UTIs em Porto Alegre vivem pior momento desde o início da pandemia

UTIs em Porto Alegre vivem pior momento desde o início da pandemia

Taxa de ocupação de leitos é de quase 85%

Jessica Hubler

UTIs estão com 85% da capacidade de ocupação em Porto Alegre

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A ocupação dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) adulto em Porto Alegre atingiu 84,79%. Dos 756 leitos operacionais, 641 estavam ocupados na tarde desta quarta-feira, sendo 270, ou 42,12% do total de internações, relacionados à Covid-19, entre eles 230 confirmados e 40 suspeitos. Os hospitais Clínicas, Conceição, Moinhos, Mãe de Deus, Ernesto e Cristo estavam perto da lotação completa, enquanto o Vila Nova apresentava lotação total. Com relação exclusivamente aos pacientes confirmados do novo coronavírus, a demanda cresceu 62% desde 1º de julho, subindo de 142 para 230.

Em uma transmissão virtual no final da tarde desta quarta, o prefeito Nelson Marchezan Júnior afirmou que a Prefeitura deve agendar uma reunião com os hospitais da Capital ainda nesta semana, justamente para tratar sobre a demanda por leitos de UTI. "O momento é de perigo de esgotamento das estruturas de atendimento, especialmente na área hospitalar", enfatizou. Marchezan reiterou que 36% dos leitos de UTI disponíveis na cidade estavam ocupados por uma única doença, no caso a Covid-19. "É um percentual elevado e continua crescendo essa demanda, o que nos deixa muito cautelosos e preocupados com as perspectivas dos próximos dias", declarou.

De acordo com o coordenador da Central de Regulação de Leitos de Leitos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Jorge Osório, as UTIs da Capital estão vivendo o pior momento desde o início da pandemia. “Não sabemos se não vai piorar ainda mais”, acrescentou. Conforme Osório, a Central de Regulação está observando uma escalada exponencial no aumento da ocupação dos leitos de UTIs. “Porto Alegre é um polo, então a partir do momento que a Região Metropolitana vai se esgotando também, a nossa demanda vai aumentando significativamente, seja por uma solicitação de transferência do interior, ou até mesmo o esgotamento de outras cidades”, afirmou.

Além disso, Osório disse que muitas pessoas acabam procurando diretamente as emergências da Capital. “Não são pedidos de transferência, mas a pessoa vai direto na emergência apresentando sintomas de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), por exemplo, e já interna, então estamos com uma curva de crescimento rápido”, enfatizou. Com as medidas de restrição implementadas e a abertura de novos leitos, Osório reiterou que a Prefeitura está tentando responder ao aumento dos casos e das internações. “Estamos aumentando a disponibilidade de leitos para que os pacientes não fiquem com acomodados nas emergências dos hospitais, estamos tentando expandir isso, mas há um limite. Não queremos ver os pacientes entubados nas emergências”, enfatizou.

Apesar das ampliações e das medidas mais restritivas, Osório destacou que as internações de pacientes com a Covid-19 estão próximas do segundo limite projetado pelo Plano de Contingência da SMS, 255. “Sabemos que podemos passar pouco de 300, mas já será com pacientes sendo entubados em salas de recuperação cirúrgica, em emergências, isso é a capacidade de respiradores na cidade, mas daí é paciente já fora de ambiente de UTI”, explicou. 

Alerta sobre colapso do sistema

Sobre a possibilidade de colapso do sistema, Osório comentou que, se o colapso atender pacientes da Covid-19 com uso de respiradores nas emergências, pode ser que nas próximas semanas isso aconteça. “Precisamos que a população volte a respeitar o distanciamento social, como ocorreu em abril. A gente que trabalha tentando dar acesso ao leito para os pacientes, vemos que a situação está preocupante”, alertou.

A última queda na demanda de pacientes com Covid-19 foi observada em maio. “Precisamos que pelo menos a gente passe alguns dias com um número estável e nem isso estamos tendo nos ultimos tempos, vamos dizer que as medidas de restrição estão funcionando quando for possível observar um número de internações igual ou menor pelo período de pelo menos sete dias”, reiterou.

A preocupação no momento, de acordo com Osório, é a subida rápida nas internações: “Até quando a resposta vai ser proporcional a esse crescimento, já que está sendo muito rápido nas últimas semanas?”, questionou, reforçando que o aumento observado vem sendo significativo.

Para exemplificar a preocupação com o cenário dos últimos sete dias, Osório explicou que as solicitações que chegam para a Central de Regulação, quando a demanda inicial do paciente já é de internação em UTI, apresentaram média móvel dos últimos sete dias em 17 solicitações por síndromes gripais ou doenças respiratórias. No mesmo período, a média de solicitações no geral foi 30, ou seja, a 56% da demanda estava relacionada a quadros gripais ou respiratórios. Em comparação com o mesmo período do ano passado, Osório ressaltou que a média geral em 2019 era de 17 solicitações para internações em UTIs, sendo cinco por síndromes gripais ou respiratórias, o equivalente a 29% do total. 

Ou seja, o total de solicitações com demanda por leitos de UTI de pacientes com síndromes gripais ou respiratórias, nos últimos sete dias, é igual à demanda geral do mesmo período do ano passado. “Esperamos que as medidas de distanciamento social possam começar a refletir nos próximos dias, mas mas realmente não temos observado um isolamento como ocorreu em abril e isso nos preocupa bastante, estamos com uma curva de crescimento rápido e não conhecemos o pico, não sabemos quando ela vai começar a cair”, afirmou. “Estamos tentando ajustar o tamanho das UTIs para caber essa demanda toda, mas a gente sabe que um dia vai encontrar um limite e é isso que nos preocupa muito.”.


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