Unidade da Prevent usa leitos improvisados, diz advogada

Unidade da Prevent usa leitos improvisados, diz advogada

Advogada de médicos que denunciaram a operadora de saúde recebeu relato e pediu que autoridades averiguem situação

R7

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Durante seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta terça-feira, a advogada Bruna Morato disse que clientes informaram que pacientes em cuidados paliativos são acomodados em leitos improvisados em uma unidade da Prevent Senior em São Paulo. A advogada relatou ter recebido mais de uma denúncia em relação à operadora de saúde sobre condições inadequadas.

Bruna disse ter recebido, por aplicativo de mensagens, a informação de que os médicos relataram que a unidade era um prédio comercial que foi convertido em hospital. O local não teria recebido o devido alvará para funcionamento como unidade de saúde. Os pacientes sob cuidados paliativos, aqueles que têm doenças graves que podem levar à morte e recebem cuidados integrais, estariam sendo encaminhados para o local, onde elevadores não têm capacidade de comportar macas e há leitos improvisados.

“Esse prédio comercial nem sequer tem em seus elevadores a possibilidade de comportar macas. Então, esses pacientes chegam a essa unidade e são colocados no elevador, muitas vezes sentados, e são encaminhados a leitos improvisados", afirmou a advogada.

Bruna Morato presta depoimento para esclarecer as denúncias feitas por um grupo de 12 médicos que se uniram para denunciar irregularidades nas unidades da Prevent Senior no tratamento da Covid-19. A operadora é alvo de relatos encaminhados à CPI por esses médicos, que reuniram as informações em um dossiê que, segundo a advogada, tem mais de 10 mil páginas de documentos.

Denúncias

Durante seu depoimento, que teve início na manhã desta terça, a advogada afirmou que seus clientes foram ameaçados e coagidos, além de ter relatado invasão em seu escritório após  apresentar as denúncias contra a Prevent Senior.

Bruna Morato também informou que a empresa adotou a disponibilização do chamado “kit Covid”, composto de medicamentos sem eficácia comprovada pela comunidade científica no combate à doença, como uma estratégia de redução de custos. Segundo ela, a empresa preferia entregar o kit, composto de remédios baratos como cloroquina e ivermectina, a internar pacientes.

"Era uma estratégia para redução de custos, uma vez que é muito mais barato para a operadora de saúde disponibilizar determinados medicamentos do que efetivamente fazer a internação daqueles pacientes que usariam aquele conjunto de medicamentos", afirmou. De acordo com ela, mensagens de texto encaminhadas à CPI "mostram que a Prevent Senior não tinha a quantidade de leitos necessários de UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e, por isso, orientava que fosse feito o tratamento precoce".

A representante dos médicos disse ter encaminhado à CPI mensagens de texto de integrantes da empresa que, segundo ela, "mostram que a Prevent Senior não tinha a quantidade de leitos necessários de UTI e que, por isso, orientava que fosse feito o tratamento precoce". A média de idade dos associados da operadora, segundo a advogada, é de 68 anos.

"É muito mais barato para a operadora disponibilizar determinados medicamentos do que fazer a internação", afirmou. De acordo com a advogada, ela ouviu relatos de que, em outras situações, após um período de internação de mais de 14 dias, pacientes eram submetidos a um protocolo de tratamento paliativo, que incluía a redução da oxigenação. Essa denúncia, no entanto, não consta no dossiê entregue à CPI e Morato disse ser preciso averiguar. "A expressão que eu ouvi ser muitas vezes utilizada é 'óbito também é alta'."

Base pede convocação de ex-médicos da Prevent 

Senadores da base governista que estão na CPI querem a convocação de médicos desligados da Prevent Senior para  averiguar a fala do diretor-executivo da Prevent, Pedro Batista Júnior, de que dois ex-funcionários estariam envolvidos nas acusações contra a operadora e teriam manipulado os dados. Bruna Morato afirmou na Comissão que as informações de clientes são verdadeiras. 

A acusação de alteração de informações foi feita na semana passada por Batista Júnior, que prestou depoimento à CPI. Segundo ele, dois médicos teriam roubado os dados após serem desligados e adulterado a planilha para prejudicar a Prevent Senior, a fim de "fabricar" denúncias contra a empresa.

O senador da base Marcos Rogério (DEM-RO) chegou a questionar a advogada se os dois médicos citados pelo diretor da Prevent faziam parte do rol de clientes, mas a informação não foi repassada por questões de sigilo profissional. "Para que não se crie nessa comissão a inovadora figura de testemunha por procuração, requeiro a convocação para que sejam ouvidos os médicos George Joppert Netto e Andressa Fernandes Joppert. E que, então, como testemunhas, falem diretamente a essa CPI sem intermediários", solicitou o governista. 

Segundo Marcos Rogério, essa seria a alternativa para apurar a versão narrada por Batista Júnior e aprofundar as investigações, uma vez que a advogada não personificou os denunciantes. 

Mesmo sem revelar a identidade dos clientes, a advogada afirmou ter certeza que os dados não foram modificados. "Eu fiz a verificação de forma unilateral, independentemente das informações a mim transferidas pelos meus clientes, dos óbitos para ver se eles realmente estavam dentro do cadastro nacional e verifiquei que de fato eles estão. Assim como verifiquei todas as informações que me foram trazidas. Então, eu tenho segurança em dizer que não houve manipulação", atestou a advogada, colocando os materiais à disposição da CPI para perícia.


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