Semana da Consciência Negra tem início em Porto Alegre

Semana da Consciência Negra tem início em Porto Alegre

Segundo secretário-geral da Reafro-RS, atividades marcam a luta contra o racismo, mas também o empoderamento do negro como empreendedor

Christian Bueller

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Uma série de atividades baseadas na reflexão, debate contra o preconceito racial e estímulo ao afroempreendedorismo marcou a abertura da 31ª Semana da Consciência Negra de Porto Alegre neste domingo. O evento, que também marca os 50 anos do Dia 20 de Novembro, idealizado pelo poeta gaúcho Oliveira Silveira, ocorreu no espaço coworking Nau Live Spaces, na zona norte da Capital, e vai até o próximo final de semana.

Segundo Felipe Teixeira, secretário-geral da Rede Brasil de Afroempreendedores no RS (Reafro-RS), entidade organizadora da semana, as atividades marcam a luta contra o racismo, mas também o empoderamento do negro como empreendedor. “Não adianta dizer que não é racista, mas não abrir espaço no mercado de trabalho para pessoas negras. E não estou falando apenas de empregados domésticos, me refiro a empresários também”, cita. Ele lembra que os negros não costumam ser considerados empreendedores. “Para isso, precisa ter apoio financeiro de investimento e não temos acesso a crédito, além de apoio jurídico e de gestão, o que o povo negro também não tem dinheiro para pagar. Somos trabalhadores por conta e por necessidade”, explica Teixeira.

A semana tem apoio do coletivo Poa Inquieta, Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA) e da prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS). O titular da pasta, Léo Voigt, representou o prefeito Sebastião Melo na abertura do evento. “É muito recente a ideia de que a diferença é um direito, uma conquista da humanidade. E ela não pode ser tão grande que justifique injustiça e desigualdades”, referiu o secretário. Para Voigt, que falou a representantes de entidades e da sociedade civil, “se o negro está desvantagem, todos também estão”.

Reconhecido pelo trabalho com as culturas populares na Capital, o secretário-adjunto de Cultura, Clóvis André Silva da Silva, destacou que o momento é de atitude. “Não é um compromisso de direita, esquerda ou de centro na política: é de todos. Precisamos acordar e só vamos mudar as coisas com financiamento e oportunidade. O negro continua na sala de estar, nas portarias, como assistentes. Não podemos nos contentar com pouco”, afirmou. Silva diz que a comunidade negra precisa se enxergar nos espaços. “Sou o primeiro secretário-adjunto negro, titular nunca teve. Não queremos um feriado, queremos dignidade porque a população negra tem competência e capacidade”, reiterou.

Durante o dia, a programação envolveu atividades sobre consultorias profissionais, apresentação de programas de capacitação, debates sobre políticas públicas afirmativas e painéis sobre o potencial do afronegócio em Porto Alegre, além de apresentações culturais e a Feira Preta de expositores. O falecido poeta gaúcho Oliveira Silveira idealizou, em 1971, uma campanha que transformaria o dia 20 de novembro no Dia da Consciência Negra, em contraponto ao 13 de maio, questionando a legitimidade da data, considerada como dia da abolição da escravatura para o povo negro no Brasil.


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