultura não precise de muita umidade no solo. Segundo levantamento da Emater, nesse mesmo período, em 2011, os produtores tinham plantado 5% dos 932,4 mil hectares cultivados normalmente. Neste ano, sem chuva, segundo o assistente técnico de trigo da Emater, Ataides Jacobsen, o percentual é inexpressivo. Somente em Passo Fundo, uma das principais regiões produtoras, neste mês ainda não choveu, após dois (março e abril) com precipitações bem abaixo da média. “Ainda não há nenhum elemento que indique perda ou redução de plantio, mas o produtor está postergando a semeadura por causa da seca”, destaca.

Impacto na safra gaúcha de verão

A ausência de chuva em volume significativo desde o mês de novembro de 2011 impactou fortemente a colheita da safra de grãos de verão do Estado. Conforme estudo recentemente produzido pela Farsul, a queda é de 38% sobre a estimativa inicial de 25,07 milhões de toneladas de arroz, fumo, milho e soja – o que reduziu a safra para 15,6 milhões de toneladas.
Conforme análise da federação, isso deve provocar um efeito dominó nas finanças.

Os produtores devem deixar de faturar R$ 6,02 bilhões, sendo a maior perda, de R$ 3,6 bilhões, para sojicultores, seguidos de R$ 1,39 bilhão no milho, R$ 599,1 milhões no arroz e R$ 394,36 milhões no fumo. Com isso, a arrecadação de ICMS do Estado deve cair 7,35% em relação à de 2011, considerando agropecuária, indústria e serviços. Já o PIB estadual deve recuar R$ 17,1 bilhões. O impacto da seca sobre o PIB pode ser minimizado, segundo o assessor econômico da Farsul, Antônio da Luz, caso haja influência de outros fatores, como crescimento econômico do país ou redução de juros promovida pelo governo federal.

Para a agropecuária, não há sinal de recuperação no curto prazo. O coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário da Unijuí, Argemiro Brum, diz que, além de ter reduzido fortemente a liquidez no campo, a estiagem prolongada leva à postergação de dívidas e ao aumento da inadimplência. “Em algumas cidades, o percentual de devedores já chega a 20%.” Brum destaca que haverá impactos, ainda, no plantio da safra 2012/2013. A Emater também aponta redução de 38,6% na produção da safra de verão e somente no final do mês deve ter levantamento da safra de inverno.

Reflexos em todas as atividades


São Borja, na Fronteira-Oeste, enfrenta uma das mais prolongadas estiagens das últimas décadas, com reflexos na maioria das atividades urbanas e rurais. Só na agropecuária as perdas são estimadas em R$ 110 milhões. Em situação de emergência desde 16 de janeiro, o município registra, há sete meses, desde novembro, chuvas abaixo do normal, mas as precipitações escassas vêm ao longo de 2011.

No ano passado deveria ter chovido 1.637 milímetros, mas foram 1.370, conforme a Estação da Fepagro. A fase mais acentuada da seca começou em novembro, quando a precipitação foi de 41 milímetros e deveria ser 143. Em dezembro, outro déficit: 85 milímetros, quando o normal seria 128. Nos primeiros quatro meses de 2012 o volume acumulado de precipitações deveria ser 630 milímetros, mas só chegou a 356, conforme a Fepagro. Março foi o mês mais seco, com 58 milímetros, 100 a menos que o normal. E em janeiro foram 67 ante os 151 considerados normais.

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