Ameaças e apologia ao terrorismo proliferam na França após assassinato de professor

Ameaças e apologia ao terrorismo proliferam na França após assassinato de professor

Dias após decapitação de professor que mostrou cartuns de Maomé, grupo de pessoas é atacado em Nice

AFP

Mortes geraram onda de indignação na França

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Após a decapitação de um professor por ter mostrado cartuns de Maomé a seus alunos, atos de apologia ao terrorismo e ameaças proliferam na França, como um aluno de 12 anos que mostrou imagens macabras do professor e pessoas que justificam o assassinato.

O assassinato de Samuel Paty chocou a França, mas também gerou reações sinistras: de acordo com a France Info, cerca de 200 investigações foram abertas na última semana de outubro por apologia ao terrorismo, ameaças de morte, insultos ou incitamento ao ódio, em relação à decapitação deste professor nos arredores de Paris em 16 de outubro. "É uma explosão (de casos)! São muitas as ameaças a personalidades, como o Presidente da República, o primeiro-ministro, vários ministros, deputados, professores" indica uma fonte judicial. "Há alusões mais ou menos diretas às ameaças de decapitação", acrescenta.

No Ministério Público de Paris, que centraliza parte dos casos, foram lançadas cerca de 70 investigações por "apologia ao terrorismo" e "ameaças de morte ou violência" desde o assassinato do professor de História e Geografia de 47 anos. "Qualquer reclamação ou denúncia leva imediatamente à abertura de uma investigação", disse à AFP o promotor de Paris, Rémy Heitz. "Por trás desses casos estão diversos perfis, de pessoas radicalizadas, mas também com problemas mentais, ou que mandam mensagens sem medir a gravidade. Também temos jovens", afirma o procurador.

Após Charlie Hebdo

Já em 2015, foram relatados incidentes durante o minuto de silêncio às vítimas do atentado à revista satírica Charlie Hebdo. Na segunda-feira, na homenagem que foi feita nas escolas ao professor assassinado, ocorreram "cerca de 400 violações do minuto de silêncio [...]", segundo o ministro da Educação Nacional, Jean-Michel Blanquer.

"Cada violação é punida com medidas disciplinares. Às vezes, até com consequências criminais", afirmou o ministro. Alguns alunos assobiaram durante a homenagem, outros riram, de acordo com a promotoria de Evry, embora esse tipo de comportamento não constitua crime.

Em Paris, uma estudante de 15 anos foi indiciada por "apologia ao terrorismo" após criticar o professor assassinado. Em uma escola secundária em Caluire-et-Cuire (leste), um estudante de 15 anos ameaçou seu professor de "cortar sua cabeça".

Em Gisors (oeste), uma menina de 12 anos mostrou a seus colegas uma foto da cabeça decapitada do professor Paty. Um total de 14 acusações ocorreram na segunda e terça-feira contra menores por "apologia ao terrorismo" em escolas, segundo fontes judiciais.

Em Albertville (leste), a prisão em casa de quatro alunos do ensino fundamental, suspeitos de apologia ao terrorismo, foi denunciada pela comunidade turca. Esses alunos, três meninos e uma menina de 10 anos, são acusados de terem proferido palavras "violentas" durante o tributo a Paty na segunda-feira. "Disseram que o terrorista se saiu bem", segundo o promotor de Chambéry, Pierre-Yves Michau, entrevistado neste sábado pela AFP. Nas redes sociais, a comunidade turca na França criticou duramente o caso, o que levou à "retenção judicial" das crianças por um dia inteiro.

Em nota enviada aos procuradores-gerais no dia seguinte ao atentado, o Ministro da Justiça francês pediu a máxima firmeza diante de comportamentos que incitam ao ódio ou incentivam a prática de crimes ou delitos. Casos semelhantes ocorreram na vizinha Alemanha.

Em Berlim, onde Samuel Paty foi homenageado na segunda-feira, a imprensa noticiou incidentes em algumas escolas. De acordo com o Tagesspiegel, um aluno da escola Gustav-Freytag, se passando por muçulmano, afirmou que o professor de francês "recebeu o que merecia". O porta-voz de um sindicato de professores do GEW disse ao Tagesspiegel que sua organização recebeu alguns telefonemas de professores preocupados que algo semelhante a Samuel Paty pudesse acontecer com eles.


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